Ainda que existam grandes plantios de abacaxi no mundo, utilizando
tecnologia avançada, essa cultura é explorada, na maioria dos casos,
por pequenos e médios agricultores. Esse fato, de certo modo, dificulta
a introdução e adoção de novas técnicas de cultivo desenvolvidas pela
pesquisa, sobretudo naquelas regiões onde a abacaxicultura não tem o
devido amparo da assistência técnica e creditícia, nem a garantia de
comercialização. Por isso mesmo, o agricultor enfrenta um maior risco
no seu empreendimento e investimento, o que torna a consorciação de
culturas altamente recomendável.
A cultura do abacaxi apresenta alta rentabilidade econômica, apesar de
requerer tratos culturais intensivos, o que encarece o custo de
produção, além de que os mercados de destino desse fruto exigem
produtos de alta qualidade. Assim, para se alcançar um rendimento
satisfatório, são necessários altos investimentos, o que os
abacaxicultores em geral não podem fazer, a não ser que sejam
assistidos por cooperativas ou associações de classe.
Por esses motivos, em várias regiões produtoras de abacaxi do mundo, os
agricultores têm procurado minimizar os riscos decorrentes da sua
exploração, adotando o cultivo consorciado, especialmente com culturas
alimentares de ciclo curto. Acredita-se que tal sistema de cultivo,
além de não causar maiores problemas às culturas consorciadas, é
altamente benéfico do ponto de vista sócio-econômico para o agricultor,
que tem sua renda aumentada e qualidade de vida melhorada.
No Brasil, o consórcio de abacaxi com outras culturas, sobretudo
aquelas de subsistência (feijões Phaseolus e Vigna, mandioca, milho,
arroz, amendoim) é praticado por pequenos agricultores de várias
regiões. Em outros países, são exploradas, ainda, quiabo, pimenta,
pimentão, tomate, repolho, couve, batata-doce, girassol e outras. Em
geral, as culturas consorciadas são colhidas apenas uma vez e abrangem
a fase inicial do ciclo da cultura do abacaxi, à exceção da mandioca,
cujo ciclo é mais longo. Todas essas culturas são plantadas nas
entrelinhas do abacaxizeiro – em espaçamentos compatíveis com os da
cultura principal, e na mesma época ou até 30 dias após. Dessa forma
evita-se a competição que certamente ocorrerá após cinco a seis meses
do plantio, decorrente da expansão do sistema radicular, aumento da
massa foliar e crescimento mais rápido da planta consorciada. Nesses
casos, há uma melhoria na relação custo/benefício, com redução do custo
de produção, em função do uso comum de alguns insumos, e o abacaxizeiro
ainda pode proteger as culturas consorciadas contra o vento, chuvas
fortes e radiação solar.
Além da consorciação com as culturas alimentares mencionadas, onde o
abacaxizeiro é a cultura principal, esse tipo de exploração é também
possível com outras plantas – arbustivas e arbóreas, de ciclo longo ou
perenes –, quando o abacaxi passa a ser a cultura secundária. Como
exemplos dessas culturas citam-se: abacate, caju, citros, coco, manga,
mamão e pinha. Nesse caso, ambas as culturas devem ser plantadas na
mesma época, deixando-se uma distância de 1,0 m a 1,5 m entre as filas
do abacaxizeiro e as da planta principal. Poder-se-á, assim, obter até
três safras de abacaxi na mesma área, o que contribui para reduzir e
cobrir os custos de implantação da cultura principal, ou ainda permitir
a obtenção de uma renda extra.
Antes de se adotar plantios consorciados, que têm se mostrado mais
apropriados para os agricultores familiares e pequenos, deve-se fazer
uma avaliação sobre os ganhos econômicos que o sistema pode
proporcionar para esses produtores. Além disso, alguns aspectos devem
ser levados em conta quando da escolha das culturas consorciadas, pois
pode ocorrer alguma combinação não recomendável, sobretudo do ponto de
vista fitossanitário. A cultura do milho, por exemplo, é hospedeira do
fungo Fusarium subglutinans – causador da fusariose e de nematóides.
Por esse fato seu consórcio é recomendado com restrições, devendo-se
adotar algumas medidas que diminuam os riscos de infecção e perdas,
como o plantio em linhas alternadas, o que reduz a densidade da
referida cultura na área. Em alguns locais sugere-se o plantio de uma
fila de milho para cinco ou seis de abacaxi. Ademais, algumas plantas
podem ter um efeito depressivo no crescimento, nutrição e rendimento do
abacaxizeiro, principalmente se o ciclo das mesmas alcançar a fase de
diferenciação floral, em função da competição por fatores de produção.
Nesse caso, uma das alternativas é plantar uma fila da cultura
consorciada para duas de abacaxi, conforme recomendado para feijão,
amendoim e girassol.
