Cydia pomonella

Cydia pomonella é uma das mais importantes pragas da maçã no mundo. Veja as alternativas de controle e erradicação.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A fruticultura de clima temperado tem grande importância econômica nos estados da região sul do Brasil. Nos últimos anos, houve uma expansão da área plantada, sendo a macieira a cultura que mais cresceu. Em 1974, o Brasil possuía 170 ha e, em 1998, a área cultivada chegou aos 28.000 ha, concentrados nas regiões de Fraiburgo e São Joaquim (SC) e de Vacaria, Caxias do Sul e Bom Jesus (RS).

Nos últimos anos o país passou de grande importador de maçãs a exportador, principalmente para o mercado europeu. Algumas pragas exóticas se estabeleceram, como o ácaro vermelho europeu (

) e a mariposa oriental (

Além disso, espécies nativas de insetos colonizaram a macieira, como a lagarta enroladeira (

(Meyrick)) e a mosca-das-frutas sul-americana (

(Wied.).

Não se pode dizer que o Brasil tenha atingido a auto-suficiência na produção de maçãs pois uma grande quantidade de frutos continua sendo importada, principalmente da Argentina e Chile. Assim, através das importações, um novo inseto foi introduzido no país, com potencial de tornar-se uma praga importante. Trata-se da

(Linnaeus), uma das pragas mais importantes da maçã no mundo. No Brasil, embora algumas publicações a citem como praga, ela ainda não foi detectada nos pomares comerciais de macieira, somente em hospedeiros nas áreas urbanas. De acordo com portarias do Ministério da Agricultura, a

é considerada uma praga quarentenária A2, pois encontra-se em áreas restritas e sob controle oficial do Ministério da Agricultura.

Os ovos são depositados isoladamente nas folhas ou nos frutos, sendo achatados e circulares. As larvas, quando recém-eclodidas, procuram um lugar por onde entrar no fruto. Elas penetram na polpa e se alojam junto às sementes. A coloração é branca no início do desenvolvimento, passando a rosada nos ínstares finais. Quando terminam o desenvolvimento, as larvas deixam o fruto e empupam na casca da árvore. As pupas são castanhas e medem cerca de 1 cm de comprimento. A emergência dos adultos inicia na primavera. Os adultos medem 15-20 mm de expansão alar. As asas anteriores são acinzentadas e apresentam uma mancha circular escura rodeada de escamas acobreadas na extremidade. As asas posteriores são cinza pálido. A atividade sexual é crepuscular e limitada pela temperatura. Os machos iniciam vôo a 12,5o C e as fêmeas, a 15o C.

O estabelecimento desta praga nos pomares comerciais do Brasil traria prejuízos incalculáveis, tanto diretos (perda de frutos e aumento no número de aplicações de inseticidas) quanto indiretos (fechamento de mercados externos e necessidade de se implementarem métodos efetivos de controle pós-colheita). Com essa preocupação, foi criado o Programa Nacional de Prevenção e Controle da Cydia pomonella (PNPCCP) através da Portaria 131, de 20.06.1994. Este programa é coordenado pelo Ministério da Agricultura incluindo as Delegacias da Agricultura e conta com o apoio da Embrapa Uva e Vinho, Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), Escritórios Estaduais de Assistência Técnica (EMATER-RS e EPAGRI-SC) e das Secretarias Municipais de Agricultura e da Cidasc.

Programa de monitoramento

Como na maioria dos lepidópteros, o encontro entre machos e fêmeas da

é mediado pela emissão de um feromônio sexual pelas fêmeas. Assim, o monitoramento é efetuado utilizando-se armadilhas modelo delta e feromônio sexual sintético como atrativo.

Durante a década de 80, eram usadas cerca de 10 armadilhas com feromônio para definir se a C. pomonella estava presente no Brasil. Neste período, não se constatou a presença da praga. Os quatro primeiros exemplares de C. pomonella foram capturados em um pomar doméstico, nas imediações da área urbana de Vacaria na safra 91/92. O Dr. Vitor Becker (EMBRAPA/CPAC) confirmou a identificação da espécie. A partir de 1993, o Programa passou a ser oficial e o monitoramento foi estendido também para as áreas urbanas.

O monitoramento tem sido efetuado em quatro estados (RS, SC, PR e SP) com uma concentração maior de armadilhas no RS e SC por serem os maiores produtores de maçã. Entre os municípios monitorados, foram identificados focos nas áreas urbanas de Caxias do Sul, Bom Jesus e Vacaria, no RS e em Lages (SC). Outros municípios com uma extensa área plantada com maçãs como Fraiburgo e São Joaquim (SC) apresentam-se livres do inseto.

O número de exemplares capturados vem aumentando nos últimos anos. As áreas urbanas apresentam uma alta disponibilidade de hospedeiros que, em geral, não são tratados com inseticidas. Isso pode ter favorecido o crescimento populacional de

nestas áreas, que se constituem, atualmente, em focos perigosos para pomares comerciais localizados nas imediações.

O monitoramento com armadilhas de feromônio permitiu acompanhar a flutuação da população de adultos de

em áreas urbanas nas condições climáticas do sul do Brasil e o que se observa é um padrão muito similar ao encontrado em outros países como Argentina, Uruguai e Chile. As primeiras capturas ocorrem em setembro e os maiores níveis populacionais são observados no final de outubro/novembro. Atualmente, a prevalência da praga é ampla, principalmente em Lages onde mais de 80% das armadilhas instaladas chegaram a capturar machos na safra de 1997/98.

