Cochonilha-das-raízes da mandioca: nova praga da cultura no Cerrado

A cochonilha-das-raízes da mandioca apresenta alto potencial reprodutivo e é capaz de se disseminar rapidamente em uma área onde foi introduzida, causando perdas econômicas.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma fonte importante de

energia, e por possuir características como rusticidade e alto

potencial produtivo, mesmo com o emprego de baixos níveis tecnológicos

de cultivo, apresenta-se como base alimentar para mais de 900 milhões

de pessoas no mundo. É considerada uma das culturas mais tolerantes ao

ataque de pragas, contudo, estudos recentes têm demonstrado que a

redução na produção pode ser significativa quando as populações de

pragas são altas, e as condições ambientais desfavoráveis à cultura.

A cochonilha-das-raízes da mandioca -

Fonseca (Hemiptera: Monophlebidae) foi descrita no final da década de

1970 a partir de material coletado no Distrito Federal. Trata-se de uma

espécie autóctone ou nativa do Brasil. Atualmente essa espécie tem sido

relatada em cultivos de mandioca no Distrito Federal, e nos Estados de

Minas Gerais, Bahia e Goiás. Até o presente momento, para

,

não foram encontrados machos na natureza. A espécie se reproduz por

partenogênese telítoca, ou seja, as fêmeas, sem o concurso do macho,

dão origem somente a fêmeas. Esse inseto apresenta hemimetabolia ou

metamorfose incompleta passando por três estágios, os quais são: ovo,

ninfa e adulto.

Em condições de laboratório, o ciclo biológico de

tem duração média de 69 dias de ovo até a emergência do adulto e 96

dias até a morte do adulto. Os ovos são elípticos de coloração

avermelhada e recobertos por uma pulverulência branca. Apresenta três

estádios (ínstares) ninfais cuja duração total é de 44 dias. As ninfas

de primeiro ínstar apresentam o corpo de coloração vermelha com a

presença de algumas cerdas longas. As ninfas de segundo e terceiro

ínstares são bastante semelhantes ao adulto, tanto na forma como na

coloração. Os adultos são ápteros, de coloração marrom-avermelhada,

apresentam corpo elíptico, suavemente convexo com diversas rugas

transversais, e medem cerca de 8 mm de comprimento e 4 mm de largura.

Vivem cerca de 27 dias e produzem em média 240 ovos.

Comportamento

- A cochonilha-das-raízes da mandioca apresenta alto potencial

reprodutivo e é capaz de se disseminar rapidamente em uma área onde foi

introduzida. No Cerrado (Distrito Federal) observa-se que após o

plantio de manivas infestadas, ocorrido, por exemplo, em

outubro/novembro, esses insetos permanecem sob o solo e passam a se

multiplicar nas raízes. Nesse local são encontradas colônias formadas

por ninfas nos seus diversos estádios de desenvolvimento. Os espécimes

da colônia mostram baixa mobilidade e se mantêm exclusivamente se

alimentando das raízes. Após a queda das folhas da mandioca, o início

da rebrota e a proximidade da estação chuvosa, as cochonilhas passam

gradativamente a colonizar também a parte aérea.

Tanto sob o

solo como na parte aérea das plantas, os espécimes, quando passam à

fase adulta, não mais se alimentam. As fêmeas adultas abandonam a

planta hospedeira e procuram se abrigar em uma fenda no solo, embaixo

de pedras, torrões de terra ou restos vegetais. Nesse local, as fêmeas

passam a produzir, em toda a superfície do corpo, pequenas fibras de

coloração branca que conferem ao inseto o aspecto de um pequeno tufo de

algodão e formam um pequeno saco onde serão depositados os ovos

(ovissaco).

Após a eclosão as ninfas passam a se locomover de

forma bastante rápida, contudo, após o encontro da planta hospedeira as

ninfas não mais se locomovem até que ocorra a muda para o segundo

ínstar. As ninfas de segundo e terceiro ínstares apresentam baixa

mobilidade, movimentando-se apenas após a ecdise para procurar um novo

sítio de alimentação na planta, geralmente próximo ao anterior.

Tendo em vista a duração do ciclo biológico de

pode-se

inferir que essa espécie é capaz de produzir cerca de 5 gerações por

ano e, com base no seu potencial reprodutivo, o aumento do tamanho da

população também pode ser bastante expressivo.

Hospedeiros - Em estudos realizados na Embrapa Cerrados além de mandioca (

) e

, a cochonilha

tem

sido observada em pelo menos 15 espécies de plantas daninhas que

ocorrem em áreas de cultivo de mandioca. Essas plantas daninhas e as

plantas voluntárias de mandioca (tigüeras) podem servir como

reservatórios naturais alternativos para essa praga, funcionado como

hospedeiros alternativos e mantendo a população do inseto, mesmo que em

baixos níveis, na área até um plantio de mandioca subseqüente.

