Mancha de bipolaris: prejuízos na safrinha
Por Willian Zancan e Bruno Carvalho (Bayer)
Na edição 247 da Revista Cultivar Máquinas deste ano, fizemos um comparativo entre 12 tratores de grande porte, baseado nos relatórios técnicos. Apresentamos um resumo dos dados obtidos nestes relatórios, comparando os valores de um trator com outro.
Estes relatórios que usamos para o comparativo fazem parte de um sistema mundial de avaliação de tratores, elaborado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), que é uma entidade internacional que objetiva trabalhar com políticas públicas que melhorem o desempenho econômico e social dos países. Trabalha em diversos países desde a década de 1960. O Brasil, embora ainda não tenha consolidado a sua entrada no órgão, tem várias ações dentro do âmbito do trabalho, como um parceiro-chave, representando a maior economia da América Latina. Uma destas ações é a adesão ao sistema de avaliação de tratores, no qual a instituição tem amplo sucesso nos vários países que o adotam.
Lamentavelmente, o processo de acreditação dos laboratórios no Brasil não acontece e o sistema de avaliação de tratores, como ocorre nos outros países, não prossegue. É incompreensível que estejamos perdendo a oportunidade de equiparar, em certificação, a nossa produção nacional de tratores, por falta de ação concreta dos órgãos de governo que deveriam agir e criar objetivos e metas para a adesão integral ao programa da OECD, juntamente com outros 26 países.
No que se refere especificamente aos tratores, a OECD produziu os denominados Códigos OECD, que são documentos norteadores para os procedimentos de ensaios oficiais de tratores agrícolas e florestais. A finalidade é facilitar o comércio entre países, normatizando as avaliações e proporcionando a geração de informação que possibilite a certificação de qualidade dos tratores. Este conjunto de normas compreende procedimentos padrões para a avaliação de desempenho, mas também para as estruturas de proteção ao operador.
Do conjunto de nove códigos, o Código 2 é o que traz os procedimentos para medir o desempenho do trator, tanto do seu motor quanto do sistema hidráulico e sua performance em tração. Os demais códigos relacionam-se à segurança das pessoas envolvidas, como a avaliação do ruído na posição do operador e das estruturas de proteção contra capotamento (ROPS) e a queda de objetos (FOPS).
A maioria dos procedimentos é feita em laboratório, mas também há uma parte que é realizada em uma pista padronizada, com o objetivo de avaliar a força e a potência na barra de tração e o consumo de combustível em velocidades típicas de trabalho.
A aplicação dos códigos pelas diferentes estações de ensaios distribuídas pelo mundo gera a necessidade de publicação de relatórios de ensaios, que são públicos. E é destes relatórios que buscamos a informação para a construção destes comparativos. Há credibilidade na informação, porque as estações que realizaram os ensaios passaram por um rígido processo de credenciamento ou acreditação. A possibilidade de comparar os relatórios e, portanto, um trator com outro, resulta da obrigatoriedade de que todos os procedimentos tenham sido feitos com o cumprimento da norma e também por que existem condições padrão para a comparabilidade.
Em 2024, a UFSM, através do Laboratório de Agrotecnologia, procedeu o desenvolvimento de uma base de dados, com todos os relatórios disponíveis, e a apresentou publicamente, por meio de um website (https://www.ufsm.br/grupos/agrotec), no qual podem ser acessadas as informações retiradas dos relatórios de ensaio. São 2.336 tratores referidos neste banco de dados, com informações desde 1991 até 2022, produzidas por 26 laboratórios distribuídos pelo mundo.
Para este comparativo, listamos vários tratores, com o nome do modelo igual ao que se comercializa no Brasil, e procuramos trios de tratores com potência similar ou aproximada, para a comparação. Baixamos, então, as fichas dos relatórios resumidos de ensaio e planilhamos as informações que queríamos comparar.
Parâmetros de comparação
Adotamos alguns parâmetros técnicos para a comparação entre os modelos. Como o ensaio oficial é dividido em duas partes, uma em laboratório com uso de dinamometria e a segunda em pista padronizada, para ensaio da capacidade de tração também dividimos a comparação em dois quadros.
