Em condições ideais, nas culturas de grãos, as plantas se manteriam totalmente erguidas até a maturação, para permitir que a colheita se execute com um mínimo de esforço e perdas. Infelizmente, amiúde os agricultores de todo o mundo se deparam com a necessidade de levantar suas culturas caídas (acamadas), com todas as dificuldades que isso representa.
Agora, mais do que nunca, os produtores precisam elevar seus ganhos ao máximo e, por isso, devem levar a sério a ameaça do acamamento. As estatísticas da Inglaterra, por exemplo, onde ampla pesquisa a respeito foi realizada, indicam que em um ano de tombamento se pode perder em média 2,5 toneladas de grão por hectare em porção significativa da área cerealista. Certas experiências comprovaram que as perdas podem alcançar 4 ton/ha, segundo a etapa de desenvolvimento que a cultura alcançou no momento de tombar. Isso sucede exatamente quando a cultura está florescendo ou começa o enchimento dos grãos. Mesmo em um ano bom, de pouco tombamento, os produtores sofrem perdas capazes de afetar o balanço financeiro das suas operações.
As estatísticas inglesas mostram que um mau ano no país traz consigo perdas diretas de US$ 60 milhões em queda de grãos e outros US$ 60 milhões devido à redução da qualidade do grão obtido pela contaminação com terra ou podridão ou, ainda, pela germinação espontânea nas espigas. A isto ainda se acrescenta o custo da colheita mais lenta e ineficiente, que às vezes demanda o dobro do tempo necessário a uma ação em condições normais. E não nos esqueçamos do custo maior de secagem e o desgaste adicional das máquinas. Se o cálculo for estendido ao mundo inteiro chegaremos a cifras realmente descomunais.
Na Europa, registrou-se acamamento de cereais a cada quatro anos. Em 1992, um ano ruim, observações aéreas mostraram que em média de 15% a 17% da área de trigo se acamou. O estudo mostrou que em certas propriedades o acamamento chegava a 30%. Agora, a freqüência do tombamento parece estar crescendo, já que em 1997 e nos dois anos seguintes se notou acamamento em quantidades importantes.
A moral é clara: os agricultores britânicos e seus colegas de todo o mundo precisam tomar medidas para evitar e controlar o processo. Mais adiante vamos examinar maneiras de identificar as situações de risco iminente que precedem o dano. Antes, porém, estudemos os antecedentes do tombamento e as duas condições principais em que pode ocorrer.
Tombamento radicular – Esse tipo ocorre quando o peso dos ramos fora da direção vertical é suficiente para vencer a sujeição das raízes ao solo, arrancando a planta da raiz. A fixação das raízes originadas na coroa depende de seu número, profundidade e extensão no solo.
Tombamento do caule – A situação ocorre quando as forças de alavanca que atuam sobre o caule fazem com que ele se dobre. O caule (palha) de um cereal é como um tubo e sua capacidade para permanecer em posição vertical é determinada por seu diâmetro, espessura das paredes e a resistência de seu material.
O tombamento radicular tende a ocorrer no início da temporada, enquanto o dobramento do caule se dá mais tarde, quando começa a maturação.
Uma série de fatores agronômicos contribui para o tombamento, tais como: o tipo e a estrutura do solo; densidade de semeadura e população; profundidade de semeadura; dosagem de nitrogênio; e fertilidade geral do solo. Vale recordar que a variedade da planta pode desempenhar um papel importante no tombamento, aumentando-o ou reduzindo-o, segundo suas características.
Vejamos agora os vários fatores e as situações capazes de precipitar a diferença entre uma cultura erguida e pronta para a colheita e outra que está caída.
Ao considerar o efeito do tipo e estrutura do solo, tomemos em conta que as raízes estruturais produzidas pela coroa da gramínea encerram um cone de solo. A fricção deste cone com o solo que o circunda permite que a planta se mantenha erguida. Se chover muito, o solo estará menos firme. Já que os solos leves são mais fracos, serão afetados por uma quantidade menor de chuva, mas as áreas argilosas são mais resistentes e causarão menos tombamento do que os solos arenosos.
Não se pode deixar de examinar o papel da chuva, fator chave em muitas regiões. Torna-se ainda mais crítico nas áreas que recebem chuvas copiosas acompanhadas de ventos fortes e/ou de granizo. Não devemos nos surpreender com provas, desenhadas para determinar a força necessária para arrancar uma planta sob condições normais, que tenham mostrado que esta força se reduz à metade em solo saturado. Além disso, a chuva aumenta em 20% o peso das partes aéreas da planta, colocando mais tensão sobre as raízes. E, para aumentar o problema, os modelos computadorizados mostram que neste caso o peso de toda a planta deposita o esforço sobre somente duas ou três raízes.
É óbvio que o agricultor não possui grandes opções sobre o tipo e a estrutura do solo, mas pode alterar a densidade de semeadura e a população da lavoura.
