Direto, sim, mas com cuidado

Plantio direto é a forma de manejo de solo indicada para o cultivo da soja; sua implementação, entretanto, deve ser bem monitorada.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

No Brasil, o manejo do solo foi adaptado de outros países. A maioria deles, com clima temperado, possuía tradição no cultivo da soja com manejo baseado no revolvimento do solo com arado. Em razão do clima isso não causava danos sérios de degradação ao solo. Esse principio foi introduzido, com algumas adaptações, no Brasil.

Mais tarde, devido às vantagens de economia de tempo, a grade pesada foi incorporada ao processo, fazendo com que os dois implementos, por muitos anos, fossem os mais utilizados no preparo do solo. Porém, o clima quente do Brasil associado ao uso incorreto desses implementos e ao excessivo número de passagens posteriores da grade niveladora, causaram uma série de problemas, que resultaram no decréscimo gradativo de produtividade da soja e outras culturas.

Com o agravamento desses problemas e com o surgimento de novas informações geradas pela pesquisa, os escarificadores e os subsoladores passaram a ser utilizados no preparo primário do solo em substituição ou em alternância com os arados e com as grades penologias se o solo está degradado. O solo para proporcionar altas produtividades e estabilidade de produção necessita da preservação dos teores de matéria orgânica e das características físicas e biológicas do solo. Condição essa que faz parte da agricultura moderna, cada vez mais exigente e competitiva, e deve servir como estímulo aos agricultores a usarem alternativas mais efetivas, como o plantio direto, para minimizar a degradação ambiental e aumentar a qualidade e a produtividade da soja. Porém, para se ter sucesso com o plantio é necessário que o mesmo seja adotado e conduzido corretamente.

Por que o plantio direto

• Redução da erosão do solo. O plantio direto pode reduzir as perdas por erosão em mais de 80%, evitando com isso a poluição e o assoreamento de rios e represas;

• Melhora o armazenamento de água e a variação térmica do solo.

O plantio direto associado a sistemas de rotação de culturas, permite melhor aproveitamento da água do solo pelas plantas, permitindo maior infiltração e redução das perdas por evaporação. Permite também que o solo tenha menor variação térmica, devido à redução das altas temperaturas;

• Melhora a atividade biológica do solo.

Aumenta a biomassa microbiana do solo e possibilita a manutenção de agentes biológicos como o bacuolovírus;

• Aumenta a disponibilidade de nutrientes.

Especialmente do fósforo nas camadas superficiais que, devido à ausência de revolvimento, é menos fixado ao solo. Os teores de matéria orgânica e a disponibilidade de nitrogênio no solo também aumentam. Essa condição permite o uso mais eficiente e a racionalização da adubação no plantio direto.

• Aumenta a economia de combustível e racionaliza o uso de máquinas.

Principalmente no uso de tratores, devido à ausência de preparo, proporciona redução nos gastos com manutenção e reposição de peças, já que o maior desgaste ocorre nas operações de preparo do solo. Racionaliza a utilização do tempo, permitindo que a semeadura seja realizada na velocidade adequada e em solos em melhores condições de umidade. Essa condição possibilita que as lavouras sejam implantadas nas épocas recomendadas e com a população ideal de plantas;

• Estabilidade na produção.

O plantio direto associado à rotação de culturas possibilita a estabilização da produtividade da soja, principalmente, nos anos em que ocorrem períodos de veranicos.

Como começar

Para que as vantagens do plantio direto sejam demonstradas, é necessário que alguns requisitos básicos sejam considerados para que sua implantação tenha sucesso.

• Conscientização.

O plantio direto exige que tanto o técnico como o agricultor estejam convencidos de que o sistema é importante para a preservação do ambiente e para melhorar a rentabilidade agrícola. Devem estar predispostos a mudanças, conscientes de que algumas tecnologia são diferentes daquelas usadas no sistema convencional, necessitando de capacitação;

• Recursos humanos.

O agricultor deverá ser treinado e permitir que seus operadores de máquinas o sejam também, principalmente no uso e regulagem de semeadoras e na tecnologia de controle de plantas daninhas. O acompanhamento da assistência técnica é indispensável, pois muitas das decisões requerem informações específicas que necessitam da participação de um Engenheiro Agrônomo;

• Área inicial.

A área inicial sob plantio direto deve ser pequena, para que o agricultor possa adquirir experiência. Só após familiarizado com o sistema, deve aumentar a área na propriedade;

• Levantamento dos recursos.

