Manejar plantas daninhas na cultura do arroz e prevenir problemas de resistência exige solução complexa, com a adoção de um conjunto de ações integradas e não apenas o uso de ferramentas isoladas
18.07.2022 | 14:15 (UTC -3)
Manejar plantas daninhas
na cultura do arroz e prevenir problemas de resistência exige solução complexa,
com a adoção de um conjunto de ações integradas e não apenas o uso de
ferramentas isoladas. Na escolha do herbicida é preciso considerar as espécies
infestantes na área, a presença de plantas resistentes, a época em que se
pretende realizar as aplicações, as características físico-químicas do solo, o
tipo de preparo de solo, a oferta do produto no mercado, seu custo e eficiência
sobre a espécie-alvo.
Nas lavouras de arroz irrigado do Rio Grande do Sul as principais
plantas daninhas são capim-arroz (Echinochloa
spp.), arroz-daninho (Oryza
spp.), angiquinho (Aeschynomene spp.)
e as ciperáceas (Cyperus spp.). A
importância dessas invasoras deve-se principalmente a ampla distribuição e alta
infestação.
O arroz-daninho e o capim-arroz merecem destaque. O primeiro por
pertencer à mesma espécie do arroz cultivado, o que dificulta o controle
químico seletivo. O capim-arroz, por sua vez, é altamente competitivo, sendo
que o controle de 99% da infestação pode ainda não ser suficiente para evitar
impactos sobre a produtividade da cultura.
Ainda, o surgimento de espécies daninhas resistentes aos
principais herbicidas tem agravado este quadro, despertando a busca por
alternativas de controle.
Resistência
de plantas daninhas aos herbicidas
Na Região Sul do Brasil a resistência de plantas daninhas aos
herbicidas representa um problema a mais no manejo da lavoura arrozeira. A
introdução de cultivares de arroz resistente a herbicidas, como o sistema
Clearfield (CL), permitiu o controle de muitas dessas espécies. Porém, o uso
intensivo e fora das recomendações técnicas levaram a perda parcial da sua
eficiência (resistência!).
No cenário atual, o
cultivo mínimo é o principal sistema utilizado, com mais de 95% das áreas
aplicando herbicidas (exclui-se o nicho de arroz agroecológico), quase na
totalidade sob o sistema CL. As plantas daninhas do arroz resistentes a
herbicidas, no Brasil, são listadas na Tabela 1.
Manejo de
plantas daninhas
O arroz deve ser mantido livre de
competição com as plantas daninhas entre o 10º dia e o 45º dia após a
emergência (DAE). Quanto mais tarde for realizado o controle, menor será a
produtividade. No entanto, no cenário atual, deixar para controlar as plantas
daninhas no 8º ou 9º DAE pode ser uma “cilada”. As plantas daninhas resistentes
a herbicidas são de difícil controle e o ideal é iniciar a lavoura limpa, com
estas espécies devidamente controladas.
Por isso, antes de pensar em controle químico é necessário
conscientização de que a adoção de algumas práticas de manejo da cultura (inclusive
anteriormente ao estabelecimento) podem resultar na redução da infestação e
melhorar a eficiência dos herbicidas (20% ‑ 30%).
O manejo de plantas
daninhas no arroz começa com a utilização de sementes de qualidade, semeadas em
área com menores índices de infestações, em sistema de cultivo que facilite esse
manejo.
Sistema de
cultivo
O plantio direto e o cultivo mínimo apresentam, entre outros
benefícios, a redução do uso de herbicidas, pois o emprego de pastagens no
inverno contribui para reduzir germinação/desenvolvimento de algumas plantas
daninhas (Figura 1). Por exemplo, cobertura de azevém, associada a drenagem e a
produção animal, reduz a emergência de algumas plantas daninhas (Figura 2).
Além disso, o cultivo mínimo permite o preparo antecipado do solo no outono ou
primavera, estimulando o banco de sementes e permitindo seu controle.
Pesquisas demonstram que 80% da emergência de capim-arroz ocorre
nas três primeiras semanas após o preparo do solo, portanto controlá-lo neste
período é essencial para reduzir sua ocorrência na área.
O sistema pré-germinado, em particular, permite a aplicação de
herbicidas diretamente na água de irrigação (benzedura), em adição às
aplicações pelos métodos usuais. Em “benzedura”, há a possibilidade de
aplicação de herbicidas em qualquer condição de tempo. Esta particularidade
pode constituir vantagem no manejo de plantas daninhas em determinadas
situações.