Em geral, quando o abacaxizeiro é a cultura principal, o consórcio deve
restringir-se aos primeiros seis meses do ciclo da cultura, e não se
deve empregar plantas que sombreiem demasiadamente o abacaxizeiro, nem
herbicidas para o controle de plantas infestantes. Entretanto, em
regiões onde o abacaxi apresenta um crescimento vegetativo mais lento
e, portanto, um ciclo mais longo, algumas culturas consorciadas podem
ser cultivadas mais de uma vez, a exemplo dos feijões.
As vantagens da consorciação de culturas com relação ao monocultivo são
indiscutíveis, no tocante ao melhor uso dos fatores de produção, maior
produção total por área, uso de mão-de-obra familiar, controle da
erosão, diversificação da dieta alimentar e da fonte de renda, bem como
à redução dos riscos inerentes à atividade agrícola.
Manter a lavoura livre de plantas daninhas, sobretudo durante os
primeiros seis meses após o plantio. O controle do mato pode ser feito
por meio de capinas manuais (enxada), cultivos à tração animal (salvo
em solos virgens, de primeiro plantio, para evitar prejudicar a sua
estrutura), uso de cobertura morta ("malche”) e de herbicidas.
Atualmente, está se recomendando também apenas a roçagem do mato, para
evitar a erosão e melhorar a conservação do solo.
A depender da intensidade de infestação por plantas daninhas, são
necessárias de seis a 12 capinas manuais durante o primeiro ciclo da
cultura. Cultivos à tração animal nas entrelinhas podem ser feitos
durante os primeiros meses após o plantio do abacaxi, sendo
complementados por capinas manuais nas linhas de plantio. Durante as
capinas manuais, e logo após as adubações, deve se chegar terra às
plantas (amontoa) – prática indispensável para a região do semi-árido,
evitando se, porém, que caia terra no centro da roseta foliar ou ‘olho’
da planta. Após a frutificação pode-se reduzir a freqüência das
capinas, que muitas vezes podem ser substituídas por roçagens para o
raleamento do mato.
Desde que esteja disponível na propriedade ou na região, a palha seca
de diversos produtos (milho, feijão, etc.), ou os restos culturais
(folhas) do próprio abacaxizeiro podem ser distribuídos de modo
uniforme sobre a superfície do solo, sobretudo nas entrelinhas de
plantio. Esta cobertura morta, além de reduzir o aparecimento de
plantas daninhas, limita a erosão, diminui a perda de nutrientes por
lixiviação, aumenta o teor de matéria orgânica e conserva a umidade do
solo e, portanto, o próprio solo.
O uso de herbicidas permite a redução do uso de mão de obra e é um
método de controle do mato mais eficiente que a capina manual, em
especial durante os períodos chuvosos, quando o mato cresce muito
rápido. Em geral, os herbicidas são mais usados pelos produtores que
exploram áreas maiores (acima de três hectares). Os herbicidas
disponíveis para a cultura do abacaxi são, na maioria, do tipo
pré-emergente (em relação ao mato), cujas substâncias ativas são
triazinas e diuron, e pertencem à classe toxicológica III. Eles devem
ser aplicados sobre o solo úmido, sendo, portanto, de uso restrito a
períodos chuvosos. Nas áreas cobertas com estes herbicidas não se pode
cultivar feijão e outras culturas sensíveis, o que se constitui numa
das limitações para o uso destes produtos pelos pequenos produtores. Se
o produtor optar pelo uso de herbicidas para controlar o mato, ele deve
procurar orientação técnica adequada, pois aplicações inapropriadas
podem resultar em danos às plantas cultivadas e ao solo. Além do mais,
só devem ser usados produtos registrados no Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento para a cultura do abacaxi.
Gramocil deve ser aplicado em pós-emergência com jato dirigido ao mato,
enquanto os demais herbicidas são aplicados em pré emergência do mato,
isso é, em solo limpo, sempre em pulverização uniforme sobre o solo
úmido, ou, no mais tardar, em pós emergência precoce ou fase inicial de
crescimento do mato, utilizando se de 300 a 600 litros de água por
hectare. Usar bicos em leque (por exemplo, Teejet 80.02 a 80.04),
mantidos a 30 50 cm acima do solo. Recomenda se adicionar um espalhante
adesivo (10 mililitros por litro de água) na pulverização em
pós-emergência. Atualmente, está se recomendando também diminuir ao
máximo o uso de herbicidas pré-emergentes.
Usar as concentrações baixas em solos arenosos e as mais altas em solos
argilosos ou com alto teor de matéria orgânica. Quando as aplicações se
restringem às entrelinhas, as doses têm que ser reduzidas
proporcionalmente à diminuição da área coberta pelo herbicida (em
geral, cerca de 50% da área total).
Mesmo que se use o controle químico do mato, capinas manuais
complementares são necessárias, com vistas a limpar o solo para as
aplicações de herbicida, cobrir os adubos aplicados e fazer a amontoa
(chegar terra para junto das plantas), conforme comentado anteriormente.
e
Pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
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