Estratégias eficientes no manejo da cigarrinha-do-milho
Aplicação de inseticidas, associada a outras estratégias de manejo, tem apresentado bons resultados contra o inseto
Considerada pouco expressiva ao longo de vários anos a mancha de ramulária, causada pelo fungo Ramularia aréola, tem crescido em importância ao longo das últimas safras e atualmente já detém o status de principal doença do algodoeiro. O uso de fungicidas é uma importante ferramenta de controle sempre que associada a outras estratégias de manejo. É indispensável direcionar esforços para prevenir a seleção de isolados de fungos menos sensíveis ou resistentes.
O atual sistema de produção do algodoeiro na região central do Brasil é caracterizado pelo cultivo em extensas áreas aliado a sucessão de cultura (soja e algodão). Este monocultivo pode levar ao agravamento de enfermidades antes consideradas pouco expressivas, ou determinada doença que seja comum às duas culturas, como mofo branco e mancha alvo. A mancha de ramulária, causada pelo fungo Ramularia areola, é um exemplo de doença que foi considerada pouco expressiva por vários anos e que atualmente é a principal doença do algodoeiro.
A região nordeste de Mato Grosso do Sul é responsável por uma grande parcela de produção do estado. Utiliza um sistema de cultivo de rotação de culturas em que aproximadamente 80% da área é semeada no mês de Dezembro. Esse é um dos motivos pelo qual o produtor tem conseguido conviver com algumas doenças como a Mancha alvo ocasionando pequeno impacto econômico. As condições climáticas de baixa precipitação ocorridas nos meses de Abril e Maio favoreceram o menor apodrecimento de maçãs. No entanto, a chuva que ocorreu nestes meses desencadeou uma das mais fortes epidemias da Mancha de ramularia (Ramularia areola) na região. Este fato foi constatado através do monitoramento realizado pela Fundação Chapadão em sua área experimental.
A mancha de ramulária é considerada a principal doença que acomete a cultura do algodoeiro. A redução de produtividade ocasionada por essa enfermidade chega a 30%, na região dos Chapadões.
Os sintomas da doença se iniciam com lesões nas folhas, localizadas na parte inferior da planta, com coloração branca-azulada na superfície inferior da folha. Nessa fase é difícil a detecção, devido a lesão possuir pouco brilho. Logo após é verificada esporulação do fungo com coloração branca ou amarelada e de aspecto pulverulento, caracterizados por causar necrose de formato angular (Figura 1). Quando ocorre alta severidade da doença, aliado a condições ambientais favoráveis, ocasiona grande desfolha precoce nas plantas de algodoeiro, impactando a produtividade.
Desde a safra 2009 vários trabalhos tem sido desenvolvidos a campo pela Fundação Chapadão e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) na busca por alternativas para um controle integrado da Mancha de ramularia em algodoeiro. O monitoramento e quantificação da severidade da doença a cada ano é uma das estrategias que auxiliam na tomada de decisão de controle na região.
Nas últimas oito safras tem sido observado que a incidencia da doença na área experimental vem ocorrendo no estádio de desenvolvimento do algodeiro “B2”, e que, as severidades verificadas nas última avaliações (Estádio C6), apresentam variação entre 27% a 80% de severidade (Figura 2). Esta oscilação de área foliar lesionada pelo patógeno está relacionada às condições ambientais que cada ano proporciona, sendo possivel afirmar através deste monitoramento que as condições verificadas nos meses de Março e Abril de cada ano determinam o potencial desta doença. Ainda é possível concluir que neste período os anos de 2013, 2016 e 2017(de menor pluviometria) são os de maior importancia da Mancha de ramulária na região dos Chapadões (Figura 2).
Dentre as estratégias de combate a doenças, o controle cultural tem sua importância no manejo do algodoeiro. Um exemplo clássico reside na rotação de cultura e na destruição dos restos culturais. Outro aspecto que está sendo estudado na região é a altura das plantas de algodoeiro, que também tem impactado sobre a severidade da Mancha de ramularia. Lavouras com porte menor (1,0m a 1,20 m) tem registrado aumento na severidade da doença. Este fato pode estar ligado à maior quantidade de luz que incide no interior do dossel da planta, favorecendo o aumento da temperatura e menor período de molhamento no período diurno. Posteriormente, no período noturno, a umidade propiciada pelo orvalho condiciona um ambiente extremamente favorável à ocorrência da doença. É valido ressaltar que em uma busca rápida na literatura encontra-se diversos autores afirmando que o patógeno Ramularia areola é favorecido por poucas horas de molhamento.
