Embora os testes com fungicidas na cultura do trigo tenham tivessem início da década de 70, a recomendação oficial de produtos para a cultura ocorreu no ano de 1976. As pulverizações, inicialmente preventivas, eram repetidas a intervalos de 10 a 14 dias, pois os fungicidas utilizados na época apresentavam a característica de serem de contato, portanto, quando a planta crescia, a nova área foliar deveria ser protegida. Os fungicidas de contato mais utilizados na época eram o manebe e o mancozebe. As pulverizações iniciavam na fase do emborrachamento do trigo.
Com o surgimento dos fungicidas sistêmicos, como o triadimefon, as aplicações passaram a ser realizadas a estádios de desenvolvimento da cultura pré definidos (emborrachamento e floração). Essa recomendação foi drasticamente modificada em 1986, com o advento da publicação “Doenças do trigo: como determinar a melhor época de controle”. Esse trabalho foi o pioneiro em lançar, no Brasil, as bases para o monitoramento das doenças do trigo.
Atualmente, os fungicidas se constituem em uma importante ferramenta para estabilizar a produtividade de trigo na região sul do Brasil, onde as doenças são de elevada importância. Uma rede de ensaios com fungicidas, denominados de “ensaios cooperativos”, é mantida por órgãos oficiais de pesquisa, procurando comparar a eficiência, anualmente, dos fungicidas em recomendação, além de testar a eficiência de novos produtos, em controlar as doenças fúngicas. O objetivo destes testes é obter dados sobre a eficiência relativa dos diferentes fungicidas frente as principais doenças fúngicas do trigo.
Antes de iniciar-se o controle das doenças do trigo com fungicidas, algumas perguntas básicas devem ser respondidas: a) Qual ou quais os patógenos problemas?; b) Como esse patógeno invade a planta?; c) Como se desenvolve dentro da planta?; d) Como sobrevive de um ano para outro?, Em restos de cultura?, Em hospedeiros vivos? Nas sementes?, No solo? Devemos lembrar que, os patógenos são nutricionalmente dependentes do hospedeiro; os patógenos preferencialmente não se afastam do hospedeiro (esse processo garante a eles a sobrevivência).
Oídio e Ferrugens
O oídio (
f.sp. tritici), é uma doença bastante destrutiva. A doença é conhecida como oídio, míldio pulverulento, cinza ou mofo. Apresenta nas partes verdes da planta formações de aspecto algodonoso devido à massa de micélio do fungo. Inicialmente são pequenas manchas brancas e, com a evolução da doença, coalescem, tornando-se de coloração acinzentada com pontículos escuros denominados de cleistotécios. Sob o micélio, observa-se uma clorose. Após a clorose, a atividade do fungo declina. A massa branca de esporos, denominados de conídios, é pulverulenta e desprende-se facilmente da planta sendo levado a grande distância pelo vento. Sob ataques intensos toda a planta é atacada, iniciando a infecção na base da planta atingindo até a espiga. É um parasita biotrófico e, embora só ataque a epiderme, o efeito de sua ação é irreversível e o tecido lesionado sob a pústula morre. O fungo forma um grampo de infecção e emite para o interior da célula apêndices denominados haustórios, de onde retira o nutriente para seu desenvolvimento. As perdas dependem da suscetibilidade da cultivar e das condições para o desenvolvimento do patógeno e podem chegar a até 62 %. O controle químico do oídio do trigo pode ser realizado de duas maneiras: pelo uso de fungicidas triazóis na forma de tratamento de sementes, e pelo controle da doença na parte aérea da cultura (Tabela1), quando a incidência em folhas, durante a fase de afilhamento, atingir índices de 10 % a 15 % da área foliar infectada.
O controle do oídio nas cultivares suscetíveis via tratamento de sementes apresenta um custo de aproximadamente US$ 4,80 por saco, ou seja, US$ 14,50 por hectare. Comparado com a aplicação por via foliar, que apresenta um custo de US$ 27,00 o hectare, (fungicida + custo da aplicação), mesmo com a possibilidade de redução de dose do fungicida por via foliar, o controle da doença pelo tratamento das sementes tem se mostrado mais econômico.