Larvas coletadas em hospedeiros na área urbana de Vacaria entram em diapausa a partir de janeiro permanecendo nesta condição até o início da primavera. Este aspecto é preocupante pois os fatores climáticos encontrados no Brasil não são limitantes ao estabelecimento da

É importante ressaltar que a

ainda não está estabelecida em pomares comerciais de macieira do Brasil. Isto pode ser observado através do monitoramento que vem sendo efetuado ao longo dos últimos anos em áreas comerciais, utilizando armadilhas com feromônio sexual sintético como atrativo. Os tratamentos direcionados para o controle de mosca-das-frutas (

) e para a lagarta enroladeira (

) provavelmente estejam impedindo o estabelecimento nas áreas comerciais. Entretanto, os novos programas de manejo dessas duas pragas nativas bem como a nova filosofia de produção – PRODUÇÃO INTEGRADA, visando o uso racional de inseticidas para proteger o meio ambiente e o consumidor, poderá favorecer a expansão da

para os pomares comerciais de macieira. Em função desse risco, e por se tratar de uma praga quarentenária, foi elaborado o programa de erradicação da

(supressão populacional) nas áreas consideradas críticas.

Supressão populacional

Uma vez que a

foi detectada na região de produção de maçã e está restrita às áreas urbanas, optou-se por um programa de supressão populacional. A falta de recursos e dificuldade de obter armadilhas e feromônios legalmente tem sido os grandes responsáveis pela lentidão nas ações, sendo que até 1997, todos os custos eram cobertos pelas associações de produtores de maçãs (ABPM, AGAPOMI).

Vacaria e Bom Jesus (RS) foram definidos como as áreas mais críticas por apresentarem pomares comerciais próximos a área urbana, embora a densidade populacional seja menor que a de Lages.

Erradicação de hospedeiros

Inicialmente, propôs-se o corte de árvores hospedeiras na área urbana. Foi elaborado um cadastramento dos hospedeiros presentes nos quintais (macieira, pereira, nogueira e marmeleiro). Durante este levantamento o proprietário era questionado se aceitaria substituir as plantas hospedeiras por mudas de frutíferas nativas não hospedeiras. A rejeição foi superior a 50%, fazendo com que o programa mudasse de direcionamento. Além disso, o corte das árvores poderia levar à dispersão dos adultos emergentes para os pomares, embora isso poderia ser acompanhado através da intensificação do monitoramento.

Sistema atrai-e-mata

Em substituição ao corte das árvores, optou-se pelo sistema de aniquilamento de machos (atrai-mata). Este associa o uso de feromônio sexual (atrai) e de inseticida químico (mata). São armadilhas com septos de borracha impregnados com feromônio e o inseticida na base da armadilha (cola). O inseticida utilizado foi o Naled 860 a 5%. A diferença deste método para confusão sexual é que no aniquilamento os machos são eliminados evitando o acasalamento; enquanto que, quando se utiliza confusão sexual, os machos permanecem no campo e a quantidade de feromônio no ambiente deve ser constante por vários meses para impedir o encontro entre machos e fêmeas. Além disso, a confusão sexual não é um método recomendado para áreas urbanas, pois os edifícios impedem a distribuição uniforme do feromônio. A confusão sexual é um método largamente utilizado em pomares comerciais de outros países com excelentes resultados no controle da

.

Quando aplicar o atrai-e-mata

Com base nos resultados obtidos sobre a flutuação populacional de

, a instalação das armadilhas para aniquilamento deve ocorrer no início de setembro, antes dos primeiros machos serem capturados, sendo necessária uma reposição em novembro. Desta maneira, será possível interromper o encontro entre machos e fêmeas durante o período vegetativo da macieira.

Além da associação de feromônios com inseticidas, estes poderão ser utilizados associados a fungos ou vírus entomopatogênicos para adultos, com vantagens do ponto de vista ecológico e de saúde pública.

Este é um dos programas pioneiros no Brasil, com tecnologia brasileira, servindo de base para outras pragas como a lagarta enroladeira

e a broca dos ponteiros

, aplicando-se em pomares comerciais.

Outras alternativas podem ser utilizadas na área urbana no programa de supressão/erradicação: técnica do inseto estéril, raleio químico e controle biológico (vírus). Do ponto de vista técnico, é recomendável a associação de pelo menos dois métodos para aumentar a chance de sucesso do Programa.

Primeiros resultados

Na safra de 1998/99 foram instalados 40.000 painéis na área urbana de Vacaria e 15.000 em Bom Jesus. Nessas duas cidades observou-se uma redução superior a 90% na captura de machos em armadilhas com feromônio. Isto demonstra que o método de controle escolhido é adequado para as nossas condições. Além do acompanhamento das capturas em armadilhas será implementado o trabalho de coleta massiva de frutos dos hospedeiros localizados nas área urbanas para observar se está ocorrendo infestação. Salienta-se que nas quatro áreas urbanas com focos o número de armadilhas para monitoramento tem sido constante para que os dados possam ser melhor interpretados.

Um dos grandes entraves ao bom andamento do Programa tem sido a falta de recursos. Há uma parceria entre o Ministério da Agricultura e a Associação Brasileira de Produtores de Maçã para obtenção de fundos para os trabalhos de monitoramento e supressão populacional. É preciso considerar que os custos (controle químico, contaminação ambiental, perda de mercados externos) decorrentes do estabelecimento da C. pomonella serão muito maiores do que os necessários para a implementação do Programa. Além disso, os grandes programas de erradicação que vem sendo conduzidos nos países em que a praga está estabelecida, utilizando confusão sexual, vírus entomopatogênicos (carpovírus), a técnica do macho estéril ( o Canadá que pretende erradicar a praga de uma área de 12.000 ha na região da Columbia Britânica utilizando macho estéril), são justificativas suficientes para que o Programa de monitoramento e erradicação da

seja plenamente implementado no Brasil.

Adalecio Kovaleski

Embrapa Uva e Vinho

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