Expansão da cultura do sorgo

O sorgo tem sido uma excelente opção para produção de grãos e forragem em todas as situações em que o déficit hídrico e as condições de baixa fertilidade dos solos oferecem maior

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A cultura do sorgo apresentou expressiva expansão nos últimos anos agrícolas, atingindo em 2008/2009 uma área plantada acima de 1,5 milhão de hectares. Do ponto de vista agronômico, este crescimento é explicado, principalmente, pelo alto potencial de produção de grãos e matéria seca da cultura, além da sua extraordinária capacidade de suportar estresses ambientais. Deste modo, sorgo tem sido uma excelente opção para produção de grãos e forragem em todas as situações em que o déficit hídrico e as condições de baixa fertilidade dos solos oferecem maiores riscos para outras culturas, notadamente o milho. Do ponto de vista de mercado, o cultivo de sorgo em sucessão a culturas de verão tem contribuído para a oferta sustentável de alimentos de boa qualidade para alimentação animal e de baixo custo, tanto para pecuaristas como para a agroindústria de rações. Atualmente, em toda a região produtora de grãos de sorgo do Brasil Central, o produto tem liquidez para o agricultor e grande vantagem comparativa para a indústria, que, cada vez mais, procura alternativas para compor suas rações com qualidade e menor custo.

O avanço da moderna agricultura no Cerrado e os seus sistemas de produção continuam ampliando as possibilidades para os diferentes tipos agronômicos de sorgo. A soja, principal parceira no sistema de sequência de culturas, avança para os estados do Norte e do Nordeste. O sorgo segue este avanço. O sistema de plantio direto abre um amplo campo para integração do sorgo ao sistema como excelente produtor de palha de alta qualidade, além de ser excelente elo na cadeia da integração lavoura-pecuária-floresta.

A agroindústria de carnes se expande na região, na busca de matérias primas de menor custo para alimentação de plantéis de aves, suínos e bovinos. A pecuária de leite e de corte se profissionaliza cada vez mais, à medida em que os mercados consumidores de carne bovina exigem mais qualidade e preço competitivo. O milho, principal ingrediente para alimentação animal no país, está se valorizando, em especial pela grande expectativa de exportação do produto per se ou embalado no complexo das carnes. Para manter o mercado de rações abastecido com grãos de qualidade confiável e custo ajustado ao negócio, o sorgo já é reconhecido como o principal grão alternativo ao milho na chamada cesta básica de ingredientes forrageiros, junto com o próprio milho, o trigo, o triticale, o farelo de arroz e a fécula de mandioca.

A visão de que o Brasil está se tornando um dos principais fornecedores de carnes para os mercados internacionais - além do mercado doméstico - e que, por isso, a oferta alternativa de grãos forrageiros e as diferentes formas de forragem, de custo compatível com as demandas desses mercados, é um fator imprescindível para se alcançar os objetivos do país.

Para o Brasil, é estrategicamente importante ter uma área ocupada com sorgo para a garantia do abastecimento de grãos. A produção brasileira de grãos depende quase que exclusivamente da precipitação pluviométrica. Em anos com ocorrência de condições desfavoráveis, normalmente há déficit na produção de grãos e o sorgo, sendo uma cultura de vocação para cultivo em condições adversas de clima e solo, poderia reduzir o impacto desse fator no abastecimento de grãos.

O investimento na produção e na utilização do sorgo no Brasil se justifica dentro da política estabelecida pelo governo, que seria o aumento da eficiência, da qualidade e da competitividade dos produtores, e pelo conceito mundialmente aceito de agricultura sustentada. O sorgo pode substituir parcialmente o milho nas rações para aves e suínos e totalmente para ruminantes, com uma vantagem comparativa de menor custo de produção e valor de comercialização de 80% do preço do milho. Além disso, a cultura tem mostrado bom desempenho como alternativa para uso no sistema de integração lavoura-pecuária e para produção de massa, proporcionando maior proteção do solo contra a erosão, maior quantidade de matéria orgânica disponível e melhor capacidade de retenção de água no solo, além de propiciar condições para uso no plantio direto.

José Avelino Santos Rodrigues

Pesquisador da área de Genética e Melhoramento de Plantas da Embrapa Milho e Sorgo

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