A ferrugem da folha do trigo é causada pelo fungo
f.sp. tritici. Os sintomas de ferrugem da folha são caracterizados pela presença de pústulas de formato ovalado, de coloração vermelho escuro disseminadas predominantemente na região abaxial do limbo foliar. As pústulas (uredosoros) rompem a epiderme, porém sem dilacerar o tecido do hospedeiro. Os uredosoros são de coloração laranja escuro, equinolados e esféricos medindo cerca de 20 a 28 µm. Os teliosporos são de coloração café com paredes celulares planas, espessas e arredondados no ápice. Os teliosporos se formam nas bainhas e nas folhas durante as últimas etapas de desenvolvimento do trigo. De alta agressividade, principalmente para as raças virulentas ocorrentes, cultivares suscetíveis como BR 34, são severamente injuriadas. Ensaios realizados, em Passo Fundo, nas safras de 1994 e 1995 determinaram, nessa cultivar, perdas de até 80 % em rendimento e de até 10 pontos percentuais no peso dos grãos colhidos. A ferrugem do colmo (
f.sp. tritici), apresenta um alto potencial destrutivo, e as perdas poderão ser totais se a cultivar for suscetível e o controle fitossanitário não iniciar no momento preciso.
O controle da ferrugem da folha deverá ser iniciado, obedecendo-se a um dos seguintes critérios: a) no aparecimento das primeiras pústulas do fungo (traços de severidade), b) quando a incidência atingir 50 % das plantas, e c) quando a incidência foliar encontrar-se entre 30 % e 40 %. O controle da ferrugem do colmo deverá ser realizado segundo o critério (a) acima descrito. Os fungicidas recomendados para o controle oídio e ferrugens são apresentados na tabela anexa.
Complexo de manchas
O complexo de manchas foliares é causado por um grupo de microorganismos onde destacam-se patógenos como
(mancha marrom)
(mancha da gluma) e
(mancha bronzeada). Esses microorganismos possuem em comum uma alta habilidade saprofítica, formar lesões necróticas com halo clorótico e capacidade de sobreviver na semente. Portanto, o aumento da intensidade desses fungos em uma lavoura está diretamente condicionado a três fatores: ao uso de sementes infectadas, à monocultura e ao plantio direto.
A semente é importante fonte de inóculo em áreas onde não se cultivava trigo e em áreas onde se pratica a rotação de culturas (evitando a reintrodução de fungos) O tratamento de sementes é, portanto, medida de extrema importância para diminuir a incidência de fungos necrotróficos na lavoura de trigo.
Preferencialmente, deve-se tratar os lotes de semente que apresentem baixo índice de infecção. Nesses, o controle é mais efetivo, podendo chegar à erradicação ou próximo a ela. Lotes de sementes com elevada infecção (acima de 40 porcento) de
devem ser descartados, pois os fungicidas atualmente recomendados não erradicam o patógeno quando o nível de infecção é elevado.
A mancha marrom pode ocorrer em qualquer parte ou estádio de desenvolvimento da planta de trigo. Quando ataca as raízes de trigo, recebe o nome de podridão comum das raízes. Nas folhas, as manchas são de formato oval ou alongadas, se caracterizam por possuírem uma coloração marrom, variando de pardo a escuro, quase pretas, circundadas por um halo amarelo. No centro das manchas observa-se os conidióforos e os conídios do fungo. As lesões podem coalescer e as folhas morrem. Sob condições favoráveis, a doença ataca os nós e entrenós, provocando um estrangulamento, matando a planta. O fungo progride para a espiga atacando as glumas, as lemas, as páleas e o ráquis. Os grãos, quando atingidos, ficam enrugados, sem peso, e com um sintoma característico denominado “ponta-preta”.