Semeando uma quantidade maior do que a recomendada, aumenta-se o risco de tombamento. A aglomeração das plantas, resultante do excesso de sementes, causa tombamento radicular, pois não lhes permite desenvolver um sistema radicular amplo. Experiências mostram que é possível reduzir a população de plantas sem afetar o rendimento final, porém reduzindo o acamamento. Em uma delas, reduzindo a população de 350 para 100 por metro quadrado, uma variedade mostrou um incremento em seis vezes da fixação radicular.
Assim como a semeadura excessivamente densa, a semeadura precoce também incrementa o acamamento. Isto ocorre de duas maneiras: primeiro, a semeadura precoce significa maior tempo entre a germinação e a produção do grão, o que aumenta a distância dos entrenós e o número de folhas, proporcionando, às vezes, mais altura à planta. Sabemos que as culturas altas exercem um esforço de alavanca maior sobre as raízes, aumentando o risco de tombamento. Em segundo lugar, as culturas semeadas cedo produzem mais brotação na coroa por unidade de superfície, quando começa a engrossar o talo. Como resultado disso, menos luz penetra por entre a folhagem e as plantas se estiram, buscando luminosidade. Produz-se talos mais compridos, finos e débeis.
Examinemos agora a influência do nitrogênio e da fertilidade geral do solo. Os níveis elevados de nitrogênio residual (ou de nitrogênio aplicado antes de que o talo comece a se alongar) promovem uma folhagem densa e reduzem a quantidade de luz que chega às partes baixas. Os entrenós inferiores se tornam compridos e débeis, trazendo as inevitáveis conseqüências. Especialistas aconselham esperar até que os talos comecem a se estender para aplicar nitrogênio em uma cultura densa. O emprego de reguladores de crescimento pode combater o efeito dos entrenós inferiores frágeis.
Enquanto isso, vale a pena considerar o histórico da variedade em relação ao tombamento. É um fato a existência de diferenças entre as variedades, com algumas delas suscetíveis ao tombamento radicular, pois enraízam com deficiência, enquanto outras possuem talos débeis e acamam por isso. E algumas variedades podem apresentar uma catastrófica combinação das duas tendências.
Uma universidade inglesa realizou experiências para analisar as características das raízes e dos talos de muitas variedades e determinar se as causas do tombamento estavam nelas. Descobriu-se que, em geral, as variedades de trigo tendem a formar melhores sistemas radiculares e talos mais fortes do que as variedades de cevada. Esta última tem talos mais altos e flexíveis, o que a torna mais suscetível ao acamamento radicular e do caule. As experiências, patrocinadas por uma indústria de agroquímicos, também mostraram que as distintas variedades diferiam na forma de tombamento e em sua resposta aos reguladores de crescimento. Graças a esse trabalho, o desenvolvimento dos reguladores de crescimento permitirá aos produtores obterem resultados mais econômicos e eficazes.
Uma das formas mais eficientes de tratar o problema de debilidade varietal é o emprego de um regulador de boa qualidade. O objetivo é reduzir a estrutura da planta, incrementar a resistência do talo e melhorar a fixação das raízes. Resultados positivos foram obtidos com um produto capaz de bloquear a síntese do ácido giberélico, o fito-hormônio, responsável pelo alongamento dos entrenós e com efeitos benéficos sobre a raiz, causados pelas mudanças no equilíbrio entre o ácido giberélico e a auxina, outro fito-hormônio.
Experiências detalhadas mostraram que o uso de reguladores com esta propriedade permite aos produtores agrícolas projetar seus programas de aplicação de forma exata, considerando as deficiências conhecidas das variedades mais usadas comercialmente. Não obstante, sempre há agricultores que preferem planos diferentes e, para esses, existem programas básicos recomendados, aplicáveis a todas as variedades.
É digno de menção o fato de que, experimentalmente, o regulador aumenta o rendimento do cereal, mesmo sem necessidade de controlar o acamamento. Além disso, quase sempre produz melhoria na produção de raízes, regulagem dos brotos da coroa e um incremento em espigas homogêneas. A chave está em prevenir em vez de procurar remediar. No pior dos casos, um regulador bem aplicado deverá cobrir seus custos e, na maioria das vezes, produzir lucros que podem variar de modestos, em um ano de tombamento moderado, até substanciais, nos anos de tombamento realmente acentuado.
Entrelaçado com o tombamento nos cereais aparece outro fator de preocupação: a incidência de doenças da base e do talo, que reduzem a integridade do caule e causam o acamamento. Na realidade, hoje se sabe muito sobre as causas do tombamento dos cereais. Pesquisou-se em detalhes os pontos fortes e fracos das diferentes cultivares, de modo que os fitopatologistas já se aproximam da criação de um sistema de prognóstico, com o qual será possível identificar as lavouras que correm maior risco e adotar medidas preventivas no momento certo.
No passado, era possível compensar com bons preços as perdas causadas pelo tombamento, mas hoje existem enormes pressões que mantêm baixos os preços dos grãos, de modo que a prevenção e o controle do tombamento se tornam mais importantes. O agricultor que não se preparar corre imensos riscos.
Agricultura de las Americas
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