Saiba os fatores a considerar na hora do plantio da safra de verão
Por Vinícius Cunha, coordenador de Farm Solutions da AGCO América do Sul
O mofo branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum, é uma doença grave em diversas culturas, capaz de provocar prejuízos de até 70% em lavouras de soja. A disseminação ocorre muitas vezes pela própria semente infectada, por isso detectar a presença de micélio nestes materiais, possível através do auxílio de laboratório especializado, é essencial para prevenir danos.
A doença conhecida como mofo branco, causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, é responsável por perdas significativas em inúmeras culturas agrícolas de importância econômica no mundo. Os danos variam de acordo com os níveis de suscetibilidade das culturas, com as condições climáticas e com o manejo adotado. O primeiro relato da doença no Brasil foi em 1921, na cultura da batata. Atualmente, o patógeno acomete as culturas do feijão, soja, girassol, algodão, canola, batata, tomate e alface em diversas regiões produtoras do país. O mofo-branco é uma doença causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum e, de acordo com os resultados dos ensaios cooperativos de controle químico das últimas seis safras, causa reduções médias de 21% na produtividade da soja, podendo chegar até a 70% em algumas lavouras isoladas. Conforme os levantamentos feitos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na safra 2015/16, e considerando-se as regiões de maior ocorrência da doença no País, estima-se que a área de produção de soja infestada por S. sclerotiorum seja de aproximadamente 7,7 milhões de hectares. Como o mofo-branco é uma doença que incide sobre várias outras culturas, é de fundamental importância observar a sequência de cultivos na sucessão de culturas em áreas infestadas com o fungo, intercalando-se culturas não hospedeiras como estratégia para diminuir o inóculo do patógeno. Outras medidas de manejo do mofo-branco também devem ser adotadas de forma integrada, tais como a utilização de sementes de boa qualidade e tratadas com fungicidas adequados; formação de palhada para cobertura uniforme do solo, preferencialmente oriunda de gramíneas; a escolha de cultivares com arquitetura de plantas que favoreça boa aeração entre plantas (pouco ramificadas e com folhas pequenas) e com menor período de florescimento; população de plantas e espaçamento de entrelinhas adequado às cultivares; emprego de controle químico, por meio de pulverizações foliares, principalmente no período de maior suscetibilidade da planta de soja (início da floração até começo da formação de vagens); emprego de controle biológico, por meio da propagação de agentes antagonistas no solo; e a limpeza de máquinas e equipamentos após utilização em área infestada para evitar a disseminação de escleródios (JULIATTI et al.2010).
A disseminação do mofo branco na lavoura frequentemente ocorre pela própria semente infectada. Apesar de os escleródios serem facilmente detectados nos lotes de sementes, o micélio dificilmente o será sem a ajuda de um laboratório especializado.
Os critérios utilizados para a detecção de fungos em sementes, de modo geral, consistem em estimular os micro-organismos a produzirem estruturas, ou metabólitos, que permitam a sua identificação. Para o fungo S. sclerotiorum, a observação visual da presença de escleródios é feita pelo teste de papel de filtro (blotter test). O método de Neon-S também tem sido utilizado para a detecção desse patógeno em sementes de soja e de feijão desde a safra de 2010. Tal método consiste na adição, ao meio de cultura, de um indicador de pH (o azul de bromofenol) e baseia-se na formação de halo amarelo em torno da semente devido à presença de ácido oxálico produzido pelo fungo, que acidifica o meio alterando sua coloração. Porém, esse método pode levar à leitura de falsos positivos devido ao aparecimento de outros fungos que igualmente podem alterar o pH do meio. Nesse sentido, diversos trabalhos têm sido desenvolvidos e/ou metodologias ajustadas a fim de minimizar alguns problemas nos testes já estabelecidos como padrão. Métodos alternativos, como o rolo de papel modificado e o método Neon-S modificado têm-se mostrado promissores para o diagnóstico mais seguro e rápido do patógeno.
Foram avaliadas no Laboratório de Micologia e Proteção de Plantas da Universidade Federal de Uberlândia (LAMIP - UFU) 637 amostras/lotes de sementes de soja e de feijão, provenientes do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (Figura 1), compreendendo o período de 2008 a 2012. O objetivo foi verificar se o aumento do período de incubação poderia contribuir para otimizar a confiabilidade do teste Neon-S.
Três métodos de detecção foram comparados: rolo de papel, Neon-S e Neon-S2 (teste modificado do Neon-S, sendo alterado o tempo de leitura de sete para 15 dias). Foram utilizadas sementes da cultivar de feijão Pérola e das cultivares de soja BRS Valiosa RR e Nidera 7255 RR. Os lotes de sementes estavam naturalmente infectados, à exceção da cultivar Nidera 7255 RR que teve suas sementes expostas à infecção pelo patógeno em placas de Petri durante 72 horas.
A técnica do rolo de papel não permitiu detecção da presença do mofo branco nas sementes de soja coletadas no ano de 2008 e, para as demais safras, apresentou menor capacidade de detecção do patógeno comparativamente ao Neon-S2 (21,88 e 31,25% de amostras positivas, respectivamente). Apesar da sensibilidade de detecção de S. sclerotiorum em lotes de sementes ter sido maior pelo método Neon-S2 em relação ao método do rolo, a diferença não foi significativa quando comparado com o método Neon S, embora numericamente o percentual de incidência do método modificado tenha sido superior (Figura 2). Ainda assim, a detecção de S. sclerotiorum pelo método Neon-S2 é mais confiável em decorrência da incubação por 15 dias, uma vez que a formação de escleródios, neste período, próximos às sementes infectadas, confirma a presença do patógeno e evita a leitura de falsos-positivos.
A importância deste método de detecção implica no melhor planejamento da propriedade, como a escolha de lotes de sementes livres do patógeno e o direcionamento de um tratamento de sementes mais adequado incluindo fungicidas específicos para o fungo Sclerotinia sclerotiorum. Deste modo, o agricultor poderá escolher o melhor tratamento e o melhor lote de sementes para cada situação, evitando uma futura frustração de safra ou contaminação de uma área isenta do patógeno e da doença. Se esta estratégia tivesse sido utilizada no Brasil nos últimos anos haveria com certeza uma menor área contaminada com o fungo que atinge mais de 7,7 milhões de hectares. A rede de laboratórios que prestam este tipo de serviço é pequena, mas vale a pena avaliar os lotes de sementes antes da compra caso o serviço esteja disponível na região. Ressaltando a importância da checagem da qualidade das sementes e que as amostras tem que ser representativas, uma amostra padrão deve ter uma alíquota de um quilo, acondicionada em sacos de papel. O LAMIP UFU esta apto a realizar os testes de detecção de Sclerotinia sclerotiorum e emissão de laudos comprobatórios da qualidade sanitárias das principais culturas praticadas no Brasil. Para tanto é preciso enviar lotes identificados para a Avenida Amazonas S/N, Bloco 2E, sala 106, Jardim Umuarama, Uberlândia, Minas Gerais, CEP 38400 - 902 . O custo por amostra gira em torno de R$ 100,00.
Fernando Cezar Juliatti, Roberto Resende dos Santos e Tâmara Prado de Morais, Lamip - Univ. Fed. de Uberlândia
Artigo publicado na edição 213 da Cultivar Grandes Culturas.
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