Desafios da CVC

Apesar de não existir ainda um manejo completamente eficaz para o controle da CVC, estudos já detectaram os principais hospedeiros e formas de disseminação, possibilitando que o produtor adote medidas preventivas para evitar a

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O desenvolvimento de uma doença requer a ocorrência simultânea de três fatores: hospedeiro suscetível, patógeno em condições de infectar a planta e se desenvolver às custas dela e ambiente favorável. A epidemiologia, que é a ciência que estuda os diversos fatores que atuam no desenvolvimento de uma doença, é uma importante ferramenta que auxilia na definição de estratégias de controle. Desta forma, com o objetivo de compreender o papel dos principais fatores que influenciam o desenvolvimento da CVC (Clorose Variegada dos Citros), vários estudos vêm sendo realizados, como, por exemplo, os relacionados à determinação de quais insetos são vetores da bactéria e sua implicação na disseminação da doença, bem como os aspectos da evolução da CVC no pomar e a distribuição das plantas doentes nos talhões em distintas regiões.

Com relação à análise do desenvolvimento da doença, tanto no tempo quanto no espaço, inúmeros trabalhos foram feitos nos últimos anos, o que permitiu uma melhor compreensão dos fatores envolvidos no desenvolvimento da doença. Assim, através da análise de diversos talhões, nas diferentes regiões do Estado de São Paulo e estações do ano, concluiu-se que as épocas mais favoráveis para o desenvolvimento da doença são a primavera e o verão, enquanto que no outono e no inverno a doença praticamente não evolui. De acordo com esses resultados, a primavera e o verão, além de serem as épocas de maior expressão da doença, também correspondem aos períodos de maior probabilidade de infecção. Com base em levantamentos realizados entre 1996 e 1999, nas várias regiões citrícolas de São Paulo, verificou-se a ocorrência de um gradiente de incidência da doença entre as regiões: Norte> Noroeste> Centro> Sul. Esse fato ocorre, provavelmente, devido a diferenças de inóculo inicial, estirpes da bactéria, flutuação populacional de vetores, padrão de emissão de brotações e condições climáticas entre as quatro regiões. Além disso, não se descarta a possibilidade de que outros fatores também possam estar envolvidos nas diferenças de intensidade de doença entre as regiões.

Estudos do arranjo e dinâmica espacial das plantas doentes sugerem associação com vetores de limitada dispersão aérea, de modo que se determinou que as plantas doentes estavam separadas entre si, em média por 11 metros. A explicação para esse fato é que as cigarrinhas, em sua busca por alimentos, realizariam uma seqüência de diversos vôos curtos, seguidos de um longo, o que gera focos pequenos de plantas doentes, os quais aumentam quando estes coalescem. Outro fato observado nesses estudos é que a agregação de plantas doentes ocorre principalmente nas bordas dos talhões, notadamente quando há talhões contaminados na vizinhança. Também foi demonstrado que a direção dos ventos predominantes, assim como a passagem de máquinas não influenciam a disseminação da CVC nos pomares.

Na tentativa de se determinar as plantas hospedeiras da bactéria, verificou-se que a mesma pode ser detectada em café, ameixeira, videira, seringueira, uma espécie de hibisco (

) e em diversas plantas daninhas, como guanxuma e capim pé-de-galinha. Essa informação é de suma importância, principalmente no tocante ao manejo da doença, uma vez que esses hospedeiros podem servir de fonte de inóculo da bactéria para as plantas cítricas. Contudo, o impacto epidemiológico desse fato é pequeno em função da existência de outras fontes de inóculo mais importantes, principalmente talhões vizinhos contaminados. Estudos ainda são necessários para confirmar se a bactéria presente em um dado hospedeiro, como por exemplo, café, pode infectar as plantas de laranja e vice-versa. Essas informações são importantes, uma vez que muitas das áreas de produção de citros e de café são adjacentes. Deste modo, as possíveis relações epidemiológicas entre essas doenças devem ser pesquisadas urgentemente. A epidemiologia das duas doenças torna-se mais complexa por envolver duas estirpes de

aparentemente distintas e duas plantas hospedeiras visitadas pelo mesmo grupo de cigarrinhas vetoras.