Rotação de
culturas
Embora exista uma série de dificuldades na rotação de culturas em
Terras Baixas, associadas a problemas de drenagem e compactação do solo, soja,
milho e sorgo são boas alternativas para manejar as plantas daninhas,
principalmente em áreas com plantas resistentes a herbicidas (Figura 3). O
pousio no verão, se empregado, deve estar aliado a preparos sucessivos do solo
para estimular a emergência de plantas daninhas e permitir seu controle.
Devido a algumas
vantagens técnicas e econômicas, o arroz passou a ser cultivado em rotação com
soja, no sistema conhecido como “pingue-pongue” (um ano arroz, um ano soja),
possibilitando a rotação de herbicidas. É importante salientar que independentemente
da cultura que está sendo implantada, a rotação de mecanismos de ação de
herbicidas é primordial, e os pré-emergentes são boas alternativas. Na soja,
por exemplo, bons resultados têm sido obtidos no controle de gramíneas com uma
aplicação em pré-emergência e duas em pós-emergência.
Controle químico
Na escolha do herbicida deve-se considerar as espécies infestantes
na área; presença de plantas resistentes; a época em que se pretende fazer as
aplicações; as características físico-químicas do solo; o tipo de preparo de
solo; a oferta do produto no mercado; o custo do defensivo e a sua eficiência
sobre a espécie-alvo.
Indica-se sempre a aplicação da dose recomendada e não utilizar
herbicidas não registrados para a cultura, planta daninha, ou modalidade de aplicação.
Além disso, deve-se associar herbicidas com características diferentes.
Herbicidas pré-emergentes ajudam a reduzir a infestação inicial, com a
finalidade de diminuir a população a ser eliminada em pós-emergência (Figura
4).
O uso de um herbicida de ação total, como o glifosato, no “ponto
de agulha”, permite eliminar da lavoura as plantas invasoras que já emergiram,
inclusive aquelas resistentes a herbicidas inibidores da ALS (Figura 4).
Manejo da resistência
(Box)
Algumas medidas
preventivas indicadas para evitar o surgimento de plantas daninhas resistentes
aos herbicidas são:
Acompanhar
as mudanças nas populações de plantas daninhas da lavoura;
Praticar
rotação de culturas;
Rotacionar
os herbicidas;
Utilizar
aplicações sequenciais de herbicidas quando pertinente (plantas difíceis
de controlar);
Utilizar
manejo integrado de plantas daninhas, principalmente quando houver constatação
de escapes do controle químico;
Monitorar
plantas-escapes e usar ferramentas para eliminá-la (barra química,
arranquio manual...)
Estimular
a emergência de plantas daninhas pelo preparo antecipado e controlá‑las;
Adotar cultivares de arroz mais competitivas,
principalmente com rápido crescimento inicial.
Uma vez constatado problema de resistência, realizar a semeadura,
os tratos culturais e a colheita da área-problema por último, limpando os
equipamentos logo após para evitar a disseminação do problema para outras
áreas.
Evitar o aparecimento de plantas daninhas resistentes é uma tarefa
difícil. No entanto é quase impossível eliminá-las. Lembrem-se disto!
Recomendações
gerais
Os herbicidas pré-emergentes são boas ferramentas para começar a
lavoura limpa. Além disso, o manejo da água é fundamental para a inibição das
plantas daninhas. Assim, a adubação nitrogenada e a entrada de água devem ocorrer
no máximo até o estádio de 4 folhas desenvolvidas da cultura, logo após a
aplicação dos herbicidas usuais nesta fase.
O preparo do solo pós-colheita (rolo-faca, principalmente) também
colabora para uniformizar o terreno e eliminar plantas daninhas. No entanto,
essa operação pode incorporar ao solo sementes de plantas daninhas recentemente
dispersas. Portanto, esta prática deve ser discutida entre assistência técnica
e produtor para avaliar os prós e contras
dessa ferramenta.
Em síntese, um conjunto de ações é demandado para o manejo
sustentável das plantas daninhas no arroz, de forma a controlá-las eficientemente
e com o menor custo a médio/longo prazo. Assim, o planejamento da lavoura deve
ser realizado a longo prazo, sempre considerando a rotação de culturas
associada às demais ferramentas de manejo. Disto depende a sustentabilidade do
produtor rural.
Artigo publicado na edição 226 da Cultivar Grandes Culturas, mês março, ano 2018.
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