Quanto ao desempenho no ensaio dinamométrico, adotamos potência por cilindro, ou seja, a quantidade de cv por cilindro do motor, que é um indicativo de quanto se está exigindo do motor nas condições estabelecidas pelos fabricantes para aquele modelo. Também usamos a relação peso/potência, ou seja, a quantidade de peso total do trator para cada cv de potência máxima do motor.
Com base no consumo volumétrico (l/h) medido no ensaio, pudemos comparar este valor com a potência produzida, dando uma ideia da eficiência no uso do combustível. Quanto ao consumo, usamos o consumo específico, representando o quanto de peso de combustível se utiliza para produzir um kW em uma hora. O consumo de Arla 32 por kW/h produzido também foi utilizado naqueles modelos que utilizam o sistema SCR de controle de emissões de poluentes.
Quanto ao desempenho na barra de tração em pista (sem lastro, como prevê o Código 2), usamos, para comparar os modelos, o coeficiente dinâmico de tração, que é uma razão entre a força de tração exercida e o peso total do trator, isto é, o quanto do peso do trator pode ser convertido em tração. Usamos, também, a eficiência em tração, comparando percentualmente o quanto da potência do motor se converte efetivamente em potência de tração.
Ressaltamos que a comparação entre os modelos escolhidos é relativa, assim como a realizada com os modelos comercializados no Brasil, atentando-se para diferenças de motores, transmissão de potência e pneus que equipam estes modelos.
É necessário explicar que os tratores que utilizamos nestes comparativos foram fabricados no exterior, ensaiados em diversos momentos e em estações de ensaios de diferentes países, por isso podem ocorrer pequenas diferenças entre as informações coletadas e a atual oferta do mercado brasileiro. Como coletamos relatórios dos últimos cinco anos, é possível que os modelos já não estejam mais sendo comercializados e, inclusive, pode ocorrer que tenha havido mudança na designação do modelo do exterior comparado com o que se comercializa aqui no nosso país. Nos tratores de gama mais alta de potência, muitas vezes importados para o nosso país, a possibilidade de que os modelos sejam exatamente iguais é maior, porém, nos modelos de menor potência de motor, estas diferenças podem ocorrer.
O primeiro trio comparamos o Mahindra 8000, LS Plus 80 e Case IH Farmall 80. O Mahindra 8000 foi comercializado no Brasil até o ano passado e muitos modelos estão trabalhando nas lavouras brasileiras. Os outros dois modelos ainda são vendidos no país. Pelas informações constantes no relatório, o LS Plus 80 é produzido no exterior com o motor FPT de 4 cilindros e aqui no Brasil com motor Perkins. O Farmall 80 da Case IH, que usa motor FPT no Brasil, utiliza o motor Iveco na Turquia, onde foi fabricado o modelo referente ao relatório.
No segundo trio, avaliamos comparativamente a informação do New Holland T7.175, do MF 6714S Dyna VT e do John Deere 6150M. Nestes três modelos, a identificação constante nos relatórios permite concluir que os motores utilizados pelos tratores testados são os mesmos dos que são produzidos e comercializados no país.
No terceiro grupo de comparação, temos o MF 7719 Dyna-6, o New Holland T7.190 e o Case IH Puma 200, que estão na faixa de potência próxima a 195 cv. Assim como na comparação anterior, os motores dos tratores testados são iguais ou semelhantes aos produzidos no Brasil.
Por último, avançamos um pouco, chegando na faixa próxima aos 320 cv de potência do motor, avaliando três modelos, o Case IH Magnum 315, o John Deere 8320R e o MF 8732 Dyna VT. Com a informação que nos proporciona o relatório, também se pode confirmar que os três modelos utilizam os mesmos motores que os seus equivalentes no Brasil.
José Fernando Schlosser,
Henrique Eguilhor Rodrigues,
Natália do Nascimento Garcez,
Angelo Scremin Rizzatti,
Laboratório de Agrotecnologia – UFSM
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