As bactérias são organismos microscópicos, unicelulares, que possuem parede celular e podem ser fitopatogênicas. Dentro do gênero de bactérias Xanthomonas, já foram identificados mais de 100 espécies que infectam plantas. A espécie Xanthomonas fragariae Kennedy & King, 1962, é o agente causal da mancha angular bacteriana das folhas do morangueiro. É uma doença potencialmente grave, podendo causar perdas de até 75% dos frutos e foi relatada pela primeira vez nos Estados Unidos e mais tarde descrita na Nova Zelândia, Austrália, alguns países asiáticos e africanos e na maioria dos países europeus onde o morango é cultivado. X. fragariae é facilmente transmitida através de plantas assintomáticas com infecções latentes que são exportadas e isso pode ter levado à introdução de X. fragariae nos EUA e para muitos outros países.
Essa espécie possui a capacidade de manter-se viável mesmo sob baixas temperaturas. Em virtude do clima frio de outono no altiplano mexicano onde foi realizado o trabalho, geralmente as folhas danificadas por geadas são deixadas nas lavouras sob o solo, servindo de inóculo primário para o próximo cultivo de primavera.
Os sintomas da doença são pequenos pontos angulares encharcados (1mm-4mm) que aparecem inicialmente apenas na face inferior das folhas e rodeados por nervuras. Na fase inicial, as manchas somente são visíveis na superfície inferior e aparecem translúcidas quando vistas com luz transmitida. As bactérias são disseminadas a partir das manchas por chuva, irrigação ou orvalho e começam novas infecções, frequentemente ao longo das nervuras principais da folha. Com umidade relativa alta, pode surgir exsudato branco, leitoso, de cor creme ou amarela. As folhas são mais sensíveis quando têm de duas semanas a dois meses de idade, folhas mais velhas e mais jovens são resistentes à infecção. O tamanho das lesões aumenta progressivamente e, posteriormente, as manchas podem coalescer e tornar-se aparentes na superfície superior da folha. A necrose caracteriza-se como mancha marrom-avermelhada irregular, que ao desgastar-se pode romper o limbo foliar.
Este ensaio buscou averiguar a presença de X. fragariae viável em folhas injuriadas por geadas coletadas em campo infestado por essa bactéria.
Escolheu-se área para coleta cujos relatos de doenças bacterianas sempre se referiram à bactéria de interesse nesse ensaio. Foram coletadas 20 amostras no campo, incluindo bordaduras e o centro da área de um hectare. Folhas danificadas por geada, deixadas sob o solo foram coletadas, limpas com jato de ar e maceradas em almofariz com água destilada. A suspensão obtida foi diluída em água estéril e, com auxílio de alças de repicagem, foi usada na inoculação de placas de petri com meio ágar nutriente, tendo sido, então, incubadas a 28°C por 96 horas. Após o aparecimento das colônias, foram purificadas e as colônias jovens obtidas submetidas às provas de metabolismo da glicose, degradação de amido, meios com 0,01% e 0,1% de cloreto de trifenil tetrazólio, produção de ácido sulfídrico, teste de hipersensibilidade em fumo e podridão em batata, com o objetivo de determinar a presença de X. fragariae. As provas foram feitas todas em duplicata.
Dentre as 20 amostras analisadas, 16 expressaram o resultado esperado para X. fragaria, demostrando que essa bactéria permanece infectiva mesmo estando em tecidos injuriados por geadas.
É interessante salientar que de todas as provas realizadas, apenas a prova de hipersensibilidade em fumo é capaz de diferenciar X. fragariae de X. arboricola pv. fragariae, também presente no México e de ocorrência comum, responsável pela queima do morangueiro.
A bactéria foi detectada em grande parte das amostras analisadas, confirmando a importância de folhas danificadas por geadas como fonte de inóculo da doença para os próximos ciclos de produção do morangueiro.
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