É necessário tomar algumas precauções na condução do porte das plantas, pois a falta de contenção do seu crescimento também pode favorecer o sombreamento foliar que predispõe a formação de microclima favorável ao desenvolvimento de fungos, proporcionando um ambiente adequado ao surgimento de doenças no algodoeiro como o apodrecimento de maçãs, mancha alvo e mofo branco.
O uso de cultivares resistentes representa um pilar dentre as estratégias utilizadas para o controle de doenças (Figura 3). O uso desta tecnologia é o método de controle mais desejável, por ser de baixo custo, alta eficácia e por causar menor impacto ambiental. Porém é extremamente importante a associação com outras medidas de controle como o manejo cultural e o controle químico, visto a possibilidade de variabilidade genética dos patógenos. Outro ponto questionável e ainda desafiador ao melhoramento genético é a durabilidade da tecnologia. Tem sido constatada a perda de resistência conforme a exposição dos cultivares ao longo do tempo. Em média tem se perdido a tecnologia a cada três anos na região dos Chapadões.
As medidas de controle para a mancha de ramulária adotadas na região dos Chapadões, assim como nas principais áreas produtoras de algodão do Brasil, é baseada principalmente na utilização de fungicidas. Isso ocorre devido a ação rápida que os fungicidas promovem para a supressão da doença e além de que se utilizado no momento correto e com rotação de produtos promove uma boa eficiência para o controle da doença.
Algumas precauções devem ser adotadas no momento da utilização do controle químico, sendo imprescindível que o uso dos fungicidas seja iniciado assim que as primeiras lesões forem identificadas nas folhas mais velhas. O monitoramento constante da lavoura é de extrema importância, uma vez que as primeiras lesões são de difícil identificação.
No controle químico é indispensável conhecer o modo e o tipo de ação do fungicida na planta, para tomar a decisão sobre qual produto usar e também sua época de aplicação. Fundamental, ainda, que seu emprego seja feito de maneira alternada com diferentes princípios ativos, pois esta estratégia é eficaz para evitar o aumento da frequência de isolados resistentes.
Na busca por soluções e melhor entender a estratégia de controle químico da mancha de ramulária na região a Fundação Chapadão realiza diversos trabalhos a campo desde o ano de 2010. Dentre as diversas pesquisas nesta linha de controle merece destaque ensaio realizado a cada ano, em dois locais (Chapadão do Sul e Costa Rica, Mato Grosso do Sul), para a comparação da eficiência de fungicidas registrados, possibilitando um acompanhamento da eficácia destes produtos ao longo dos anos (Figura 4).
Os resultados das ultimas três safras ascendeu uma “luz vermelha” sobre a eficácia destes fungicidas. Foi constatada uma redução de eficiência sobre a Mancha de ramularia. Um exemplo reside no tratamento com Tetraconazol usado de maneira isolada, que apresentava 91% de eficácia na safra 2013/2014 e reduziu para 23% de controle nesta safra (2016/2017). No entanto, quando o mesmo triazol foi utilizado em produto comercial associado a uma estrobilurina (Azoxistrobina+Tetraconazol), nota-se menor perda de eficácia, demonstrando melhor estabilidade ao longo dos anos ao contrário de um triazol sozinho, conforme dados apresentados na Figura 4.
Resultado semelhante está sendo constatado com outro triazol de formulação isolada, o Difenoconazol, que também na safra 2013/2014 apresentava eficácia de 95% e recentemente obteve média de 61% sobre o controle da doença. Já quando utilizado fungicida registrado, em associação com outro grupo químico (Azoxistrobina+Difenocozol) novamente apresenta melhor estabilidade em sua eficácia (Figura 05).
É valido ressaltar a importância de trabalhos regionais para avaliar individualmente os fungicidas, em aplicações sequenciais e assim determinar a eficiência de controle. Essas informações devem ser utilizadas na determinação de programas de controle, priorizando sempre a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação.
Um programa de fungicida na cultura do algodoeiro atualmente exige o uso de defensivo comercial que contenha dois modos de ação. Devido ao grande número de pulverizações em função do ciclo da cultura é recomendado utilizar programas com todos os grupos químicos disponíveis (Triazois, Estrobilurinas, Carboxamidas e Multi-sitios), a fim de evitar a seleção de isolados de fungos menos sensíveis ou resistentes.
Artigo publicado na edição 219 da Cultivar Grandes Culturas, mês agosto, ano 2017.
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