A tendência de se prolongar o tempo de utilização do óleo lubrificante do cárter do motor se deve à dificuldade de parar o trator para manutenção, prejudicando a produção, ou à obtenção de ganho com a reutilização do lubrificante. A importância da substituição do óleo lubrificante de um motor dentro dos prazos estabelecidos pelo fabricante só pode ser desprezada quando houver controle do estado deste óleo lubrificante, através de acompanhamento de suas características por análises de óleo.
O que acontece com o óleo
À medida que trabalha, o óleo tem suas características originais modificadas. A principal característica de um óleo lubrificante é a sua viscosidade, que pode sofrer uma alteração máxima de ± 10 % em relação ao valor de medição do óleo novo. De uma maneira geral, o que costuma ocorrer é a queda da viscosidade, sendo a principal causa a contaminação por combustível, que passa pelos anéis do pistão e se deposita no cárter, diluindo ou, no popular, “afinando” o óleo. É claro que a contaminação varia de motor para motor. Um motor novo está menos suscetível à contaminação do que um motor já usado, pois à medida que envelhece, a contaminação aumenta. O desgaste natural contribui para isto, pois os bicos injetores passam a gotejar, a bomba injetora se desregula, os cilindros perdem compressão etc. Um óleo de motor com 6% de Diesel sofre queda de viscosidade de aproximadamente um grau SAE, ou seja, um óleo SAE 30 passa a ser um óleo SAE 20, inadequado para o trabalho indicado. A principal conseqüência é o desgaste acelerado por quebra do filme de lubrificação, o que ocasionará contato direto entre as peças e menor tempo de vida ao motor. A viscosidade também pode sofrer aumento. Uma das principais causas para que isto venha a ocorrer é o tempo excessivo de utilização do óleo. O “engrossamento” acontece por acúmulo de produtos insolúveis provenientes da combustão e do desgaste natural, ou que entram no motor com ar de admissão ou por outro meio qualquer: fuligem, poeira, metais de desgaste e resíduos de oxidação por umidade (água). Estes elementos além de engrossarem o óleo também são abrasivos e causam desgaste por se interporem entre as peças em movimento. Todos conhecem o resultado da presença de poeira no óleo. Outro dano causado é o desgaste excessivo das partes em movimento e, por incrível que pareça, óleo muito grosso dificulta o movimento e causa desgaste. Podemos ainda dizer que os aditivos, que são elementos químicos que melhoram o desempenho do óleo, se esgotam deixando de desempenhar suas funções, como proteger da corrosão, ferrugem etc.
Por que não prolongar
Para ilustrarmos o que pode ocorrer quando se prolonga a utilização, analisamos dez amostras de óleos lubrificantes dos motores de cinco tratores Massey Ferguson, sendo dois do modelo 275 e três do modelo 290. Fazem parte das análises realizadas os testes de: viscosidade, ponto de fulgor, presença de fuligem, presença de água e presença de elementos metálicos, onde foi verificada a presença de ferro, cobre, cromo, chumbo alumínio, níquel e silício. Os parâmetros de comparação para os valores obtidos nas análises são os do óleo novo utilizado nos motores dos tratores. Das dez análises realizadas somente em duas o óleo lubrificante estaria apto a continuar trabalhando, justamente naquelas em que o tempo de utilização estava aquém do tempo estabelecido para troca pelo fabricante. Portanto, em 80 % das amostras onde em duas o óleo estava praticamente com o tempo de troca e, em seis com o tempo acima do estabelecido para a troca, houveram problemas de desgaste. Desta forma, fica claro ser bastante temeroso o prolongamento do tempo de trabalho do óleo do cárter do motor sem o acompanhamento sistemático através de análises de óleo.
Quando trocar o óleo
O API - American Petroleum Institute ou Instituto Americano do Petróleo é uma instituição americana que trata do desempenho e classificação dos lubrificantes e recomenda que os serviços de troca de óleo do motor, troca do elemento filtrante do óleo do motor e a manutenção e troca dos elementos filtrantes do ar de admissão acatem pelo menos as recomendações feitas pelos fabricantes de motores, quando não houver controle através de análises do óleo lubrificante. As recomendações, por período ou quilometragem, são sempre conservadoras, para não prejudicar excessivamente a vida útil dos motores. Evidentemente, os períodos podem ser antecipados ou duplicados, dependendo das condições de uso. Os fabricantes de veículos ou motores podem descrever em seus manuais operacionais os detalhes de operação, nos quais se aplicam menores ou maiores períodos de trocas. Podemos exercitar situações, considerando que o óleo de última classificação, sob condições normais, deve ser trocado com 200 horas de trabalho:
• 100 horas - uso do veículo sob condições predominantes de anda-pára, longos e freqüentes períodos em marcha lenta (utilização da TDP para acionar máquinas que requerem pouca potência), sob alta temperatura e carga e esforço adicional (implemento que exige carga maior do que o trator possa oferecer);
• 200 horas - veículo operado normalmente, com acoplamento de implementos para ele dimensionados;
• Tempo de trabalho - quando o número de horas de trabalho não é atingido, recomenda-se a substituição a cada 6 meses para óleo de base mineral e 12 meses para óleo sintético. Para motores inativos, o óleo poderá permanecer no cárter no máximo 3 meses e 6 meses, respectivamente.