Embora denominada mancha da gluma, a doença manifesta-se em outros órgãos da planta como folhas, colmos (nós e entrenós) e espiga (glumas, aristas e ráquis). Quando o ataque é intenso, ataca também as sementes. Nas folhas os sintomas iniciais são manchas irregulares de coloração marrom claro com halo violáceo, muitas vezes semelhante aos sintomas da mancha marrom induzida por B. sorokiniana. Com o progresso da doença as lesões tornam-se castanhas com o centro claro, com inúmeras pontuações (picnídios) de cor marrom claro ou escuro, medindo 150 µm a 200 µm. Os nós, quando infectados, são de coloração castanha, enrugados e quebradiços. Na espiga, as glumas e as aristas apresentam manchas irregulares de cor marrom, inicialmente na ponta das glumas alastrando-se posteriormente, provocando a maturação precoce da espiga. Sob ataque severo, a espiga apresenta uma coloração marrom escura com as aristas arrepiadas chegando a não produzir sementes.
A mancha bronzeada ou mancha amarela da folha de trigo é conhecida como a doença do sistema de plantio direto. Aparece geralmente nos estádios iniciais da planta formando, nas folhas, lesões ovaladas ou oblongas, amareladas ou de aspecto bronzeado que coalescem tornando-se de coloração marrom clara a marrom escura. No centro das manchas, sob condições de umidade, são observados os conidióforos do fungo, de coloração marrom escura.
O controle das manchas foliares (
) na parte aérea da cultura do trigo, deve ser iniciado quando, a partir do estádio de alongamento do trigo, (estádio 5-6 da escala de Feeks), o nível de infecção atingir 5 % de severidade ou quando 70 % das folhas verdes apresentarem lesões com mais 1mm de diâmetro.
Para determinar a época ideal de controle, deverá ser feita uma amostragem em vários pontos da lavoura. Utilizar os fungicidas mais eficientes recomendados pela pesquisa. A re-aplicação dos fungicidas deverá ser realizada sempre que necessária, para manter a doença em níveis baixos de infecção. De uma maneira geral, têm se observado nas condições brasileiras que, os agricultores que praticam um sistema de rotação de culturas eficiente, e, que por isso consigam eliminar a maior parte dos fungos necrotróficos que sobrevivem na palha da cultura de trigo, conseguem realizar apenas uma aplicação de fungicidas durante o ciclo da cultura. Quando esse fato não ocorre, são necessárias duas as vezes três aplicações de fungicidas, onerando grandemente o custo de produção.
Como é a Giberela
A giberela do trigo, induzida por
, é uma doença que ataca a planta especialmente naquelas regiões onde por ocasião da floração as condições climáticas prevalecentes são de temperatura alta (20 ºC a 25 ºC), e precipitação pluviométrica de, no mínimo, 48 horas consecutivas. As perdas relatadas com a doença variam em função da suscetibilidade da cultivar e das condições climáticas no ano. Os sintomas mais característicos ocorrem por ocasião da floração. A giberela é facilmente identificável quando ataca a espiga. Os sintomas iniciais são localizados a uma ou várias espiguetas, podendo evoluir e disseminar-se por toda a espiga. As espiguetas atacadas apresentam-se descoloridas, com um aspecto esbranquiçado. Uma massa de coloração rosada, de esporos do fungo, pode formar-se sobre as espiguetas. Quando o ataque ocorre na floração, as flores abortam ou produzem grãos chochos, enrugados, de coloração clara, de aspecto marmorizado, ou rosa, com baixo peso específico . Após a maturação do trigo, sobre as partes atacadas, observa-se pontuações escuras, denominadas de peritécios, ovalados, medindo de 150 mm a 350 mm. Sementes severamente infectadas com
podem originar plântulas deformadas ou mesmo a morte das mesmas.
Alguns fungicidas inibidores da biosíntese de ergosterol (IBE) apresentam controle de até 75,0 % de
em trigo. Para atingir esse nível de eficiência, os fungicidas devem ser pulverizados no momento da floração plena. Volumes de calda de 200 litros por hectare, um número de 40 gotas de 400 micras de diâmetro/cm2 são fundamentais para proporcionar uma boa cobertura e sucesso no controle. Os fungicidas recomendados pela pesquisa para o controle dessa doença, são apresentados na tabela abaixo.
José M. Fernandes e Edson C. Picinini
Embrapa Trigo
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