O Brasil fora dos trilhos
Por Charlene de Ávila e Neri Perin, advogados no Neri Perin Advogados Associados
Uma das preocupações dos produtores de café deve ser a avaliação da compactação do solo causada pelo tráfego de diferentes máquinas em área cafeeira, problema que interfere na produtividade e no desenvolvimento da cultura.
Os diferentes sistemas de manejo utilizados na cafeicultura, principalmente os mecanizados, estão associados ao aumento na intensidade de tráfego e da carga aplicada sobre o eixo dos tratores, colhedoras e implementos agrícolas, que em algumas regiões do país podem exceder 15 operações em um ano agrícola. Toda esta movimentação de máquinas afeta a estrutura e a agregação do solo, que são atributos que condicionam à porosidade, densidade e permeabilidade do solo, capacidade de retenção e movimentação de água e a compactação, principalmente em solos argilosos.
Nestas áreas, a compactação tem sido identificada como um dos principais processos causadores de degradação da estrutura do solo, comprometendo sua qualidade física e dificultando a manutenção ou obtenção de maiores produtividades. O efeito da compactação é mais efetivo na linha de tráfego de máquinas, devido à pressão aplicada pelos rodados, pois na maioria das vezes ultrapassa a capacidade do solo de resistir às pressões exercidas pelo maquinário, chamada de capacidade de suporte de carga, gerando deformações plásticas na estrutura do solo.
Conhecer a capacidade do solo de resistir a estas forças compressivas do tráfego de máquinas é de fundamental importância para a sustentabilidade dos sistemas de produção, uma vez que o uso da mecanização como ferramenta de produção é inevitável e crescente, pois permite maior eficiência nas operações e proporciona a viabilidade das lavouras cafeeiras. Atualmente, as lavouras dependem principalmente da redução dos custos, sendo que a colheita mecanizada pode diminuir em até 67% os custos de produção em relação à colheita manual, refletindo em maiores rendimentos para o produtor.
Para avaliar a suscetibilidade à compactação e o momento adequado para executar as operações mecanizadas no campo, muitos atributos físicos e mecânicos do solo têm sido utilizados, sendo que algumas destas propriedades que estão relacionadas ao comportamento compressivo do solo são obtidas a partir da sua curva de compressão.
Neste contexto, identificar a compactação do solo tem se tornado um importante fator para a produção da cultura e do manejo, que pode ser melhor entendido pelo estudo da compressibilidade do solo, cuja definição está relacionada com a capacidade que os solos não saturados têm de sofrer redução de volume quando submetidos a pressões externas. Com isso, o entendimento do comportamento compressivo do solo adquire importância em razão de ser a base, do ponto de vista físico, para a escolha do manejo mais adequado.
Problemas de compactação adicional ocorrem quando a pressão aplicada por rodados de máquinas ultrapassa a sua capacidade de suporte de carga, gerando deformações plásticas na sua estrutura. Assim, a avaliação da compressibilidade do solo e da sua capacidade de suporte de carga, sob diferentes condições de umidade e diversos sistemas de manejo, é de grande importância não só para determinar as pressões máximas que o solo pode suportar nessas condições, mas também para minimizar os riscos à compactação em solos cultivados com café. Portanto, o objetivo desse estudo foi avaliar a compactação do solo cultivado com café sob diferentes épocas de implantação.
Um trabalho de campo foi realizado em 2017 em uma lavoura cafeeira (Coffea arabica) intensamente mecanizada na Fazenda Nossa Senhora, no município de Muzambinho (MG), com objetivo de avaliar a compactação e a capacidade de suporte de carga de um Argissolo Vermelho-Amarelo (textura argilosa).
Foram avaliadas três áreas, sendo que na Área 1, a lavoura foi implantada em 2014 (três anos de implantação), com espaçamento de 3,6m x 0,6m, em uma área total de 3,7ha. Na Área 2, a lavoura foi plantada em 2001 (16 anos de implantação), com espaçamento de 3,6m x 0,6m, em uma área de 10,2ha, e a Área 3 o cafezal foi implantado em 1985 (32 anos de implantação), com espaçamento de 4,0m x 1,5m, em uma área com 1,5ha.
A coleta de solos para a determinação da densidade do solo, porosidade total e capacidade de suporte de carga ocorreu na linha de rodado das máquinas nas camadas de 0-0,10m, 0,10-0,20m e 0,20-0,40m. A resistência do solo à penetração foi determinada na linha do rodado até a profundidade de 0,40m, utilizando o penetrômetro de impacto.
