Inadimplência no crédito rural é impactada por preço de cereais e fertilizantes
Por Cristiano Oliveira, Head of Research na Rivool Finance
O Brasil tem longa tradição de pesquisa, desenvolvimento industrial e legislação de inoculantes contendo microrganismos para uso na agricultura. Essa tradição teve início e consolidou-se com os rizóbios, que são bactérias capazes de realizar o processo de fixação biológica do nitrogênio em simbiose com leguminosas. Os rizóbios são capazes de aportar todo o nitrogênio requerido para a obtenção de altos rendimentos no caso de grãos, biomassa no caso de forrageiras, enriquecimento do solo em nitrogênio no caso de adubos verdes e crescimento no caso de arbóreas. Mais de 70 anos de pesquisas selecionando estirpes elite de rizóbios, para mais de 100 leguminosas de importância econômica e ambiental no Brasil, resultaram em estirpes de livre acesso aos agricultores e aplicáveis a diversas culturas.
Não há dúvidas de que o caso de maior sucesso de uso de inoculantes entre os agricultores brasileiros é o da cultura da soja. O Brasil ocupa posição de liderança mundial em taxas de fixação do nitrogênio na cultura, resultado da seleção de estirpes adaptadas às condições edafoclimáticas e genótipos brasileiros, do progresso industrial no desenvolvimento de formulações de inoculantes, da legislação definindo padrões mínimos de qualidade que garantam o bom desempenho, do trabalho de orientação da extensão rural e do agricultor que adota a prática de inoculação. A taxa de adoção de inoculantes na cultura da soja no Brasil é a mais elevada do mundo - 80% de toda a área cultivada - e a inoculação anual é praticada mesmo em “áreas velhas”, garantindo incrementos médios no rendimento de grãos da ordem de 8%.
Mas os agricultores não cultivam só soja. As condições climáticas favoráveis do nosso país permitem dois ou até três cultivos anuais. Consequentemente, aumentou a demanda por microrganismos para outros cultivos. Estudos com milho e trigo, conduzidos pela Embrapa Soja, levaram à identificação de estirpes de Azospirillum brasilense que resultavam em incrementos de produtividade nesses dois cereais. No trabalho de seleção, duas estirpes se destacaram, a Ab-V5 (=CNPSo 2083), com maior capacidade de fixação biológica do nitrogênio e a Ab-V6 (=CNPSo 2084), identificada como alta produtora do fitormônio ácido indol acético (AIA), que estimula o crescimento das raízes (vide imagem abaixo). Cabe comentar que a capacidade de fixação biológica de nitrogênio de Azospirillum não se equipara à dos rizóbios, podendo suprir apenas 10 a 25% das demandas dos cereais, mas essa contribuição é relevante para o sistema de produção.
O primeiro inoculante comercial com A. brasilense foi lançado em 2009 e, atualmente, são comercializadas mais de 10 milhões de doses anuais, superando todas as expectativas. Após uma década de estudos, a análise de resultados de 103 ensaios de campo, conduzidos em 54 locais no Brasil por diversas instituições de ensino e pesquisa, confirmou benefícios da inoculação com A. brasilense no milho, com incremento médio no rendimento de grãos de 5,4% e, muito importante, de 12,1% na massa de raízes. Maior crescimento das raízes implica em maior capacidade de absorção de água e nutrientes, incluindo melhor aproveitamento dos fertilizantes químicos.
Mas o agricultor perguntava, com frequência, se com a combinação dos processos de fixação biológica do nitrogênio e o maior crescimento das raízes seria possível reduzir a adubação nitrogenada do milho. Para responder a essa pergunta, a Embrapa Soja conduziu 30 ensaios de campo, por dez anos, em 13 locais nas Regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. Sempre foi fornecida uma adubação, de 300 kg/ha de N-P-K (08-20-20) comum a todos os tratamentos no sulco de semeadura, portanto, 24 kg/ha de N na adubação de base. As sementes foram inoculadas, ou não, com as estirpes Ab-V5 e Ab-V6 de A. brasilense e as plantas receberam adubação de cobertura com 0%, 50%, 75% e 100% da dose de 90 kg/ha, aproximadamente aos 35 dias após a emergência.
Os resultados obtidos nessa série de 30 ensaios confirmaram incrementos de produtividade pela inoculação com A. brasilense em todas as condições estudadas, incluindo condições tropicais e subtropicais, solos arenosos e argilosos, com maiores ou menores teores de matéria orgânica, em diferentes níveis de produtividade. Destaque especial veio pela constatação da ausência de diferença estatística entre os rendimentos das plantas não inoculadas e com 100% do nitrogênio em cobertura e os rendimentos das plantas inoculadas com 75% do nitrogênio em cobertura (vide imagem abaixo).
Desse modo, foi possível lançar a tecnologia que permite reduzir em 25% a adubação nitrogenada de cobertura do milho pela inoculação com as estirpes Ab-V5 e Ab-V6 de A. brasilense (Quadro 1). Além de propiciar redução na adubação nitrogenada de cobertura, a inoculação permitiu um incremento médio de 3,1% no rendimento dos grãos.
Na busca por uma agricultura mais sustentável, deve-se considerar, ainda, que a inoculação permite redução importante na emissão de gases de efeito estufa, estimada em 236 kg de equivalentes de CO2 por hectare. É, portanto, uma tecnologia rentável e sustentável, que pode ser aplicada em todas as regiões produtoras do país.
A tecnologia está amplamente respaldada por dados científicos e livremente disponível para consultas na forma de artigo científico (doi.org/10.1002/agj2.21150), comunicado técnico, folder e palestra de lançamento (www.youtube.com/watch?v=2LhQ6Yrxm_s&t=24s).
Contudo, para assegurar os benefícios a serem obtidos pela inoculação da soja, do milho, ou de outras culturas, com quaisquer microrganismos recomendados pela pesquisa, é essencial seguir as boas práticas de inoculação (Quadro 2).
Por Mariangela Hungria e Marco Antonio Nogueira, Embrapa Soja
Artigo publicado na edição 286 da Revista Cultivar Grandes Culturas
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura