Manejo da praga subterrânea coró na cultura da soja

Corós são um dos grupos de pragas de solo mais diversos e bem-distribuídos nas áreas agrícolas brasileiras. Causam injúrias às sementes, plântulas e raízes das plantas

29.11.2016 | 21:59 (UTC -3)

Coró é a forma larval dos insetos da família Melolonthidae (subfamílias Rutelinae, Dynastinae e Melolonthinae). São nativos do Brasil e apresentam ampla distribuição nas áreas agrícolas. Há registros de mais de mil espécies no País, das quais perto de dez são consideradas pragas. Dentre elas, estão: Diloboderus abderus, Phyllophaga capillata, Phyllophaga cuyabana, Phyllophaga triticophaga, Liogenys fusca, Liogenys suturalis, Demodema brevitarsis, Paranomala testaceipennis, Cyclocephala forsteri e Plectris pexa. Entre os técnicos e produtores é muito rara a habilidade de distinguir estas espécies das benéficas. Mesmo havendo poucas espécies com importância econômica, são responsáveis por danos significativos às culturas e por determinarem o uso de medidas químicas de controle.

No Brasil, a importância dos corós-praga tende a se acentuar, com o crescimento da agricultura, que avança sobre áreas não cultivadas ou de pastagens naturais e melhoradas. Normalmente, estas áreas têm o solo pouco mobilizado e, portanto, um reservatório mais diverso de espécies. Embora em equilíbrio populacional, quando semeadas com culturas, as plantas destas áreas expressam sua suscetibilidade aos corós. Sob plantio direto este ambiente protege as populações de corós, que passam a exigir a adoção do controle químico. O controle químico deste grupo de pragas, não tem apresentado quase nenhuma inovação, seja nas formas de aplicação (no sulco ou tratamento de sementes), novas formulações, misturas inovadoras e/ou sinérgicas, ou mesmo de novas moléculas. Neste cenário, resta melhorar o que já é conhecido sobre taxonomia e distribuição das espécies, bioecologia e comportamento dos corós, com o objetivo de qualificar o manejo com níveis de controle adequados, atualizados e flexíveis.

Como amostrar

A amostragem do solo é a única forma segura e prática de confirmar a espécie de coró, a fase que se encontra e a sua distribuição e densidade populacional nas áreas agrícolas, além do seu potencial de dano. Há na literatura indicações do número de amostras adequado aos estudos da distribuição destas espécies e a maior parte das recomendações indica o uso de trincheiras de aproximadamente 20cm da largura x 50cm de comprimento x 20cm a 30cm de profundidade para cada amostra. Nestas amostragens, os pontos (trincheiras) devem estar o mais distante possível, entre si, sem que se perca a precisão amostral. A eficácia do método de amostragem é indicada pela correta localização das reboleiras de ocorrência da praga (zonas de maior densidade de corós). No futuro, com base em mapas de distribuição (densidade das espécies), elaborados com o uso da geoestatística e levando em consideração a dependência espacial e os semivariogramas, será possível fazer mapas de manejo e planejar zonas de manejo dessas pragas, pois o conhecimento sobre a distribuição espacial é parte fundamental na elaboração de programas de manejo de corós.

Mapa da distribuição espacial de larvas de Phyllophaga triticophaga em lavoura de aveia. Coxilha (a) e Salto do Jacuí (b), Rio Grande do Sul, 2010 e 2012

Níveis de dano econômico e de controle

Uma vez determinada a espécie e estimadas a densidade e a distribuição populacional, o passo seguinte é a tomada de decisão, com base nos níveis de dano econômico (NDE) e níveis de controle (NC), no entanto, os trabalhos que embasam o seu cálculo e estimam o NC de corós em culturas de interesse agrícola ainda são raros. O nível de dano econômico (NDE) refere-se à densidade populacional de um inseto que causa perda econômica igual ao custo de controle. Já o nível de controle (NC) é a densidade populacional em que as medidas de controle devem ser adotadas, para evitar um aumento da população da praga que poderá alcançar o nível de dano econômico.

Quando se relaciona esses conceitos ao controle de corós-praga os resultados publicados são muito restritos; Silva (1995) verificou para Diloboderus abderus o nível de controle de 5,4 larvas/m² para trigo, em condições de plantio direto no Rio Grande do Sul. Para a mesma espécie o nível de controle é de 0,5 larva/m² em milho, 12 larvas/m² em linho, 10 larvas/m² em aveia preta e 0,4 larvas/m² em girassol (Silva; Costa, 2002). Salvadori & Pereira (2006) afirmam que densidades populacionais acima de 25 corós-pragas/m² causam danos severos em trigo e aveia, com reduções no rendimento de grãos, superiores a 50%. Os dados destes raros trabalhos que quantificam os danos de corós em culturas graníferas permitem a realização do cálculo do NDE e a estimativa do NC.