Disseminação - A disseminação de

pode ocorrer principalmente por meio do plantio de manivas

contaminadas, obtidas em áreas com histórico de incidência da praga

e/ou por meio do transporte de indivíduos, principalmente ninfas de

primeiro ínstar, aderidas em implementos ou mesmo no vestuário de

pessoas que circularam em áreas contaminadas. Estudos recentes têm

demonstrado que em 100% das plantas provenientes de manivas obtidas em

área onde havia a presença da praga foi possível observar a

cochonilha-das-raízes da mandioca

Após a sua introdução na área

de cultivo a contaminação de plantas na mesma área, até então isentas,

irá ocorrer de forma rápida. Os prováveis mecanismos para que isso

ocorra podem ser o caminhamento de ninfas de primeiro ínstar de uma

planta a outra; por meio de água de chuva que arrastaria os espécimes

de um ponto para outro dentro da cultura ou mesmo por meio de formigas,

que quase sempre estão associadas a essa cochonilha, e que poderiam

transportá-las para outras plantas, a exemplo do que ocorre com outras

espécies de cochonilhas.

Danos causados pela cochonilha - Em

pesquisas, onde se realizou o plantio de mandioca a partir de manivas

obtidas de plantas, que no campo apresentavam infestação de cochonilhas

na parte aérea, observou-se diminuição do poder de germinação de até

30%. Da mesma forma, as plantas provenientes de manivas infestadas com

a colhonilha tiveram seu crescimento prejudicado, reduzindo o peso da

parte aérea e levando à morte progressiva das mesmas, onde sobreviveram

apenas 20% dessas plantas, doze meses após o plantio. Como dano

qualitativo tem se observado que a intensa sucção dos insetos pode

provocar pequenas manchas nas raízes depreciando o produto.

Manejo

- Pode-se afirmar que a utilização de manivas de boa procedência e

isentas da praga é a melhor estratégia para se evitar que esses insetos

sejam introduzidos em uma determinada área. Não foram desenvolvidos,

ainda, métodos eficazes para a redução da população a níveis aceitáveis

em áreas já infestadas. O uso de inseticidas de contato ou sistêmicos

aplicados na parte aérea não produzem bons resultados, uma vez que as

plantas são reinfestadas por espécimes vindos das raízes. A presença de

inimigos naturais tem sido observada em áreas infestadas por

.

Larvas de predadores como crisopídeos (Neuroptera: Chrysopidae) e

sirfídeos (Diptera: Syrphidae) já foram verificadas. Dentre os inimigos

naturais, uma espécie de coccinelídeo ou joaninha (Coleoptera:

Coccinellidae) do gênero Exoplectra parece desempenhar papel importante

controlando as cochonilhas que estão na parte aérea da planta entre os

meses de novembro e dezembro. O manejo de plantas daninhas e das

plantas voluntárias depois da colheita da mandioca também pode ser um

meio importante para se evitar a sobrevivência de P. navesi e a

reinfestação da cultura.

Considerações finais - A cultura da

mandioca, apesar de sua rusticidade e tolerância a fatores bióticos

adversos, pode apresentar produtividade muito baixa em função da

ausência de um manejo fitotécnico adequado. Relatos da ocorrência da

cochonilha-das-raízes,

,

em plantios de mandioca no Distrito Federal e nos Estados de Minas

Gerais, Goiás e Bahia são bastante recentes, contudo, os danos

quantitativos e qualitativos têm sido verificados por meio de dados de

pesquisa. Como toda praga-de-solo, essa espécie, uma vez introduzida na

área de cultivo, apresenta poucas alternativas viáveis de controle, já

que o solo funciona como uma barreira, impedindo e/ou dificultando o

contato entre os agentes de controle e a praga alvo. Além das

dificuldades de controle, o fato de

se disseminar por meio de manivas, apresentar um ciclo biológico curto

e alto potencial reprodutivo (capaz de produzir até 5 gerações por

ano), ficar sob o solo boa parte do ano (muitas vezes sendo detectada

pelo produtor somente meses após o plantio), sinaliza para necessidade

de prevenção de sua disseminação na cultura da mandioca no Brasil.

Tendo em vista o exposto, faz-se necessário que pesquisadores, técnicos

e produtores atentem para a importância de se conhecer a praga e de

observarem que o plantio de manivas isentas da cochonilha é o meio mais

eficaz de prevenção.

Pesquisadores da Embrapa Cerrados, km 18 BR 020, Rod. Brasília /Fortaleza. Planaltina-DF

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