Estudo analisa semeadoras com sistema pneumático
Ensaio realizado com semeadoras dotadas de sistema pneumático de controle de profundidade de sementes garante maior uniformidade na deposição
A cultura da macieira, no Brasil, se caracteriza por estar alicerçada em duas cultivares: Gala e Fuji. A primeira e seus clones representam aproximadamente 60% da produção brasileira de maçãs, estimada em torno de 1,20 milhão de toneladas nos últimos anos. Macieiras da cultivar Gala apresentam rápida maturação no período de colheita e alta sensibilidade à queda de frutos na pré-colheita, podendo resultar em perdas significativas de produção se não forem colhidas no momento adequado, diminuindo a vida pós-colheita dos frutos.
Como em grande parte dos pomares de macieiras Gala e seus clones a colheita tem de ocorrer em um período inferior a 20 dias, parte dos frutos é apanhada em estágio de maturação inadequada, com duas a três semanas após o ponto de colheita. Também deve ser considerado que grande parte da produção de maçãs do Brasil é proveniente de pomares com mais de 50ha, o que também dificulta a colheita no ponto considerado ideal. Além disso, ocorrem perdas significativas da produção advindas da alta sensibilidade da Gala à queda dos frutos em pré-colheita.
A colheita de frutos após a maturação adequada pode levar a uma conservação deficiente, baixa resistência da polpa e reduzida qualidade. Como parte da produção de maçãs 'Gala' é comercializada após um período de armazenamento, a colheita dos frutos deve ser efetuada no momento adequado para dispor de frutos com qualidade ao final da armazenagem. Considerando-se que macieiras Gala apresentam maturação acelerada e são propensas à queda de frutos na pré-colheita, o manejo da maturação dos frutos apresenta grande importância econômica, nas condições brasileiras.
Figura - Queda de frutos em pré-colheita em macieiras Gala. Fraiburgo/SC
O manejo da maturação dos frutos pode ser realizado por meio do uso de estratégias que reduzam a formação do etileno, hormônio vegetal relacionado à maturação dos frutos. Dentre as substâncias que interferem na biossíntese do etileno insere-se a aminoetoxivinilglicina (AVG). A aminoetoxivinilglicina (AVG), um composto que foi descoberto no início dos anos 1970, inibe a biossíntese do etileno através do bloqueio da conversão de S-adenosil-metionina (SAM) para ácido 1-carboxi-1-amino-ciclopropano (ACC), um precursor do etileno.
O uso de AVG na produção de maçãs é recente no Brasil, porém, vem sendo muito difundido. Comercialmente AVG, comercializada com o nome de Retain, é utilizada para controle da queda de frutos em pré-colheita e retardamento da maturação dos frutos, permitindo escalonar a colheita sem perder as características que permitam uma adequada conservação dos frutos. O atraso da maturação proporcionado pelo uso de AVG é visualizado no atraso da degradação do amido em açúcares solúveis e no retardo da perda de firmeza. Com o atraso da maturação proporcionado pela aplicação de AVG pode ser obtido crescimento da massa média dos frutos devido ao aumento do período entre a floração e a maturação dos frutos. Outras substâncias podem ser utilizadas no manejo da colheita de maçãs, como o ácido naftalenoacético (ANA), que reduz significativamente a queda pré-colheita de frutos, embora seu emprego possa aumentar a degradação do amido, reduzir a firmeza da polpa e, consequentemente, diminuir a conservação pós-colheita. Por essa razão, prefere-se a utilização de AVG em relação ao ácido naftalenoacético na redução da queda pré-colheita de maçãs.
Uso de AVG em maçãs Gala
A aplicação antes do ponto de colheita previne a queda pré-colheita e retarda a maturação dos frutos da macieira. AVG aplicado uma, duas e quatro semanas antes do ponto de colheita (SAPC) retardou a colheita de maçãs Gala, onde as plantas tratadas com o produto comercial, independentemente da época de aplicação, retardaram o início da colheita em 18 dias (Figura 1), mantendo a resistência da polpa em níveis superiores às plantas sem tratamento (Tabela 1).
O aumento do período compreendido entre a floração e a colheita dos frutos resultou no crescimento da massa média dos frutos em torno de 10,2%, considerando a média das três épocas de aplicação avaliadas (Figura 2). Quanto ao desenvolvimento da cor vermelha dos frutos, o produto não reduziu, porém retardou o desenvolvimento da cor vermelha proporcionalmente ao retardamento da maturação dos frutos (Tabela 2). No manejo da colheita o controle da queda de frutos na pré-colheita é um dos fatores mais importantes, sendo que AVG reduz significativamente a perda de frutos caídos. No presente estudo, os melhores resultados quanto ao controle da queda de frutos em pré-colheita foram obtidos com 800g/ha de AVG (1 SAPC), com menos de 15,3% de frutos caídos ao final do ciclo, enquanto esta porcentagem foi superior a 65% no tratamento testemunha (sem aplicação) (Figura 1).
