Importância da resistência genética contra fitonematoides

Por Paulo S. Santos, Phytus Staphyt

30.06.2025 | 13:27 (UTC -3)
Lavoura de soja infestada por fitonematoides - Foto: Paulo S. Santos
Lavoura de soja infestada por fitonematoides - Foto: Paulo S. Santos

Com o intuito de se produzir mais soja sob um sistema agrícola intensivo e altamente produtivo, alocado em áreas de clima tropical e subtropical, observa-se um ambiente de condições favoráveis para ocorrência de pragas e doenças. Dentre os diversos grupos de agentes causadores de injúrias na cultura da soja, os nematoides parasitas de plantas têm se destacado safra após safra. Distribuídos por todas as regiões produtoras do Brasil, esses microrganismos têm ocasionado um prejuízo bilionário à cultura da soja, onde atualmente mais de 10 espécies apresentam capacidade de ocasionar perdas de produtividade para esta commodity.

As principais espécies são os nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus), nematoide-de-cisto-da-soja (Heterodera glycines), os nematoides-das-galhas (Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita) e o nematoide-reniformis (Rotylenchulus reniformis). Nos últimos anos, algumas espécies têm sido relatadas em algumas regiões, como é o caso de Helicotylenchus dihystera (Nematoide-espiralado), Scutellonema brachyurus, Tubixaba tuxaua (nematoide-gigante) e Aphelenchoides besseyi (nematoide-da-haste-verde).

Apesar desse número de espécies surgindo, as primeiras espécies de nematoides relatadas na cultura da soja no Brasil ainda seguem trazendo riscos em várias regiões. Em estudos realizados pela Staphyt, localizado em Formosa, na região centro-norte desde 2019/20, tem sido observada a presença do nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus) em mais de 75,9% das amostras de soja analisadas no laboratório de nematologia, seguido pelos nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica), com 26,4%, o nematoide-de-cisto-da-soja (Heterodera glycines), 17,0%, e o nematoide-reniformis (Rotylenchulus reniformis), 5,7%. Outra espécie crescente nesse estudo tem sido o nematoide-espiralado (Helicotylenchus dihystera) com 76,3% de presença nas amostras analisadas.

Esses microrganismos de solo alimentam-se no sistema radicular das plantas, causando uma interferência nos processos fisiológicos da planta, comprometendo a absorção e translocação de nutrientes, reduzindo assim a produtividade. A alimentação destes microrganismos, quando estabelecidos nos estádios iniciais de desenvolvimento das plântulas, podem ainda favorecer a entrada de outros microrganismos de solo como fungos, comprometendo ainda mais o desenvolvimento das plantas.

Cultivar suscetível (esq.) e cultivar resistente (dir.) 
Cultivar suscetível (esq.) e cultivar resistente (dir.) 

Inúmeras tecnologias têm sido desenvolvidas nos últimos anos que buscam auxiliar no manejo de convivência com esses microrganismos. Ao passo que as pesquisas sobre o assunto avançam, mostram que de forma integrada, é possível obter sucesso frente ao manejo e controle desses microrganismos. As principais ferramentas empregadas atualmente, têm sido compostas por práticas preventivas, culturais (rotação de culturas com plantas não hospedeiras, cultivo de plantas antagonistas), genéticas (variedade de soja resistente) e protetivas através do uso de nematicidas (químicos e biológicos).

Uma das estratégias utilizadas dentro do manejo e que apresenta papel importante é a utilização de variedades de soja resistentes ou moderadamente resistentes, pois, além de aliar a praticidade e segurança ambiental, apresentam respostas eficientes de controle, reduzindo as perdas no campo, bem como a densidade populacional das espécies no solo. Ao passo que o entendimento sobre a problemática avança, fica mais evidente que o manejo de fitonematoides converge para a convivência e não erradicação, e sobre esse aspecto é fundamental incluir o controle genético na estruturação do manejo.

Realizar a escolha de uma variedade de soja resistente associado à identificação correta da espécie ou raça presente na área trará maior segurança para integração das ferramentas protetivas (nematicidas) aumentando o espectro de controle. Atualmente, algumas variedades de soja são resistentes ou moderadamente resistentes aos nematoides-das-galhas (Meloidogyne spp.), o nematoide-de-cisto-da-soja (Heterodera glycines, algumas raças) e o nematoide-reniformis (Rotylenchulus reniformis) sendo essas, de fundamental importância no manejo dessas espécies.

Os mecanismos de resistência a fitonematoides são divididos em resistência passiva (pré-infeccional) ou ativa (pós-infeccional). A primeira envolve a presença de substâncias tóxicas ou repelentes aos fitonematoides, esse mecanismo pode estar representado na maioria das plantas não-hospedeiras. Já a segunda, consiste na capacidade da planta em reagir ao parasitismo, através de mecanismos de defesa. A expressão fenotípica de resistência das plantas a nematoides geralmente é caracterizada pela reação de hipersensibilidade (RH), que consiste na morte programada de células no local da alimentação, limitando, assim, seu desenvolvimento e reprodução.

Comportamento das raízes de diferentes cultivares de soja em lavoura infestada pelo nematoide-das-galhas 
Comportamento das raízes de diferentes cultivares de soja em lavoura infestada pelo nematoide-das-galhas 

Dentro da estruturação do MIN – Manejo Integrado de Nematoides, as cultivares de soja quando bem-posicionadas mudam o visual da lavoura, indicando um possível caminho de assertividade na escolha varietal. A dificuldade da escolha varietal, contrasta atualmente com a velocidade dos novos materiais lançados, que às vezes não apresentam informações relacionadas à reação dessas espécies de fitonematoides.

Os impactos provocados por esses microrganismos nas raízes refletem na parte aérea das plantas, e são muito variáveis, dependentes de fatores ligados à densidade populacional, fatores climáticos, bem como ligados ao ambiente de produção. A priori essa informação na estruturação do MIN passa pela possibilidade de melhor posicionamento dos materiais nas áreas, porém, quando essa ferramenta é posicionada de forma errada, sobre uma determinada espécie, as respostas acabam sendo desastrosas com perdas expressivas.  

Portanto, um dos cuidados com essa ferramenta de manejo (cultivares resistentes) é a sua utilização de forma isolada. O ajuste dessas variedades com ferramentas de proteção (nematicidas químicos ou biológicos), atrelado a um sistema de rotação, é praticamente vital para o sucesso de um programa de manejo de médio a longo prazo. O manejo de fitonematoides para surtir efeito, precisa ser pensado no sistema de produção e não sobre cultura isolada, assim trará maior estabilidade para o sistema como um todo, mantendo a população dos fitonematoides em níveis baixos permitindo uma boa produção. 

Por Paulo S. Santos, Phytus Staphyt

Artigo publicado na edição 298 da Revista Cultivar Grandes Culturas

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