É necessário o levantamento das condições do solo, da incidência de plantas daninhas, da disponibilidade de máquinas e implementos agrícolas, além do potencial dos recursos humanos;

• Solos.

Organizar as informações referentes a tipos de solo, fertilidade, acidez, presenças de camada compactada, ocorrências de erosão, vias de acesso e toda infra-estrutura, para representarem com fidelidade as condições da propriedade. De posse das informações, é imprescindível que as áreas que apresentam os seguintes problemas sejam observadas:

1. Acidez do solo: a acidez do solo deve ser corrigida a uma profundidade de 20 a 25 cm;

2. Compactação do solo: o solo deve estar livre de camadas compactadas e nivelado. A operação de descompactação pode ser feita com escarificadores, subsoladores ou arados. A profundidade desse trabalho deve ser indicada pela avaliação da resistência do solo à penetração;

• Cobertura do solo.

É imprescindível a presença de cobertura com restos de culturas, para a proteção do solo. Para isso é importante utilizar rotação de culturas com espécies que deixem sobre o solo boa quantidade de restos de cultivo. Na colheita de grãos, a colhedora deve ser provida de picador de palhas ou de outra adaptação, regulados para fragmentar os resíduos e distribuí-los uniformemente sobre a superfície do solo. O manejo das espécies utilizadas para adubação verde poderá ser feito com herbicidas;

• Plantas daninhas.

Evitar iniciar o plantio direto em áreas com infestação de espécies de plantas daninhas de difícil controle, como guanxuma, capim amargoso, dentre outras. Procurar controlar essas espécies antes de iniciar o sistema;

• Máquinas e implementos agrícolas.

Já existe um bom número de modelos de semeadoras para serem utilizadas no plantio direto que permitem um bom estabelecimento das lavouras de soja ou de qualquer outra cultura. A textura do solo é um dos parâmetros orientadores da escolha do modelo de semeadora. Outros parâmetros importantes são a capacidade de cortar resteva e abrir sulcos, uniformizar a profundidade de semeadura e cobrir as sementes. Nessa etapa devem ser considerados os tipos de discos que fazem o corte da palhada e a abertura de sulcos, a necessidade de pequenos sulcadores (botas ou escarificadores) junto aos discos, presença de limitador de profundidade de semente, dentre outros. Discos maiores, defasados e desencontrados são mais adequados para o trabalho em áreas com grande quantidade de palhada. As culturas que fazem parte do sistema de rotação empregado na propriedade devem, também, influenciar sobre a escolha da semeadora, no que toca ao sistema de distribuição de sementes de diferentes tamanhos.

Condução do plantio direto

Em razão do clima e do solo, o plantio direto tem comportamento distinto e dinâmico nas diferentes regiões do Brasil. Para se definir as estratégias para sua condução necessita-se de um acompanhamento especifico em cada região e propriedade, contemplando o monitoramento da fertilidade e das características físicas de solo, da dinâmica de pragas, doenças e plantas daninhas, além da produtividade das culturas.

• Compactação do solo.

É assunto polêmico, quando se trata de plantio direto principalmente nos solos originados do basalto, como os latossolos roxos e as terras roxas. Porém, deve ficar claro que a compactação não inviabiliza o plantio direto, porém exige um melhor acompanhamento. Os problemas de compactação são mais acentuados quando o sistema é implantado em condições de solo degradado, pois nos primeiros anos podem aparecer problemas de adensamento. Não há definição de intervalo ou de freqüência de anos para descompactar o solo. Essa operação deverá ser realizada somente a partir do monitoramento e da comprovação do problema.

• Monitoramento da compactação.

Para ser realizado, é importante que a propriedade seja dividida em glebas, determinado pelo histórico de manejo da área e da morfologia do solo. A partir de um histórico de produtividade de cada gleba, que contemple o maior número de anos possível, analisar as tendências de produtividade. Tendo sido caracterizado o decréscimo de produtividade, verificar se o mesmo não foi causado por problemas climáticos, pragas, doenças, deficiências de nutrientes, acidez do solo, exigências termo-fotoperiódicas das cultivares, além de outras. Excluídas essas possibilidades, a melhor maneira de se verificar o efeito da compactação sobre o desenvolvimento da soja é através de um diagnóstico da resistência do solo obtido com auxílio de um penetrômetro, complementado com abertura de trincheira para avaliação de raízes.

