Desempenho produtivo de cultivares de soja

É fundamental conhecer as principais características e estabilidade produtiva do material genético, para posicioná-lo conforme as condições de cultivo

28.04.2020 | 20:59 (UTC -3)

A escolha de cultivares adequados ao nível tecnológico que será empregado pelo sojicultor é um dos fatores decisivos na formação dos componentes da produtividade de grãos. Por isso é fundamental conhecer as principais características e a estabilidade produtiva do material genético, para posicioná-lo conforme as condições de cultivo.

A escolha do cultivar a ser semeado é uma decisão essencial para dar-se início a um bom manejo da lavoura. Estima-se que no processo de escolha, semeadura e estabelecimento são definidos 50% da produtividade da cultura da soja. Atualmente, são comercializados mais de 300 cultivares de soja (de 1486 cultivares registradas) em todo território nacional. Algumas de suas particularidades precisam ser bem esclarecidas e atestadas para cada condição de cultivo. São elas, o grupo de maturação, o tipo de crescimento, a resposta a adubação, a rusticidade a doenças, dentre outros. Tendo em vista sanar algumas destas respostas, foi conduzido um experimento com cultivares de soja, com o objetivo de fazer a caracterização produtiva de cada um destes materiais, para as condições edafoclimáticas de Santa Maria, Rio Grande do Sul.

O experimento foi conduzido na área experimental do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O solo da área é classificado como Argissolo Vermelho Distrófico Arênico, pertencente à Unidade de Mapeamento São Pedro (EMBRAPA, 2006). O clima da região, conforme a classificação de Köppen é do tipo Cfa (HELDWEIN et al., 2009).

A semeadura foi realizada em 10 de novembro de 2014 com semeadora adubadora de plantio direto, utilizando 20 sementes aptas m/linear, espaçados por 0,45m e 350 kg/ ha, de adubo formulado NPK (05-20-20). As sementes foram tratadas com inseticida e fungicida e inoculadas com bactérias do gênero Bradyrhizobium spp. no dia da semeadura. Os demais manejos da cultura foram feitos de acordo com as recomendações técnicas.

Foram avaliados 42 cultivares de soja, conforme descrito na Tabela 1. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso com quatro repetições. A unidade experimental totalizou 15,75m². A colheita foi realizada de acordo com a maturação fisiológica de cada cultivar, tendo sua umidade ajustada para 13%. A massa de grãos foi determinada pela contagem direta de oito repetições de 100 grãos. Procedeu-se a análise da variância (Teste F) e teste de comparação de médias Skott-Knott (α≤0,05) com auxílio do software SISVAR® (FERREIRA, 2008).

Quanto a produtividade de grãos (Tabela 1), destacaram-se os cultivares DM 5958 RSF IPRO, TMG 7062 IPRO, SYN 1365 RR e M 5947 IPRO. Todos citados ultrapassaram a marca de 4,2 t/ ha (70 sacos/ ha). Essas marcas representam 50% a mais da média do estado do Rio Grande do Sul (2835 kg/ ha) e 42% a mais na produtividade de grãos no país (2998 kg/ ha). Foram dispostas às mesmas condições de cultivo para todos os materiais, portanto, considera-se que esses quatro cultivares apresentam alta capacidade produtiva e adaptaram-se bem às condições do presente ano na região de Santa Maria.

Alguns aspectos em comum podem ser destacados dentre esses cultivares, como base genética, grupo de maturação relativa, tipo de crescimento, dentre outros. Com a utilização de novas tecnologias agregadas as sementes as cultivares possuem aumento na produtividade; proteção às principais lagartas que atacam a cultura da soja; e tolerância ao glifosato. Todos os quatro cultivares possuem o tipo de crescimento indeterminado e ciclo médio (GMR = 5.8 - 6.5). Salienta-se que o cultivar SYN 1365 RR não possui a tecnologia INTACTA, e também não é recomendado para cultivo na região RS 101, mesmo tendo correspondido com elevada produtividade de grãos. O cultivar TMG 7062 IPRO incorpora também em sua base genética a tecnologia INOX, onde há a presença de um gene resistente à ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizie), aliado a máxima expressão do potencial produtivo e elevada massa de grãos.

Contudo, deve-se observar que o manejo de plantabilidade, principalmente o número e distribuição de plantas deve ser ajustada e observada para cada cultivar e isso nem sempre foi possível para esse experimento. Realizada tal adequação, a planta ajustará a emissão de ramos foliares e elongação dos entrenós, proporcionando um melhor desempenho produtivo para as cultivares (MUNDSTOCK; THOMAS, 2005). O correto arranjo de plantas é fundamental na diminuição da competição intraespecífica.

A competição entre plantas tem sido assunto de pesquisa há muitos anos, para a a uniformização do dossel desde a germinação da semente, maturação e colheita. Os trabalhos indicam modificações na arquitetura de plantas inerentes à redução do espaçamento entre fileiras (VENTIMIGLIA et al., 1999) e ajuste da população de plantas (PIRES, COSTA; THOMAS, 1998). Os efeitos de diferentes níveis de vigor entre as sementes dentro de um lote (KOLCHINSKI, SCHUCH; PESKE, 2005); uniformidade na emergência (MEROTTO JUNIOR et al., 1999); o tamanho inicial das plântulas (VANZOLINI et al. 2007); rendimento de sementes das plantas individuais dentro das comunidades (SCHUCH; KOLCHINSKI; FINATTO, 2009); dentre outros.