Objetivamente, NDE e NC devem ser calculados com base em valores locais, não sendo predeterminados e fixos. O NDE é um valor complexo que depende da estimativa de alguns parâmetros, entre eles: o Custo da tática de controle/unidade de produção (C), o Valor da produção (V), o Dano por unidade de injúria (D) e em alguns casos a Eficiência de controle da tática aplicada (K). A questão-chave é 'x' número de corós causam quanto dano? E esse dano é significativo? Essa informação é a base para as estimativas e para a tomada de decisão (NC). Assim, o valor do NDE para as espécies-praga de corós não deve ser fixo ou estático, mas sim dinâmico, ajustando-se principalmente conforme (1) a cultura; (2) a variação no valor da produção e (3) o custo de controle. Entretanto, atualmente se utilizam os valores de NDE definidos no passado e em outra situação, sob uma realidade completamente distinta do cenário que hoje se encontram as principais culturas agrícolas.

Entre as diferenças, pode-se listar como mais importantes a variação dos valores relativos ao resultado da produção, por exemplo, da cultura da soja (valor da soja x produtividade). Também se alterou o custo dos tratamentos (inseticidas), hoje reduzidos sensivelmente. Estes dois componentes isoladamente alteraram, para menos o NC, ou seja, o número de corós por unidade de área em que se deve realizar o controle. Portanto, o NC para corós-praga de culturas graníferas, recalculado, vai ter valores menores determinando medidas de controle em níveis populacionais inferiores aos atualmente consolidados.

Manejo integrado

O manejo de corós em grandes culturas deve considerar a associação de estratégias de controle, buscando o Manejo Integrado, ou seja, um MIP Corós-praga – Culturas graníferas. A base deste conceito deve partir da correta e rápida identificação das espécies-praga e não pragas. Devem ser considerados, também, a biologia, a ecologia e o comportamento das espécies, apoiando as decisões de manejo e aumentando a sua eficácia. Por sua vez, a amostragem e o monitoramento das populações de corós-praga são fundamentais, já que as larvas apresentam baixa mobilidade e, portanto, há uma previsibilidade espaço-temporal e sazonalidade na sua ocorrência, sincronizada aos cultivos.

A tomada de decisão de controle deve obedecer aos níveis recalculados para os atuais parâmetros de mercado e como se tem conhecimento, o controle químico é a forma disponível mais eficaz de controle dos corós, especialmente via o tratamento de sementes. Há no Brasil uma pequena lista de inseticidas disponíveis para o controle de corós e uma severa variação de sua eficiência para as distintas espécies de corós. Estes estudos são ainda indisponíveis, ficando somente a experiência de pesquisadores e produtores mais atentos a estas variações.

O futuro do MIP Corós-praga deve ir além e inovar, incorporando tecnologias já disponíveis e utilizadas em outras áreas da agricultura e da ciência, como: chaves virtuais de identificação de corós (disponíveis via internet), mapeamento georreferenciado de espécies e da densidade populacional, integração de geotecnologias (GPS e SIG), programas (softwares) de apoio à tomada de decisão no manejo, uso de imagens obtidas por satélites e/ou obtidas pela utilização de veículos aéreos não tripulados (Vants ou drones) para o registro dos danos de corós, “leitura" e utilização destes dados, para a criação de mapas com zonas de manejo. Também é necessário desenvolver semeadoras e equipamentos de pulverização, capazes de “ler" e de aplicar os tratamentos considerando a heterogeneidade da distribuição e a densidade dos corós. No campo do controle, propriamente dito, é necessário o desenvolvimento de produtos biológicos de controle (especialmente à base de bactérias, fungos e nematoides), indispensáveis para ampliar as formas de controle. Também é necessário o desenvolvimento de novas moléculas químicas e o aperfeiçoamento das suas formulações, que possam ser aplicadas às sementes com eficácia e segurança, além da modificação de plantas para a resistência aos corós, que é outra possibilidade entre as formas de manejo.

Clique aqui para ler o artigo completa na edição 174 da Cultivar Grandes Culturas.

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