De acordo com os resultados do trabalho, observou-se que nas três áreas avaliadas, a resistência do solo à penetração (RP) foi elevada em todo o perfil de solo avaliado até a profundidade de 0,40m. Porém, verifica que a área com 32 anos apresentou a menor resistência do solo à penetração até a profundidade de 0,29m. A menor RP em uma área com maior tempo de manejo está relacionada a uma minimização que ocorre naturalmente com o passar dos anos devido ao acúmulo de material orgânico na camada superficial do solo.
Para o limite crítico do crescimento radicular do café, estudos registram que valores entre 6 e 7MPa são críticos em solos arenosos, e de 2,5MPa para argilosos, no entanto, a RP limitante ao crescimento radicular para a maioria das culturas, é de 2MPa. De qualquer forma, os solos das áreas em estudo foram classificados como argilosos, apresentando valores de RP acima de 2MPa em todo o perfil analisado (Figura 1).
A elevada resistência do solo à penetração concomitantemente com a densidade do solo e a porosidade total (Figura 2) diminui com a profundidade e com o aumento da idade do cafezal, o que pode ser justificado pelo acúmulo de material orgânico nestes solos, que na camada superficial ocorre devido à deposição dos restos culturais.
O solo na linha do rodado (LR) apresentou menor suscetibilidade de compactação em ambas as camadas para a área com 32 anos de cultivo, com umidade do solo abaixo de 33% (Figura 3). Com o aumento na profundidade do solo, há também aumento na capacidade deste sofrer maior pressão das máquinas, desde que ocorra tráfego quando a umidade do solo esteja na capacidade de campo (33%) ou menor.
Por outro lado, a área com três anos foi a que apresentou maior pressão de consolidação, possivelmente pelo maior preparo e desestruturação mais recente, com isto, menor proteção da matéria orgânica depositada sobre o solo.
A LR promoveu redução nos valores absolutos da pressão de preconsolidação com aumento da camada de amostragem. Esses resultados refletem o efeito da maior compactação do solo na linha do rodado de 4,17MPa, na área com 32 anos de manejo, causada pelo tráfego de máquinas agrícolas, principalmente durante a colheita do café. Contudo, o ideal é observar quando o solo está com a umidade menor que 33% - deve-se trafegar com máquinas e implementos, pois nessa umidade o solo pode suportar tal pressão, sem que ocorra prejuízo à sua estrutura e não comprometendo o desenvolvimento das plantas.
Apesar disso, há uma tendência de que ocorra a compactação do solo se não for respeitada a capacidade de suporte de carga, juntamente com sua umidade crítica principalmente nas épocas de maior umidade no solo, isto é, período de maior precipitação. De forma geral, na área de três anos o ideal é que se trafegue em uma umidade menor que 36%, na área de 16 anos, o tráfego de máquinas deve ocorrer quando a umidade estiver menor que 34%, e na área de 32 anos, com umidade menor que 32%.
A avaliação da suscetibilidade do solo à compactação e das alterações nos seus atributos causadas pelo tráfego de máquinas agrícolas deve ser uma preocupação dos agricultores, isso porque as limitações podem reduzir a produtividade das culturas e a rentabilidade da atividade agrícola.
Para o manejo da lavoura foram utilizados os seguintes tratores e colhedoras: trator Massey Ferguson, modelo Cafeeiro 275, com 75cv; trator Yanmar 1155 4 x 4 Cafeeiro, com motor 4TNV98-XAT de 55cv; trator marca Massey Ferguson 275 Advanced, com motor A4-4.1/MWM international, quatro cilindros com cilindrada de 4.100cm3, de 75cv; colhedora de café marca TDI, modelo Electron, com motor MWM D 229-4 de 67cv.
Os implementos utilizados na avaliação foram: adubadora Kmaq modelo comander H 10 S, com capacidade para 450kg de fertilizantes; soprador de café “varre tudo pé de boi”, marca Bertanha com peso médio de 400kg; recolhedora de café Mogiana Spirlandelli 25C, marca Bertanha; carreta para transbordo marca Jumil, com capacidade de 5mg/ha.
Fábio Henrique Barbosa Sandoval, Zigomar Menezes de Souza, Elizeu de Souza Lima, Ingrid Nehmi Oliveira, Lenon Henrique Lovera, Feagri - Universidade Estadual de Campinas; Diego Alexander Aguilera Esteban, Feagri, Universidade Estadual de Campinas e 2Corporación Colombiana de Investigación Agropecuaria; Reginaldo Barbosa da Silva, Unesp - Campus de Registro
Artigo publicado na edição 186 da Cultivar Máquinas, mês julho, ano 2018.
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