A enfermidade giberela em cereais de inverno, conhecida também por fusariose, é causada pelo fungo Gibberella zeae [(Schwein.) Petch; Sn. G. saubinetti], forma assexuada Fusarium graminearum Schwabe. Outras espécies de Fusarium também podem estar envolvidas nesse patossistema. É uma doença de expressão econômica mundial, principalmente para as culturas de trigo e de cevada.
Os sintomas característicos são espiguetas despigmentadas, de coloração esbranquiçada ou palha, que contrastam com o verde normal de espigas sadias. Em condições climáticas favoráveis, sinais do patógeno são facilmente observados, e as espiguetas afetadas apresentam coloração rosa-salmão. A formação de peritécios também pode ser observada em espigas maduras e em grãos colhidos. Nas espiguetas atacadas formam-se grãos chochos, enrugados, de coloração branco-rosada a pardo-clara. Além de reduzir diretamente o rendimento, os grãos infectados e seus derivados podem ser tóxicos, tanto para o ser humano quanto para animais, devido à presença de micotoxinas, substâncias tóxicas que podem ser produzidas pelo fungo, elevando as perdas em rendimento de grãos e em qualidade de sementes e de grãos.
A giberela tem sido registrada em todas as regiões de clima temperado quente, úmido e semi-úmido, onde são cultivados cereais de inverno e milho. Sua ocorrência tem aumentado nos últimos anos, atingindo níveis epidêmicos em vários países. Essa enfermidade foi observada no México em 1977, e vários relatos referem-se à fusariose no Norte-centro da Europa, na Ásia, na África, no Norte dos Estados Unidos, no Sul do Canadá, assim como no Sul do continente americano, especialmente Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Referências à doença na Argentina datam de 1927, e no Brasil, provavelmente, de 1942, em Veranópolis, Rio Grande do Sul.
Relatos de perdas
Na China e no Japão existem relatos de até 50% de perdas devidas à giberela em trigo, enquanto na Argentina foram estimadas perdas de 30% na produção. Em vários países como, México, Paraguai, Austrália, entre outros, também existem relatos de perdas causadas por giberela em trigo. A doença vem assumindo destacada expressão econômica nos Estados Unidos e no Canadá em trigo e em cevada, com perdas significativas. Na epidemia ocorrida em 1993 nos Estados Unidos, estimou-se perda de um bilhão de dólares por giberela em trigo e em cevada. No Brasil, em 1998, nos ensaios de rendimento de trigo conduzidos na Embrapa Trigo constatou-se, em genótipos brasileiros mais suscetíveis, aproximadamente 40% de grãos com sintomas de giberela.
A giberela é uma doença que se destaca em trigo e em cevada no Sul do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul, nas regiões que têm estações de cultivo com chuvas freqüentes durante a fase de florescimento da cultura. A precipitação pluvial deve ser de no mínimo 48 horas consecutivas e a temperatura situar-se entre 20 e 25oC. Relatos divulgados em 1958 consideram a giberela uma das três doenças que contribuíram para o desastre da safra de trigo de 1957 no Brasil. No período agrícola de 1975, a giberela foi incluída entre as enfermidades mais ocorrentes, destacando-se o ano como de alta precipitação pluvial. Nos últimos anos, a enfermidade giberela deixou de ser uma doença esporádica em trigo e em cevada e passou a ocorrer em níveis epidêmicos. As epidemias mais recentes ocorreram em 1997 e 1998, anos de elevada precipitação pluvial.
Importância no continente
A fusariose em trigo também é referida como uma das mais importantes doenças na América do Sul durante as duas últimas décadas. Essa importância de giberela em trigo resultou, recentemente, na realização, no mês de junho de 2000, de workshop sobre doenças em sistema plantio direto, com ênfase em manchas foliares e em giberela, em Passo Fundo, na Embrapa Trigo. O evento contou com a participação de pesquisadores representantes da Argentina, do Brasil, do Chile, da Colômbia, do Paraguai e do Uruguai.
O sistema plantio direto, provavelmente, está influenciando o aumento de giberela, pois nesse sistema a manutenção de restos culturais na superfície do solo proporciona a sobrevivência do patógeno G.zeae, garantindo, assim, inóculo em abundância. Restos de culturas são a principal reserva de G. zeae, embora o solo, sementes e vários hospedeiros suscetíveis também sejam fontes de inóculo.
Medidas de controle, como rotação de culturas e controle químico com os fungicidas disponíveis, têm sido pouco eficazes para o controle da enfermidade. Isso ocorre porque nos sistemas de produção de grãos no Sul do Brasil as opções de culturas de inverno e de verão, principalmente milho, são suscetíveis ao patógeno, bem como devido à deficiência na deposição de fungicidas nos sítios de infecção, ao momento de aplicação destes e às condições climáticas favoráveis.
Dentre as estratégias de controle de doenças de plantas, a resistência genética tem sido a medida economicamente mais viável e desejável. O controle de giberela através de resistência genética tem sido estudado em vários países, como México, Canadá, Estados Unidos, Japão e China. A caracterização de fontes de resistência a serem usadas em um programa de melhoramento é fundamental. A avaliação e a caracterização da resistência de genótipos brasileiros e a avaliação do comportamento de fontes de resistência de origens distintas nas condições climáticas brasileiras, assim como de linhagens oriundas de cruzamentos visando à incorporação de genes de resistência à giberela, são subsídios necessários ao desenvolvimento de cultivares mais resistentes a serem recomendadas ao produtor.
A Embrapa Trigo está intensificando os trabalhos com relação à resistência genética à giberela. Inicialmente, realiza-se a seleção de genótipos de trigo e de cevada, sob condições artificiais favoráveis à enfermidade em campo.
A metodologia de amostragem de espigas desenvolvida na Embrapa Trigo está sendo adotada atualmente nessa instituição para avaliar a resistência genética de genótipos de trigo e de cevada à giberela.
Maria Imaculada P. M. Lima e José Maurício C. Fernandes
Embrapa Trigo
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