Procedimento para a troca
Toda troca de óleo, seja de motor, caixas de engrenagens ou fluído hidráulico, deve ser feita com o óleo quente, preferivelmente após o uso do veículo por um período que atinja a temperatura normal de operação. Após extrair o óleo pelo local de drenagem do reservatório, é aconselhável deixá-lo escorrer por algum tempo, por volta de 10 minutos, para assegurar que permaneça no reservatório o mínimo possível. Uma alternativa rápida, menos complicada e menos suja é sugar o óleo por uma bomba de sucção ligada a um tubo fino introduzido pelo orifício da vareta de nível de óleo. Este processo, no entanto, apresenta o inconveniente de não remover totalmente o óleo. O veículo deve estar em local plano e adequado para qualquer extração ou troca de óleo.
Que óleo se deve utilizar
Os melhores lubrificantes, óleo ou graxa, para serem utilizados no motor, no câmbio, no diferencial, no hidráulico e nos rolamentos e articulações do seu trator, são aqueles recomendados pelo fabricante do trator. No caso dos motores, normalmente são dadas algumas opções ao usuário. O óleo lubrificante para motores de ciclo Diesel, que são os mais utilizados em tratores, são classificados pela viscosidade e pelo desempenho que oferecem. A viscosidade é uma característica controlada pela SAE (Society Automotive Engineers). Existem óleos monograu, ainda bastante utilizados, onde a identificação é dada por um número (grau) antecedido da sigla SAE. É uma identificação que leva em conta a temperatura de trabalho do óleo a aproximadamente 100º C. Podemos ter óleos SAE 20, SAE 30, SAE 40 e SAE 50.
O desenvolvimento dos lubrificantes possibilitou a fabricação dos óleos de múltipla graduação e de primeira qualidade. Esses óleos, SAE 20W 40, SAE 20W 50, SAE 5W 40 etc., são conhecidos como óleos multiviscosos. São largamente usados porque ao dar partida no motor, o óleo está frio. Nesta temperatura ele deve ser fino o suficiente para fluir bem e alcançar todas as partes do motor. Já em altas temperaturas, ele deve ter a viscosidade adequada para manter a película protetora entre as partes metálicas. Por exemplo, os óleos SAE 20W 40 são formulados para cumprir os requisitos de viscosidade em baixa temperatura de um óleo monograu SAE 20 e os requisitos de viscosidade em alta temperatura de um óleo monograu SAE 40. Os óleos SAE 20W são testados para viscosidade de partida a -15°C, logo, eles são formulados para uso em temperaturas ambiente mais baixas. Já os óleos classificados como SAE sem a designação W têm suas viscosidades medidas somente a 100°C para assegurar viscosidade adequada em temperaturas operacionais normais do motor.
O serviço ou desempenho do óleo é classificado pela API. Para motores Diesel, a classificação é dada por duas letras, sendo sempre a primeira delas a C de compression, compressão em inglês, que identifica um óleo para motor de ignição espontânea ou Diesel. A classificação propriamente dita é dada pela segunda letra. À medida que esta segunda letra avança no alfabeto, o óleo sobe de especificação, é mais moderno. Para melhor entendimento vamos dar alguns exemplos, supondo que o manual do seu trator especifique o óleo SAE 15W 40 ou SAE 20W 50 API - CG - 4, foram dadas duas opções de viscosidade. O grau 15W deverá ser utilizado em regiões mais frias e o grau 20W em regiões mais quentes, considerando-se a temperatura ambiente. O mesmo ocorre para a medida de alta temperatura, 40 para regiões mais frias e 50 para regiões mais quentes. O desempenho API CG - 4 deve ser seguido com maior rigor. De nenhuma forma deve-se utilizar óleo de classificação anterior, por exemplo um API - CF ou inferior. Porém, pode-se utilizar um de especificação mais avançada, por exemplo um API - CH - 4. É importante esclarecer que estas especificações estão nas embalagens de qualquer marca de óleo utilizado.
Cuidados adicionais com o sistema
• Não misture óleos de marcas diferentes. A utilização de elementos químicos diferentes para uma mesma finalidade de aditivação pode ocasionar aparecimento de ácidos corrosivos que irão destruir, principalmente, os mancais de liga do motor;
• Somente complete o nível quando a marca de mínimo da vareta for atingida. Antes de completar verifique o tempo de utilização do óleo. Pode ocorrer de a troca estar muito próxima, e a reposição com óleo novo não estende o tempo de utilização da carga;
• Utilize sempre óleo com a viscosidade correta;
• Quando substituir o óleo, substitua também o filtro de óleo. Utilize sempre filtros de primeira linha. Filtros mais baratos nem sempre garantem a filtragem adequada do óleo. O mesmo raciocínio é válido também para os filtros de ar de admissão;
• Examine sempre se não há vazamentos de óleo. Se houver, corrija-os imediatamente. A tampa de enchimento e a vedação da vareta de nível em seu tubo são pontos onde ocorrem vazamentos e grande penetração de contaminantes externos.
Marcos Roberto Bormio,
UNESP
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