Práticas de inoculação e coinoculação associadas à soja
Por Igor Fernando Barbosa, Supervisor de Desenvolvimento Técnico de Mercado Fast Agro
A ocorrência de doenças em soja sempre impactou diretamente no potencial produtivo das lavouras, especialmente após o surgimento da ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) na safra 2001/02, no Brasil. Mais recentemente, os custos para o controle das doenças têm aumentado de maneira quase linear, evidenciando a preocupação dos produtores de soja com a maior severidade das doenças e, consequentemente, o impacto que apresentam sobre a produtividade das lavouras.
Passados quase 20 anos da chegada da ferrugem da soja ao Brasil, a doença tem sido eficientemente controlada quando se consegue aliar o vazio sanitário, as semeaduras na abertura da janela e concentradas em um período curto, a adoção de cultivares de ciclo precoce e a proteção das plantas com fungicidas. Entretanto, nos casos em que a semeadura é realizada de forma mais tardia ou com cultivares de ciclo mais longo, a doença tem causado sérios prejuízos e expõe a fragilidade do sistema, quando este se baseia apenas na proteção com fungicidas.
Além da ferrugem, diversas outras doenças de parte aérea têm crescido em importância ano após ano no cerrado brasileiro, destacando-se a mancha parda (Septoria glycines), cercosporiose (Cercospora kikuchii), a mancha-alvo (Corynespora cassiicola) e antracnose (Colletotrichum sp.). Temos ainda a ocorrência de surtos de mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum) e oídio (Microsphaera diffusa), além do aumento na ocorrência do míldio (Peronospora manshurica) em algumas cultivares. Independentemente da safra ou região onde se cultiva soja, invariavelmente há a presença de uma ou mais dessas doenças, causando danos à produtividade.
Outro aspecto de grande relevância tem sido a ocorrência cada vez mais precoce dessas doenças, especialmente quando se trata de manchas foliares. Apesar de variações entre cultivares de soja, para a grande maioria do germoplasma disponível comercialmente, é muito comum a presença de sintomas de antracnose desde a fase cotiledonar da soja, mancha parda e cercosporiose já nos primeiros trifólios, e mancha-alvo a partir do fechamento das entrelinhas (Figura 1). Esse cenário tende a ser mais severo em áreas com monocultivo de soja.
Experimentos conduzidos no Phytus Group, em Planaltina, Distrito Federal, evidenciam que o início das aplicações na fase vegetativa da soja tem significativa contribuição no controle do complexo de doenças, com reflexos no aumento de produtividade (Figura 2). O início assertivo não só possui efeito preventivo sobre a ferrugem, mas também contribui para a redução da evolução de outras doenças anteriormente citadas, como as manchas foliares e antracnose. A ausência dessa proteção no estádio vegetativo dificulta que essas doenças sejam efetivamente controladas mais tarde, por uma série de fatores, incluindo a dificuldade de penetração de gotas e a menor performance dos fungicidas após muita doença estabelecida.
Figura 1. Sintomas e estruturas reprodutivas de Cercospora kikuchii e Septoria glycines (superior esquerdo), cotilédones atacados por antracnose (inferior esquerdo) e aspecto de uma folha sadia e outra severamente atacada pela mancha alvo (direito). Essas doenças têm se manifestado de maneira cada vez mais precoce nas lavouras.
Figura 2. Produtividade da soja (BMX Desafio RR) em função da aplicação de fungicida na fase vegetativa e reprodutiva, comparadas ao tratamento testemunha, em experimento conduzido durante a safra 2017/18, em Planaltina/DF.
Nas últimas safras é crescente também a preocupação com a redução de eficácia dos fungicidas e os riscos com falhas de controle. O produtor sabe que falha de controle é sinônimo de perdas econômicas. Há casos de redução de eficácia de triazóis, estrobilurinas e carboxamidas no controle de Phakopsora pachyrhizi, de benzimidazóis e carboxamidas no controle de Corynespora cassiicola e de estrobilurinas sobre Cercospora sp. Nesse cenário, reitera-se a importância das boas práticas de uso dos fungicidas, visando extrair dessas ferramentas o máximo de controle. Além da questão de posicionamento já comentada, uma outra importante prática para aumentar controle e, consequentemente, a produtividade da soja, reside no reforço dos fungicidas sítio-específicos com fungicidas multissítios. Essa prática tem sido cada vez mais utilizada devido aos resultados de campo serem claros e consistentes, especialmente no controle de ferrugem, antracnose e mancha-alvo.
Outro aspecto de grande importância e que certamente precisará ser melhor explorado está relacionado às cultivares de soja, tanto por suas características morfofisiológicas, quanto genéticas. Apesar da grande oferta de cultivares no mercado, pouco se conhece sobre a reação a doenças e resposta à aplicação dos fungicidas em escala regional e microrregional. O conhecimento de como cada cultivar interage com as populações de patógenos e os fungicidas aplicados em cada região poderia ser uma ferramenta poderosa para auxiliar no planejamento da safra. Adicionalmente, ampliar a oferta de germoplasma, que concilie resistência e teto produtivo alto, segue sendo um grande desafio aos profissionais do melhoramento genético.
Por fim, é indispensável ter em mente que, boa parte das falhas de controle de doenças com as quais nos deparamos no dia a dia, ainda estão relacionadas com aspectos básicos, tanto operacional como de planejamento. Nesse sentido, fatores como a qualidade das sementes, equilíbrio nutricional, qualidade física e biológica do solo, tecnologia de aplicação de defensivos, intervalo entre as aplicações de fungicidas, misturas de tanque e a capacidade operacional são responsáveis por grande parte dos problemas.
Confira a parte 1 aqui.
Confira a parte 2 aqui.
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