Uso de AVG em maçãs Fuji
Os tratamentos com AVG atrasaram o desenvolvimento da coloração vermelha dos frutos na mesma proporção que ocorreu o atraso na maturação dos frutos. O atraso da maturação dos frutos foi acompanhado da manutenção da resistência da polpa e degradação do amido, assim como o aumento da massa média dos frutos em comparação às plantas não tratadas com AVG. A queda de frutos antes do ponto de colheita não foi alterada pela concentração e época de aplicação em uma ou duas vezes. Os efeitos da aplicação de AVG em macieiras Fuji mostram-se menores do que observado em macieiras Gala, sobretudo no que se refere à queda prematura dos frutos, pois macieiras Fuji são menos propensas à ocorrência desse distúrbio. Contudo, todos os tratamentos com AVG apresentaram menor queda de frutos antes da colheita em comparação às plantas que não receberam o tratamento (Tabela 3 e 4).
Um dos problemas verificados com a colheita tardia de maçãs Fuji é o aumento da ocorrência de alguns distúrbios nos frutos, tais como rachadura peduncular e “pingo de mel”. A rachadura peduncular caracteriza-se pela ruptura do fruto na inserção do pedúnculo, o que pode contribuir para a penetração de microrganismos patogênicos. Já o “pingo de mel” é distúrbio fisiológico em que se observam áreas de tecido aquosas facilmente distinguidas da polpa normal. Ambos os distúrbios, comumente observados em maçãs Fuji colhidas após o ponto de colheita, podem ser minimizados pelo uso de AVG, como pode ser observado na Tabela 3.
Considerações quanto ao uso de AVG
O produtor que optar pela utilização de AVG no manejo da colheita da macieira deverá se orientar pelo ciclo da cultivar, necessitando anotar a data de plena floração observada no pomar, além de conhecer o ciclo médio entre a plena floração para estimar a data de colheita. A partir da estimativa da data de colheita, o produtor poderá determinar a data de aplicação, que no geral varia de sete a 30 dias antes do ponto de colheita presumido. A efetividade da AVG no controle da maturação de maçãs Gala varia com a época e a dose aplicada, que poderá ser de 400g/ha a 800g/ha. Aplicações de AVG realizadas próximas do ponto de colheita e em doses maiores são mais efetivas no controle da queda de maçãs Gala. Em conclusão, AVG retarda a maturação dos frutos em dez a 20 dias, sendo que períodos mais longos exigem concentrações mais altas.
Figura 1 - Porcentagem de frutos colhidos por data, queda de frutos por época de amostragem e queda de frutos acumulada em macieiras Gala em função da época de aplicação de AVG. Fraiburgo, SC
Tabela 1 - Efeito da aplicação de AVG em diferentes épocas na firmeza da polpa de maçãs Gala em diferentes datas de colheita. Fraiburgo, SC
Tratamentos | Firmeza de polpa (lb/cm2) | ||||
13/02 | 02/03 | 13/03 | 21/03 | 29/03 | |
Testemunha | 19,2 b | 16,9 b | 15,5 b | 15,6 a | 13,9 b |
AVG 800g/ha – 4 SAPC* | 21,8 a | 18,7 a | 17,3 a | 16,0 a | 15,8 a |
AVG 800g/ha – 2 SAPC | 21,4 a | 18,4 a | 17,4 a | 16,0 a | 15,7 a |
AVG 800g/ha – 1 SAPC | 21,9 a | 18,3 a | 17,8 a | 15,9 a | 15,4 a |
Tratamentos
Firmeza de polpa (lb/cm2)
13/02
02/03
13/03
21/03
29/03
Testemunha
19,2 b
16,9 b
15,5 b
15,6 a
13,9 b
AVG 800g/ha – 4 SAPC*
21,8 a
18,7 a
17,3 a
16,0 a
15,8 a
AVG 800g/ha – 2 SAPC
21,4 a
18,4 a
17,4 a
16,0 a
15,7 a
AVG 800g/ha – 1 SAPC
21,9 a
18,3 a
17,8 a
15,9 a
15,4 a
*SAPC - Semanas Antes do Ponto de Colheita. Médias não seguidas de letras minúsculas iguais diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade de erro.
