Uma das principais preocupações do produtor de soja, com relação à sanidade da cultura, é a ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. A doença pode causar perdas de até 90% na produtividade se não for manejada de forma adequada. As estratégias de manejo recomendadas no Brasil são a utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada; a eliminação de plantas de soja voluntárias e a ausência de cultivo de soja na entressafra por meio do vazio sanitário; o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura; o emprego de fungicidas no aparecimento dos sintomas ou preventivamente e a adoção de cultivares com gene de resistência, quando disponíveis. Essas estratégias são recomendadas em conjunto para o sucesso do controle.
Após o aparecimento da ferrugem asiática no Brasil, em 2001, o uso de fungicidas na cultura da soja foi intensificada. Atualmente, ao redor de 70 produtos possuem registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle dessa doença. Desde a safra 2003/04, ensaios cooperativos em rede vêm sendo realizados por diferentes instituições para a comparação dos defensivos registrados e em fase de registro e seus resultados têm sido divulgados nas reuniões do Consórcio Antiferrugem e nas Reuniões de Pesquisa de Soja do Brasil Central.
Na safra 2009/10 foram realizados 31 ensaios nas principais regiões produtoras por 25 instituições (Agrodinâmica, Coodetec, CTPA/ EMATER, Embrapa Agropecuária Oeste, Embrapa Cerrados, Embrapa Clima Temperado, Embrapa Soja, Fesurv, Fundação Bahia, Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, Fundação Chapadão, Fundação Mato Grosso, Fundacep, IAC/ DDD/ APTA, IFTM/ EPAMIG, Instituto Biológico, Instituto Phytus, Tagro, Universidade de Passo Fundo, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Universidade Federal de Goiás - campus Goiânia e Jataí, Universidade Federal de Uberlândia e Universidade Federal do Rio Grande do Sul). O delineamento dos ensaios não teve como objetivo avaliar o momento da aplicação e o residual dos diferentes produtos, sendo o único objetivo a comparação dos produtos, em uma mesma situação.
A lista de tratamentos, o delineamento experimental e as avaliações foram definidos de acordo com protocolo único para a realização da sumarização conjunta dos resultados dos ensaios, estando de acordo com as normas para avaliação e recomendação de fungicidas para a cultura da soja. O número de aplicações variou em função do início dos sintomas, sendo maior o número de aplicações nos ensaios onde os sintomas foram observados ainda no estádio vegetativo da cultura.
Foram avaliadas 10 misturas de triazóis e estrobilurinas e dois triazóis (Tabela 1). Os triazóis tebuconazol 100 g i.a. ha-1 e ciproconazol 30 g i.a. ha-1 foram incluídos nos ensaios para monitorar a eficiência desses produtos nas diferentes regiões. As aplicações começaram no estádio R1/ R2 (florescimento/ florescimento pleno) ou no período vegetativo, quando observados sintomas nessa fase. Para a aplicação dos produtos foi utilizado pulverizador costal pressurizado com CO2 e volume de aplicação mínimo de 120 L ha-1.
A porcentagem de controle da ferrugem, em relação à severidade da testemunha não tratada, variou entre os produtos, nos diferentes locais (Figura 1). As medianas da porcentagem de controle das misturas de triazóis e estrobilurinas variaram de 74% (trifloxistrobina 50 g i.a. ha-1 + tebuconazol 100 g i.a. ha-1 – T6) a 89% (trifloxistrobina 45 g i.a. ha-1 + protioconazol 52,5 g i.a. ha-1 – T10). Para os triazóis, as medianas da porcentagem de controle foram 31% (tebuconazol 100 g i.a. ha-1 – T2) e 40 % (ciproconazol 30 g i.a. ha-1 T3).
Dos 31 ensaios realizados nas diferentes regiões produtoras, quatro não foram incluídos nas análises devido à baixa severidade de ferrugem em R6 e/ou a não diferenciação entre os tratamentos e a testemunha sem controle. Para o agrupamento dos ensaios foi utilizada a relação entre os quadrados médios das análises individuais dos ensaios, para as variáveis severidade e produtividade. Na análise da severidade (Tabela 1) foram utilizados 15 ensaios.
As menores severidades e maiores porcentagens de controle foram observadas para os tratamentos T10 (trifloxistrobina 45 g i.a. ha-1 + protioconazol 52,5 g i.a. ha-1), T7 (picoxistrobina 60 i.a. ha-1 + ciproconazol 24 g i.a. ha-1), T5 (piraclostrobina 66,5 i.a. ha-1 + epoxiconazol 25 i.a. ha-1) e T4 (azoxistrobina 60 i.a. ha-1 + ciproconazol 24 i.a. ha-1). A ambigüidade do teste estatístico foi elevada para os tratamentos com misturas de triazóis e estrobilurinas, sendo a diferença de severidade entre o menor (T10 - 11,9%) e o maior valor (T6 – 18,4%) de 6,5%. O tratamento com tebuconazol 100 g i.a. ha-1 (T2) apresentou a menor porcentagem de controle (28%), seguido de ciproconazol 30 g i.a. ha-1 (T3), com 39% de controle em relação à testemunha não tratada.
Para a variável produtividade foram utilizados 21 ensaios para o agrupamento. Todos os tratamentos com misturas de triazóis e estrobilurinas apresentaram produtividade superior aos tratamentos com triazóis, sendo as maiores produtividades observadas para os tratamentos T10 (trifloxistrobina 45 g i.a. ha-1 + protioconazol 52,5 g i.a. ha-1), T7 (picoxistrobina 60 i.a. ha-1 + ciproconazol 24 g i.a. ha-1) e T5 (piraclostrobina 66,5 i.a. ha-1 + epoxiconazol 25 i.a. ha-1). Para as misturas de triazóis e estrobilurinas, a diferença de produtividade entre o maior (T10 – 2767 kg ha-1) e o menor valor (T6 – 2381 kg ha-1) foi de 386 kg ha-1. Os tratamentos com triazóis, que apresentaram as maiores severidades, inferiores somente a testemunha sem controle, também apresentaram as menores produtividades. Embora os resultados de severidade e produtividade tenham sido apresentados com uso de diferentes agrupamentos de ensaios, a correlação entre as duas variáveis foi de 0,99.
O delineamento dos ensaios cooperativos tem como objetivo a comparação de fungicidas em situações de alta pressão de inóculo. A diferenciação dos produtos, observada nos resultados desse trabalho, pode não ocorrer nas semeaduras realizadas no início da época recomendada, devido à menor pressão de inóculo do fungo.
Por conta da menor eficiência observada com os fungicidas do grupo dos triazóis, a partir da safra 2007/08, na região Centro Oeste, e nas demais regiões a partir da safra 2008/09, a Comissão de Fitopatologia da Reunião de Pesquisa da Região Central do Brasil, passou a indicar somente a utilização de misturas comerciais de triazóis com estrobilurinas para o controle da ferrugem. Os resultados apresentados na sumarização dos ensaios realizados em 2009/10 corroboraram com essa orientação.
Os resultados apresentados neste trabalho só foram possíveis devido ao trabalho conjunto de diversas instituições de pesquisa, que integram o Consórcio Antiferrugem. É importante reafirmar que os fungicidas representam uma das ferramentas de manejo, devendo ser seguidas as demais estratégias para o controle eficiente da doença.
Embrapa Soja
Tagro
Fesurv
Fundação Mato Grosso
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura