Controle de plantas daninhas na soja resistente ao glyphosate

Especialistas explicam como melhorar a produtividade de lavouras de soja controlando de forma adequada as plantas daninhas

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O período para controle de plantas daninhas em soja abrange um mês antes e um mês depois da semeadura da soja. Para obter elevada eficiência é necessário adotar práticas de manejo da propriedade rural que vão além do simples cultivo da soja, ou seja, o manejo de plantas daninhas é uma atividade contínua que deve ser executada durante todo o ano e durante todos os anos. A adoção da rotação de culturas, de adubos verdes ou da cobertura do solo durante todo o ano (método "colher-semear"), do controle de plantas daninhas nas pastagens de estação fria, reduz muito a probabilidade de estabelecimento de espécies daninhas problema, reduz a densidade e o tamanho das plantas daninhas a ser controladas na dessecação antes da semeadura das culturas. Como exemplo disso, o cultivo de aveia-preta ou de trigo reduziu de 55 a 92% a população e no mínimo a metade do porte das plantas de buva antes da semeadura da soja (Tabela 1). Isso facilita o controle na dessecação com relação momento da aplicação e a dose dos herbicidas utilizados.Importância da "semeadura no limpo"

Entende-se por "semeadura no limpo" a condição de lavoura que permita semear na ausência ou com o mínimo possível de plantas daninhas vivas, mas com boa quantidade de palha sobre a superfície do solo, e que permita manter essa condição até quando a soja apresentar a quarta ou quinta folha trifoliolada. É o mesmo que "iniciar no limpo e permanecer no limpo". Trabalhos de pesquisa conduzidos na Embrapa Trigo e Fundacep indicam ganho de 4,0 a 9,0 sacos de soja por hectare quando a semeadura é feita na ausência de plantas daninhas ("no limpo") e a área é mantida com baixa densidade de plantas daninhas até o terceiro/quarto trifólio da soja, momento em que é aplicado o glyphosate para o controle das plantas daninhas na soja RR (Tabela 2). Além disso, a semeadura na presença das plantas daninhas remanescentes da dessecação ("escapes") também causa prejuízo à soja, podendo reduzir em 345 kg/ha (9%) a produtividade de grãos (Figura 1).

Para fins de manejo de plantas daninhas as lavouras de soja podem ser classificadas em dois tipos: Pousio e Resteva. O Pousio se caracteriza por áreas com plantas daninhas grandes e em densidades elevadas, normalmente encontradas em lavouras em pousio ou com pastagens mal manejadas. A Resteva por áreas cultivadas durante a estação fria com as culturas de Trigo, Cevada, Aveia-branca, etc., onde predominam plantas daninhas de pequeno porte e em baixas densidades, muitas vezes "escondidas" sob a palha.

No pousio a aplicação seqüencial tem apresentado os melhores resultados. Nesse caso, a primeira aplicação deve ser feita com duas a três semanas de antecedência à semeadura, utilizando a mistura de herbicidas a base de glyphosate e 2,4-D. Em alguns casos, o 2,4-D pode ser substituído por herbicidas a base de chlorimuron. A segunda aplicação deve ser efetuada logo antes da semeadura (um a dois dias) com herbicidas a base de paraquat ou paraquat+diuron. A aplicação seqüencial permite, na maioria dos casos, a semeadura sem "escapes" de plantas daninhas, facilitando o controle em pós-emergência da soja.

Na resteva, é possível dessecar e semear logo em seguida sem que isso cause prejuízo a produção de soja. Como são áreas com menor incidência de plantas daninhas existe maior número de alternativas para controle inclusive com a combinação do glyphosate com herbicidas residuais indicados para a cultura da soja não transgênica. Nessa modalidade de aplicação pode ser utilizado junto com o glyphosate, herbicida a base de chlorimuron, diclosulan, imazaquin, imazethapyr e sulfentrazone. Esses produtos controlam as principais espécies daninhas presentes na soja com destaque para buva e corriola e permitem que a soja inicie seu desenvolvimento com o mínimo de plantas daninhas. Além disso, facilitam o controle das plantas daninhas pelo glyphosate, aplicado em pós-emergência na soja RR, porque reduzem a densidade e atrasam a emergência das plantas daninhas, resultando em plantas pequenas, cujo controle com glyphosate torna-se mais fácil.

Considerando-se, como citado anteriormente, que a dessecação para estabelecimento da soja é realizada com herbicidas a base de glyphosate na dose de 720 g e.a./ha (= 2L/ha de Polaris, por exemplo); que esta operação é efetuada, maioria das propriedades, muito próxima a semeadura (um a dois dias), e que nessa situação devido a semeadura na presença de plantas daninhas, ocorre perdas na produtividade de grãos de soja, elaborou-se a comparação entre o investimento extra para semear no limpo e o retorno com essa tecnologia (Tabela 3).No Pousio o investimento extra para semear no limpo, em média, é de R$ 50,00/ha (≈ 1,1 saco de soja por hectare) e na Resteva a média é de R$ 25,00/ha (≈ 0,54 saco de soja por hectare). O ganho em produtividade de grãos de soja por semear no limpo, em média, é de R$ 317,0/ha (≈ 6,9 sacos de soja por hectare). Portanto a rentabilidade por semear no limpo e manter a lavoura com o mínimo de plantas daninhas até a soja apresentar o quarto trifólio, estágio em que é realizado o controle na maioria das lavouras de soja no RS, em média, é de R$ 267,00 (≈ 5,8 sacos de soja por hectare) no Pousio e de R$ 292,00/ha (≈6,3 sacos de soja por hectare) na Resteva.

O incremento na produtividade apresentado na Tabela 2 se origina de experimentos em que houve diferença estatística, com probabilidade de acerto de mais de 95%, na comparação da semeadura na presença de plantas daninhas com a semeadura que iniciou e permaneceu no limpo. Com o alto grau de acerto da tecnologia proposta, pode-se dizer que para o investimento de 1 saco/ha existe alta probabilidade de um retorno de 6 sacos/ha de soja na colheita. São raros os investimentos que possuem essa rentabilidade. Vale a pena pensar na adoção dessa tecnologia!

¹Eng.-Agro., D. S., Pesquisador da Embrapa Trigo. vargas@cnpt.embrapa.br1

²Eng.-Agro., D. S., Pesquisador da Fundacep. mariobianchi@fundacep.com.br

³Eng.-Agro., D. S., Professor da Faculdade de Agronomia /UPF. rizzardi@upf.br

Contatos: (54)3316.5800 / www.cnpt.embrapa.br

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