Manejo de nematoides em cana
Uso de nematicidas químicos aplicados no plantio e/ou nas soqueiras se sobressai nas medidas de manejo
A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) é uma praga cuja incidência tem aumentado nas lavouras brasileiras. Capaz de transmitir vírus e provocar doenças como o efenzamento, este inseto tem impacto negativo sobre a produtividade e a qualidade dos grãos. Seu manejo passa por estratégias integradas, que incluem o tratamento de sementes com inseticidas.
O sistema de produção na cultura do milho tem apresentado, ano após ano, problemas com advento de certas alterações no sistema. Pragas secundárias tem passado a status de primárias.
A cultura do milho está sujeita ao ataque de diversos insetos desde a germinação à colheita. Dentre a diversidade de pragas, a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) (Hemiptera: Cicadellidae) teve sua ocorrência constatada no Brasil há vários anos e tem aumentado a frequência nas lavouras de milho em todo o País, causando danos significativos às plantas e exigindo ações de controle. Este hemíptero, quando na fase adulta, mede de 3mm a 4,5mm de comprimento, sendo de coloração amarelo-palha. É frequentemente encontrado no cartucho do milho.
O ovo, amarelado, apresenta um período embrionário em torno de nove dias, sendo colocado dentro dos tecidos das plantas, preferencialmente na nervura central da folha. As ninfas passam por cinco instares, por um período médio de 17 dias - 20 dias. O ciclo completo varia de 23 dias a 60 dias. D. maidis se caracteriza por sugar a seiva, o que consequentemente resulta na diminuição do desenvolvimento das plantas. Outro fator importante e atualmente o principal, é o efeito indireto através da transmissão de patógenos, sendo viroses e enfezamentos (corn-stunt). Esta praga em altas populações ao sugarem a seiva e expelir parte do ingerido, podem favorecer a presença de fumagina nas folhas. No entanto é importante salientar que outras pragas também levam a este sintoma na cultura.
Este inseto é considerado como uma das mais sérias pragas de milho na América Latina devido à sua capacidade de transmitir, de forma persistente e propagativa, o vírus da risca do milho (maize rayado fino vírus - marafivirus – MRFV) e dois molicutes associados aos enfezamentos, Spiroplasma kunkelii (corn stunt spiroplasma – CSS, também chamado de enfezamento pálido) e o fitoplasma (maize bushy stunt phytoplasina – MBSP, conhecido ainda como enfezamento vermelho) (Naut, 1990) (Oliveira et al, 2003) (Martins et al, 2008). Os prejuízos, de modo geral, levam a perdas médias em algumas regiões na ordem de 10% a 30% de produtividade. No entanto, pode se chegar a 100% de prejuízos com ataque de viroses e enfezamentos.
De modo geral, a região Centro-Oeste do Brasil apresenta uma grande diversidade de ambientes onde se observam áreas com cultivos de verão e 2ª safra (“safrinha”), áreas somente com o cultivo de verão e áreas com até 2,5 safras (áreas irrigadas onde o produtor, em função do mercado, faz a escolha do período a semear a cultura do milho, diante da condição econômica).
Em regiões com sistemas de produção em que a cultura do milho é mais intensiva, tem se observado aumento generalizado de D. maidis. A cigarrinha-do-milho apresenta ocorrência nas diversas fases da cultura. No entanto, pode ser considerada como uma praga inicial. É interessante relatar que na grande maioria dos casos, as altas populações têm ocorrido na fase inicial. Nesta fase a planta de milho apresenta o seu colmo com menor diâmetro e desta forma a cigarrinha consegue alcançar os vasos de condução de seiva (floema) com estilete. Consequentemente estes vasos são em parte obstruídos, causando menor desenvolvimento das plantas.
Plantas com enfezamentos (sintoma do ataque de D. maidis) tendem a apresentar estrias amareladas, avermelhamento de folhas (começando pelo ápice e nas margens), amarelecimento, diminuição no porte da planta, ocorrendo também a diminuição no tamanho de espigas. As plantas adquirem normalmente os vírus e fitoplasmas na fase inicial, mas mostram os sintomas nas fases posteriores como pendoamento e mesmo próximo à colheita.