Quanto a massa de grãos, observou-se os cultivares TMG 7062, BMX TURBO RR, TEC 6029 IPRO, TEC 5936 IPRO e FUNDACEP 66 RR, com destaque para esta última com 223 gramas/mil grãos. Assim como no número de grãos por vagem, a massa de grãos é um valor característico de cada cultivar, porém, isso não impede que esse valor se altere em função das condições ambientais e de manejo aos quais a cultura é submetida (SILVA et al., 2011).

Os cultivares TEC 7849 IPRO e TEC 5718 IPRO, por exemplo, apresentavam em suas informações técnicas provindas do distribuidor 148 gramas/mil grãos a 176 gramas/mil grãos e 182 gramas/mil grãos a 210 gramas/mil grãos, respectivamente. No experimento foi encontrado um valor divergente de 119 gramas/mil grãos e 142 gramas/mil grãos, respectivamente. O aumento da densidade populacional provocou uma plasticidade na planta (estiolamento/acamamento), modificando-a de maneira que prejudicou o enchimento dos grãos. Autores como PIRES et al. (1998) comprovaram que há alteração na massa de grãos quando é utilizada uma população de plantas inadequada. Outro aspecto diz respeito ao aumento da massa e tamanho dos grãos quando o espaçamento entre plantas é equidistante, e que esse aumento ocorre também com a diminuição da população (MOORE, 1991).

Portanto, a escolha do cultivar adequado ao nível tecnológico que será empregado pelo sojicultor, bem como, fatores do ambiente favoráveis (bióticos e abióticos) são decisivos na formação dos componentes da produtividade de grãos. Assim, salienta-se a importância de conhecer as principais características e estabilidade produtiva do material genético, posicionando-o conforme as condições de cultivo.

 

Alguns aspectos em comum podem ser destacados entre as cultivares como base genética, grupo de maturação relativa e tipo de crescimento.
Alguns aspectos em comum podem ser destacados entre as cultivares como base genética, grupo de maturação relativa e tipo de crescimento.

Alguns aspectos em comum podem ser destacados entre as cultivares como base genética, grupo de maturação relativa e tipo de crescimento.
Alguns aspectos em comum podem ser destacados entre as cultivares como base genética, grupo de maturação relativa e tipo de crescimento.

Alguns aspectos em comum podem ser destacados entre as cultivares como base genética, grupo de maturação relativa e tipo de crescimento.
Alguns aspectos em comum podem ser destacados entre as cultivares como base genética, grupo de maturação relativa e tipo de crescimento.

Alguns aspectos em comum podem ser destacados entre as cultivares como base genética, grupo de maturação relativa e tipo de crescimento.
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Alguns aspectos em comum podem ser destacados entre as cultivares como base genética, grupo de maturação relativa e tipo de crescimento.

Alguns aspectos em comum podem ser destacados entre as cultivares como base genética, grupo de maturação relativa e tipo de crescimento.
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Soja e desafios de produtividade

O Brasil encerrou a safra 2014/15 como segundo colocado mundial na produção de soja, com 95 milhões de toneladas, sendo superado apenas pelas 108 milhões de toneladas produzidas nos EUA (USDA, 2015). A área semeada no Brasil foi de 32 milhões de hectares, com produtividade média aproximada de 3 t/ ha (±50 sc/ha). No Rio Grande do Sul, houve acréscimo da área cultivada com a oleaginosa (5,6%) em relação à safra anterior, com produtividades abaixo da média nacional (2,8 t /ha) (CONAB, 2015). A lavoura gaúcha vem aumentando suas produtividades de grãos médias (8,1% em relação à safra anterior), porém, ainda longe das médias nacionais. Isso pode estar atrelado principalmente as distintas condições de manejo da cultura advindas das condições de relevo. O Rio Grande do Sul pertence a macrorregião sojícola número 01, com regiões edafoclimáticas identificadas como 101, 102 e 103 (EMBRAPA, 2014). A região edafoclimática 101 abrange a maior parte do território do estado, sendo a predominância dos municípios pelo cultivo em áreas de terras baixas. Por característica própria do solo, geralmente argissolos, há excesso de umidade e manejo de palhada deficiente. A adaptação do cultivo às áreas de terras baixas também pode resultar em menores produtividades. Em contrapartida, as demais regiões 102 e 103 predominam áreas mais tecnificadas e de adoção do sistema de semeadura direta de longa data faz com que as médias de produtividades sejam maiores em relação a região 101. As práticas de manejo devem ser adotadas para cada situação buscando sempre, o máximo retorno econômico a curto prazo (produtividade em R$/ha) e a longo prazo (conservação dos recursos).

 

Glauber Monçon Fipke, Fabiano Colet, Anderson da Costa Rossatto e Thomas Newton Martin, UFSM


Artigo publicado na edição 203 da Cultivar Grandes Culturas.

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