De acordo com os inúmeros trabalhos epidemiológicos realizados, notadamente pelo pesquisador Francisco Ferraz Laranjeira (EMBRAPA Mandioca e Fruticultura), foi gerado um modelo hipotético para explicar a epidemiologia da doença. Esse modelo hipotético considera que a população de vetores, que se alimenta em plantas cítricas, aumenta nas épocas favoráveis ao desenvolvimento das plantas, principalmente na primavera e no verão, devido às boas condições para o desenvolvimento e migração dos insetos. Contrariamente, essa população diminui no outono e no inverno, devido ao baixo desenvolvimento da população, assim como função da fuga dos insetos em busca de locais mais favoráveis à sua sobrevivência. Com base nessas informações, acredita-se que ocorra a seguinte seqüência de eventos: 1) Primavera e verão: ocorrência de chuvas e aumento de temperatura; diminuição do déficit hídrico; novas brotações, tanto em plantas sadias quanto em doentes; imigração dos vetores para os hospedeiros preferenciais e adequados, ou seja, para as plantas cítricas; crescimento da população de vetores em função de condições climáticas favoráveis (aumento da temperatura) e da existência de alimento em abundância; altas taxas de transmissão e infecção. 2) Outono e inverno: diminuição de chuvas e temperatura; aumento do déficit hídrico; ausência de novas brotações e depauperamento da vegetação existente; migração da população de vetores em busca de hospedeiros mais adequados; diminuição progressiva da população não-migrante em função de condições climáticas desfavoráveis e ausência de vegetação adequada no hospedeiro preferencial; diminuição das taxas de transmissão e infecção.

O patossistema

-citros possui características próprias e únicas, e conclusões inferidas a partir do conhecimento de outros patossistemas que envolvem a mesma bactéria, podem não se aplicar a citros. Neste sentido, para este patossistema em particular, mais do que nunca, são atuais as palavras do “pai” da epidemiologia de doenças de plantas (Vanderplank), segundo o qual “a indústria química e os melhoristas forjam boas armas táticas; mas somente a epidemiologia dita a estratégia”. Assim, com base em todos os conhecimentos epidemiológicos adquiridos desde o aparecimento da doença no Brasil, sem prescindir de outras áreas de pesquisa, foi possível estabelecer um manejo racional e econômico da CVC. Este manejo exige cuidados e dedicação por parte do citricultor e está baseado em três fatores: utilização de mudas sadias; poda de ramos com sintomas iniciais em plantas com mais de três anos e erradicação de plantas doentes que tenham idade inferior a esta, e controle do vetor (cigarrinhas). Além dessas medidas, é importante manter os tratos culturais exigidos pelo pomar. Deve-se ressaltar que as medidas de manejo deverão ser utilizadas de maneira integrada para se obter êxito.

A CVC (Clorose Variegada dos Citros) ou Amarelinho foi identificada oficialmente no Brasil em 1987 em pomares do Triângulo Mineiro e do norte e noroeste do Estado de São Paulo. Embora essas sejam as regiões mais afetadas até hoje, ela já está presente em quase todas as áreas citrícolas do país. Atualmente cerca de 43,56% das plantas do parque citrícola paulista apresentam sintomas, com predomínio para as regiões mais quentes.

A CVC é causada pela bactéria

que, restrita ao xilema da planta, provoca o entupimento dos vasos. Os primeiros sintomas são vistos nas folhas, passam posteriormente para os frutos e acaba afetando toda a planta, sendo que quanto mais nova a planta, maior a chance de ser infectada. Os sintomas foliares podem ser caracterizados como manchas cloróticas esparsas, de formato irregular e localizados, principalmente, próximas às bordas do limbo. É comum a ocorrência de subdesenvolvimento, assim como a presença de desfolha e morte de ramos do ponteiro da planta. Com o agravamento da doença, os frutos ficam queimados pelo sol, com tamanhos reduzidos, endurecidos, aparentam deficiência de potássio e tem maturação precoce. Nesse estágio, são imprestáveis para o comércio e podem causar danos às máquinas de moagem das fábricas de suco. Em plantas muito afetadas, já em um estágio avançado da doença, nota-se a presença de ramos secos, desfolhados e com pencas de frutos miúdos.

No tocante aos vetores, sabe-se até o momento que as espécies

e

são comprovadamente transmissoras da doença. Dessas onze espécies, as mais eficientes são

e

, com porcentagens de transmissão de 17,3 e 12,8%, respectivamente. De modo geral, a porcentagem de transmissão da bactéria pelas cigarrinhas vetoras é baixa, ao contrário do que ocorre com outros patossistemas que envolvem a mesma bactéria. Este fato possibilita o emprego de inseticidas para controle dos vetores.

e

Fundecitrus

.

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