Vários estudos mostram que a planta, ao adquirir a doença na fase inicial, tende a mostrar maiores prejuízos, levando até mesmo a não formação da espiga. Em muitos casos, no Brasil, devido ao menor desenvolvimento, as plantas tendem a cair pela ação do vento, levando a prejuízos por ocasião da colheita e dificuldades nesta operação.
Também são observadas diferenças entre materiais no mercado em função do ataque desta praga, devendo o produtor estar atento à opção daqueles com melhor desenvolvimento/estabelecimento de colmo, o que pode diminuir os prejuízos. Além dos danos diretos e indiretos desta praga, vale salientar que ao promover menor desenvolvimento das plantas, o inseto pode provocar alterações no manejo da cultura, pois espaços com plantas menores favorecem a emergência de plantas daninhas, que além de serem competidoras por recursos, diminuem a produtividade e afetam também a qualidade dos grãos produzidos.
O crescente aumento dos problemas de enfezamento se deve a presença de tigueras de milho, ou mesmo regiões e áreas em que se tem a 3ª safra normalmente irrigada. Devido a adoção da tecnologia de resistência de plantas ao efeito de herbicidas, têm-se a presença de tigueras da cultura antecessora na atual, o que resulta na oferta de alimento à praga, aumentando consequentemente sua população. Além do milho existem diversos outros hospedeiros para D. maidis, como cana-de-açúcar, sorgo e plantas daninhas: Eleusine indica (capim-pé-de-galinha), Digitaria horizontalis (capim-colchão), entre outras.
No manejo integrado desta praga devem ser levados em consideração todos os aspectos, como a eliminação de hospedeiros, definição de épocas de semeadura, controle biológico e controle químico. Entre as estratégias químicas, o tratamento de semente com os inseticidas neonicotinoides (imidacloprid, thiametoxan e clotianidina) tem promovido bom controle desta população, podendo ser considerado o controle da primeira população migrante no cultivo.
Esta estratégia tem mostrado eficiências até os 15 dias e 20 dias após a emergência da cultura. O tratamento de sementes é uma modalidade de aplicação que apresenta algumas vantagens, como preservar parte dos inimigos naturais, não afetando a dinâmica nas culturas. Porém, apesar de ser um método eficaz, é preciso ter em mente que mesmo com o uso do melhor inseticida é esperado um certo nível de ataque da praga, pois como a plântula encontra-se tratada, haverá a necessidade de consumo para que ocorra o controle.
Trabalhos têm mostrado que o tratamento de sementes apresenta controle favorável da praga (Martins et al 2008), sendo recomendadas pulverizações após a emergência da cultura do milho mesmo com o produtor adotando esta medida de manejo. As pulverizações, se necessárias, podem ser realizadas normalmente até o estádio de V8-V9 na cultura do milho (Fancelli et al 1997), onde a praga diminui os seus prejuízos. No entanto, em campos de produção de sementes, podem ser pulverizados até o estádio de pendoamento. Estas pulverizações tendem a complementar a estratégia do tratamento de sementes, sendo fundamental para o controle de populações migrantes de outras culturas, principalmente em ambiente com migrações de outras lavouras (Grafico a seguir).
Ns últimos trabalhos realizados na Fundação Chapadão, nas safras 2015/2016 e 2016/2017, foi observado que a produtividade da cultura pode ser comprometida em mais de 50%. O conhecimento da praga, boa amostragem e definições de estratégias integradas de controle são ferramentas que auxiliam o produtor no controle da cigarrinha e consequentemente propiciam o aumento dos índices de produção e produtividade da cultura do milho.
Patricia Mariano, João Vitor Bettiol, Ana Beatriz Spadoni, Germison Tomquelski, Fundação Chapadão
Artigo publicado na edição 213 da Cultivar Grandes Culturas.
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