Solos utilizados para exploração agrícola geralmente ficam desprovidos de vegetação por um período, a espera da época de chuvas, antes do plantio. Durante tal período, este ambiente é basicamente um emissor de CO2 para a atmosfera, pois nenhuma vegetação está presente e nenhuma fotossíntese ocorre. O solo é um dos principais componentes no ciclo do carbono, pois é o maior emissor desse elemento da biosfera. Para se ter uma idéia, toda a atividade industrial do mundo libera para a atmosfera aproximadamente 5 bilhões de toneladas de carbono ao ano, enquanto que a respiração do solo, sem levar em conta o processo de respiração das raízes, emite na ordem de 50 bilhões de toneladas de carbono ao ano, ou seja, uma emissão 10 vezes superior àquela provocada por toda a poluição industrial.
Nos últimos séculos atividades como o manejo do solo têm influenciado na dinâmica da emissão de carbono solo - atmosfera, causando um acréscimo em tal emissão. Estes processos estão diretamente relacionados ao efeito estufa, colocando as atividades agrícolas como uma das principais responsáveis pela modificação recente do clima no planeta.
Assim, uma estratégia que vem sendo sugerida para a redução do aquecimento global seria racionalizar algumas atividades agrícolas, em particular métodos de preparo do solo, procurando reduzir a perda de carbono do solo para a atmosfera. Apesar de todos os esforços, é preciso relacionar a influência de sistemas de manejo com a quantidade de carbono adicional emitido, especialmente nos solos tropicais.
Um desses resultados foi obtido recentemente a partir de experimentos realizados no período de 2000 a 2002 na FCAV-UNESP, campus de Jaboticabal, SP, sob supervisão dos docentes Prof. Dr. Afonso Lopes (Departamento de Engenharia Rural) e Prof. Dr. Newton La Scala Júnior (Departamento. de Ciências Exatas) e a colaboração de estudantes do curso de Agronomia desta faculdade. Os professores estudaram a emissão imediata de CO2 do solo após preparos diversos, tais como: Enxada rotativa, Escarificador, Arado de disco seguido de grade niveladora e Grade aradora seguido de grade niveladora. Nessas pesquisas tem-se o cuidado de manter parcelas inalteradas, denominadas sem distúrbio. Assim que o procedimento de preparo do solo foi encerrado, esperou-se 24 horas para iniciar as medições do fluxo de CO2.
As emissões de CO2 provenientes do solo foram avaliadas utilizando-se uma câmara portátil modelo 6400-09 (LI-COR, NE, E.U.A.), instrumentação essa adquirida através do projeto financiado pela FAPESP (97/12009-8). A operação do equipamento é simples, e evita o acúmulo de CO2 dentro da câmara, funcionando entre um máximo e um mínimo de concentração de CO2 em seu interior, em torno da concentração ambiente. Para realizar as leituras a câmara é colocada sobre colares de PVC instalados no solo, sendo os dados do fluxo de CO2 emitido em cada ponto, computados utilizando-se o equipamento LI-6400 (photosynthesis system).
A Figura 1 (
) apresenta os resultados obtidos durante o período de 2 semanas. Nas primeiras 24 horas em que o manejo foi executado, as emissões eram tão altas quanto 0,.64 g CO2 m-2 h-1 e 0,47 g CO2 m-2 h-1 nas parcelas escarificada e arada mais grade niveladora, respectivamente, e tão baixas quanto 0,27 g CO2 m-2 h-1 na parcela sem preparo. Durante o período de 2 semanas nenhuma chuva ocorreu no local e nos últimos dias do estudo as emissões de CO2 convergiram para um mesmo valor de 0,22 g CO2 m-2 h-1 para todos os tratamentos. A análise estatística demonstrou as emissões de CO2 são significativamente diferentes (P<0.01) quando compara os tipos de preparo do solo. Tais resultados indicam um acréscimo de 74 g de CO2 m-2 na emissão total da parcela escarificada quando comparada com aquela sem mobilização, durante o período de 2 semanas. Os professores responsáveis pela pesquisa ressaltam que a agricultura mecanizada ocupa aproximadamente 50 milhões de hectares no sudeste do Brasil. Sendo assim, as diferenças observadas na emissão de CO2 neste trabalho são bastante relevantes, e podem sinalizar que modificando-se a forma de manejo de solos poderíamos minimizar o impacto da agricultura na transferência de CO2 do solo para a atmosfera em nossa região. Este trabalho encontra-se publicado na íntegra na revista Soil & Tillage Research n0 1617, ano 2001.
Num trabalho mais recente, realizado em meados de 2002, os referidos professores puderam comprovar que diferenças em regulagens de uma enxada rotativa também afetam significativamente as emissões de CO2 do solo para atmosfera. A Figura 2 apresenta tal efeito onde compara-se as emissões após preparo com enxada rotativa em quatro formas de regulagens: 1) sem distúrbio. 2) rotação do rotor 122 rpm e posição do anteparo traseiro levantado. 3) 153 rpm e anteparo levantado 4) 153 rpm e anteparo abaixado 5) 216 rpm e anteparo abaixado. A emissão de CO2 após o preparo foi acompanhada durante 30 dias e comparada com os resultados da parcela sem mobilização. Os resultados mostraram que o fato de mudar as regulagens numa mesma enxada rotativa causaram diferenças significativas na emissão de CO2 do solo, tanto quanto aquelas provocadas pelos vários tipos de equipamento, como mostrado na Figura 1.
Desta forma, os pesquisadores lembram que essa linha de estudos vem ao encontro das novas tendências de práticas agronômicas considerando-se a preservação ambiental. Tais experimentos estarão num futuro próximo capacitando a tomada de decisão sobre projetos de desenvolvimento sustentável, com o mínimo de transferência de carbono do solo para a atmosfera após preparo de solos, havendo possibilidade de captação financeira por meio dos assim chamados “créditos de carbono”.
Afonso Lopes e Newton La Scala Júnior,
Unesp - Jaboticabal
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