Figura 2 - Massa média de maçãs Gala em função da aplicação de AVG. Fraiburgo, SC
Tabela 2 - Efeito de aplicação de AVG, porcentagem de frutos de acordo com a coloração vermelha da epiderme em maçãs Gala. Fraiburgo, SC
Tratamentos | Porcentagem de frutos de acordo com a coloração da epiderme | ||
<50>#/b### | ≥50e >80>#/b### | ≥ 80>#/b### | |
Testemunha | 9,4 a | 45,9 a | 44,7 b |
AVG 800g/ha – 4 SAPC* | 6,1 b | 43,0 a | 50,9 ab |
AVG 800g/ha – 2 SAPC | 3,9 b | 34,9 a | 61,1 a |
AVG 800g/ha – 1 SAPC | 6,7 b | 50,9 a | 42,3 b |
Tratamentos
Porcentagem de frutos de acordo com a coloração da epiderme
<50>#/b###
≥50e >80>#/b###
≥ 80>#/b###
Testemunha
9,4 a
45,9 a
44,7 b
AVG 800g/ha – 4 SAPC*
6,1 b
43,0 a
50,9 ab
AVG 800g/ha – 2 SAPC
3,9 b
34,9 a
61,1 a
AVG 800g/ha – 1 SAPC
6,7 b
50,9 a
42,3 b
*SAPC - Semanas Antes do Ponto de Colheita. Médias não seguidas de letras minúsculas iguais diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade de erro.
Tabela 3 - Porcentagem de queda de frutos em pré-colheita, porcentagem frutos com rachadura peduncular e porcentagem de frutos com o distúrbio “pingo de mel” em macieiras Fuji Suprema em resposta à aplicação de AVG. Fraiburgo, SC
Tratamentos | Queda de frutos em pré-colheita | Frutos com rachadura peduncular | Frutos com pingo de mel |
###p#< | |||
1. Testemunha | 8,9 a | 8,1 a | 8,3 a |
2. AVG 800 g/ha 2 SAPC1 | 2,3 b | 3,2 b | 1,9 b |
3. AVG 400g/ha 2 SAPC + AVG 400g/ha 1 SAPC | 3,0 b | 3,7 b | 1,9 b |
4. AVG 800g/ha 1 SAPC | 1,8 b | 2,3 b | 1,3 b |
5. AVG 400g/ha 1 SAPC | 4,3 b | 2,0 b | 3,1 b |
6. AVG 400g/ha 1 SAPC + AVG 400g/ha PC2 | 1,8 b | 2,7 b | 1,7 b |
7. AVG 400g/ha PC | 3,0 b | 2,9 b | 2,3 b |
Tratamentos
Queda de frutos em pré-colheita
Frutos com rachadura peduncular
Frutos com pingo de mel
1. Testemunha
8,9 a
8,1 a
8,3 a
2. AVG 800 g/ha 2 SAPC1
2,3 b
3,2 b
1,9 b
3. AVG 400g/ha 2 SAPC + AVG 400g/ha 1 SAPC
3,0 b
3,7 b
1,9 b
4. AVG 800g/ha 1 SAPC
1,8 b
2,3 b
1,3 b
5. AVG 400g/ha 1 SAPC
4,3 b
2,0 b
3,1 b
6. AVG 400g/ha 1 SAPC + AVG 400g/ha PC2
1,8 b
2,7 b
1,7 b
7. AVG 400g/ha PC
3,0 b
2,9 b
2,3 b
1SAPC – Semanas antes do ponto de colheita. 2 PC – ponto de colheita. ns – não significativo pelo teste F a 5% de probabilidade de erro. Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade de erro.
Tabela 4 – Porcentagem de frutos colhidos, resistência da polpa (lb/cm2) e porcentagem de frutos caídos aos 20 dias após o ponto de colheita do tratamento controle em função da concentração e época de aplicação de AVG na Gala. Fraiburgo, SC
Tratamento | Lb/cm2 | >b#< frutos caídos | |
1 – controle | 100,00a | 15,20 c | 6,14 a |
2 – AVG 830g/ha – 30 DAPC | 45,80 b | 16,50 b | 1,46 b |
3 – AVG 415g/ha – 30 + 15 DAPC | 33,50 bc | 17,00 b | 0,48 b |
4 – AVG 600g/ha – 15 DAPC | 28,30 c | 18,70 a | 0,64 b |
5 – AVG 830g/ha – 7 DAPC | 32,90 bc | 17,40 b | 0,50 b |
6 – AVG 600g/ha – 7 DAPC | 33,60 bc | 16,80 b | 0,88 b |
Tratamento
Lb/cm2
>b#< frutos caídos
1 – controle
100,00a
15,20 c
6,14 a
2 – AVG 830g/ha – 30 DAPC
45,80 b
16,50 b
1,46 b
3 – AVG 415g/ha – 30 + 15 DAPC
33,50 bc
17,00 b
0,48 b
4 – AVG 600g/ha – 15 DAPC
28,30 c
18,70 a
0,64 b
5 – AVG 830g/ha – 7 DAPC
32,90 bc
17,40 b
0,50 b
6 – AVG 600g/ha – 7 DAPC
33,60 bc
16,80 b
0,88 b
DAPC – Dias após o ponto de colheita. Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade de erro.
Confira o artigo na edição 84 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas.
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