Estando o solo na faixa de umidade friável, valores de resistências à penetração em torno de 3,5 MPa são indicativos de baixa probabilidade de compactação. Os valores acima de 5,0 MPa são elevados e, se constatada queda de produtividade, sugerem que o diagnóstico deve ser complementado com a abertura de trincheira para a avaliação da estrutura do solo e da distribuição do sistema radicular nas diferentes camadas, de preferência até à profundidade de 40 cm. O formato e a orientação das raízes são aspectos importantes. Raízes grossas e achatadas, com aspecto recurvado e orientação vertical prejudicada, são constatações de compactação.

No interior das estruturas do solo compactadas há poucas raízes, baixa atividade biológica e ausência, quase que completa, de orifícios e porosidade. Ao serem quebradas, evidenciam faces de rupturas lisas e aspecto prismático. As estruturas não compactadas apresentam superfície rugosa, com aspecto arredondado, sendo possível a visualização de porosidade e fissuras. Neste ambiente há desenvolvimento radicular bastante ramificado e em forma não achatada.

• Controle da compactação. A adoção de um sistema de rotação de culturas é a mais importante ação para atenuar o problema. Aqueles sistemas que envolvem espécies com sistema radicular vigoroso e profundo, como o do guandu, o das crotalárias, o da aveia preta, o do tremoço, o do nabo forrageiro, o do milho, e o do milheto, auxiliam na redução da compactação do solo, principalmente se os cultivos posteriores forem realizados com veículos e equipamentos que exerçam baixa pressão sobre o solo. Rodas mais largas e os veículos de tração trafegando quando o solo estiver na consistência friável ou seco, auxiliam na prevenção da compactação.

• Manejo da compactação.

A primeira alternativa mecânica é a utilização de semeadoras dotadas de facões próximos aos discos de corte, que fazem a descompactação do solo na linha de semeadura, permitindo a passagem das raízes. O formato e as características dos facões são muito importantes. Facões mais largos mobilizam mais o solo na superfície, retiram os restos de cultivo da linha de plantio e podem prejudicar a operação de semeadura, em relação aos facões mais estreitos e com angulo de ataque mais adequado. Em razão da semeadura da maioria das culturas ser feita com o solo úmido, o trabalho de descompactação com facão ficará restrito apenas à linha de semeadura, podendo, além disso, provocar o aparecimento de uma superfície espelhada nas paredes do sulco de semeadura, que poderá prejudicar a passagem de raízes. A maioria dos modelos de facões possibilita o corte do solo a profundidades que não ultrapassam os l2 cm. O trabalho em maior profundidade exige facões mais robustos e um grande esforço de tração. Apesar de algumas desvantagens, essa tecnologia vem sendo usada com sucesso, já há muitos anos.

A outra alternativa viável é baseada na utilização de alguns tipos de escarificadores, cujo formato das hastes permite que a camada de solo compactada seja rompida, sem afetar muito o nivelamento do terreno. A semeadura posterior, poderá ser realizada sem a necessidade do uso de grade para o nivelamento do terreno ou, na pior das hipóteses, apenas com uma passagem de grade. Essa operação de descompactação deve ser feita após a colheita da soja e antes da semeadura do trigo ou da aveia, ou de outra espécie que apresente rusticidade para germinar. A observação e a adoção dessa seqüência de trabalhos de descompactação é importante porque: a) a cultura da soja produz uma quantidade relativamente pequena de restos de cultivo, que são de rápida decomposição. Quando bem fragmentados e distribuídos sobre o terreno, permitem que a operação de descompactação do solo seja feita com o mínimo de embuchamento do implemento; b) a maior rusticidade das culturas de trigo e de aveia garantem germinação satisfatória e um bom estabelecimento de lavoura, mesmo em terreno com pequenos problemas de nivelamento.

Para evitar o embuchamento da semeadora, devido à presença de palha na superfície do terreno e o solo estar ainda muito solto, recomenda-se esperar que ocorra uma ou duas chuvas, para que o solo assente, para depois se realizar a semeadura e nesse caso, com velocidade de operação reduzida. Como norma, preparar o solo no estado de consistência friável,. para não levantar muitos torrões, mesmo que isso prejudique um pouco a eficiência da descompactação do solo.

Eleno Torres e Odilon Ferreira Saraiva,

Embrapa Soja

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