O avanço do cultivo do trigo no Cerrado
Por Lucas Willwock, engenheiro agrônomo da Biotrigo Genética
Pesquisadores propõem um projeto de barra auxiliar para pulverizador que possibilita a aplicação de herbicidas próxima do solo, minimizando a deriva do produto.
No sistema de semeadura direta, o controle químico das plantas daninhas com herbicidas tornou-se uma prática constante, especialmente antes da instalação das culturas, em operações de dessecação. A aplicação de um herbicida sistêmico, como o glifosato, por exemplo, é uma boa alternativa devido ao seu amplo espectro de ação e baixa toxicidade a organismos não alvos (abelhas, pessoas, vegetação etc). Outro fator que contribuiu muito para a maior adoção deste princípio ativo foi o aumento do cultivo das culturas geneticamente modificadas. Entretanto, na maioria das vezes, dá-se muita importância ao produto fitossanitário a ser aplicado e pouca à técnica de aplicação. É preciso garantir que o produto alcance o alvo, neste caso as plantas daninhas, de forma eficiente, minimizando-se as perdas, como a deriva, a evaporação e o escorrimento de calda.
Com a finalidade de tentar reduzir as perdas para o solo, promover maior contato do produto com o alvo da aplicação e empregar menor consumo de calda, foi desenvolvido um acessório de pulverização para ser acoplado à barra dos pulverizadores hidráulicos convencionais, denominado de Kit Alvo de Pulverização. O Kit é constituído de um tubo resistente, com tamanho proporcional à barra principal do pulverizador. Trata-se de uma barra auxiliar de pulverização dotada de pontas de pulverização ao longo de sua extensão, voltadas para trás, com espaçamentos regulares entre os bicos, na qual, em seu interior, há uma rede de canos que comunicam a calda até as pontas. Para o seu funcionamento, a barra original do pulverizador é desativada, e o Kit é acoplado à barra do pulverizador por meio de bastões flexíveis. A altura em relação ao solo ou à cultura é regulável e depende do tipo de aplicação e do estádio vegetativo da cultura, de modo que a barra auxiliar fique o mais próximo do solo possível.
Entretanto, ainda não existem muitos estudos sobre a eficiência real desse equipamento em campo. Dessa forma, foi realizado um trabalho para avaliar a eficácia do controle de plantas daninhas com herbicida em operação de dessecação, a deposição de calda nas plantas daninhas e as perdas para o solo em função de diferentes volumes de calda com e sem o uso de uma barra auxiliar de pulverização.
O experimento foi realizado na fazenda Pasto do Passarinho, localizada no município de Uberlândia, Minas Gerais. Em delineamento experimental de blocos ao acaso (DBC), com cinco tratamentos e cinco repetições, avaliou-se o controle de plantas daninhas promovido pela aplicação de herbicida, conforme os tratamentos descritos na Tabela 1.
Para a aplicação foi utilizado o ingrediente ativo glifosato (Crucial - sal de isopropilamina de glifosato 40,08% m/v; sal de potássio de glifosato 29,78% m/v), na dose de 4L/há de produto comercial, conforme indicação de bula para o controle de Paniccum maximum. Para o experimento foi utilizado um pulverizador terrestre da marca Montana, modelo Ranger 3000, com uma barra convencional de 18m de comprimento e, opcionalmente, com barra auxiliar acoplada ao sistema hidráulico. Para facilitar as operações, trabalhou-se apenas com metade da barra. A velocidade de operação em todos os tratamentos foi de 9,5km/h. Nesse experimento, a barra convencional ficou a 0,50m de altura e a barra auxiliar, a 0,15m.
O reduzido volume de calda empregado com a barra auxiliar deve-se ao fato de que a mesma, segundo o fabricante, foi desenvolvida para esta finalidade, visto que se pode trabalhar com gotas finas, já que a aplicação é feita próxima ao solo. É importante ressaltar, contudo, que, independentemente da recomendação do fabricante, as aplicações devem ser realizadas dentro de condições climáticas favoráveis à pulverização.
Para avaliar a deposição de calda nas plantas daninhas e as perdas para o solo, foi adicionado à calda de aplicação um traçador composto do corante alimentício Azul Brilhante na dose de 300g/há (ajustando-se a quantidade do corante adicionado ao tanque em função do volume de aplicação empregado), para ser detectado por absorbância em espectrofotometria. A determinação de perdas de calda para o solo foi realizada por meio da distribuição ao acaso de quatro lâminas de vidro (37,24cm2 cada) por parcela.
Para avaliar a eficácia de controle das plantas daninhas, foram realizadas duas avaliações visuais de controle, aos sete e 14 dias após a aplicação (DAA) do herbicida, mediante a escala de avaliação visual de controle de plantas daninhas por meio de herbicida. As condições ambientais durante as aplicações foram monitoradas por meio de um termo-higro-anemômetro digital. A temperatura média durante as aplicações foi de 31°C, a umidade relativa foi de 51% e a velocidade do vento de 5km/h.
Não houve diferença entre os tratamentos avaliados quanto à deposição de calda nas plantas daninhas, entretanto, para as perdas para o solo, independentemente do volume de calda aplicado, a utilização da barra auxiliar proporcionou menores perdas (Tabela 2). Neste sentido, embora a deriva não tenha sido avaliada, possivelmente deve ter ocorrido maior perda atmosférica das gotas finas, de forma a equacionar o destino da aplicação: solo, planta ou perda atmosférica. Ainda que não tenham ocorrido diferentes depósitos nas plantas, o emprego da barra auxiliar permitiu maiores rendimentos operacionais, devido aos menores consumos de calda, o que se traduz em redução de custos.
Os dados de eficácia de controle das plantas daninhas aos sete e 14 DAA (Tabela 3) não diferiram em função da presença ou ausência da barra auxiliar de pulverização e do volume de calda utilizado. De acordo com a escala de avaliação visual de controle de plantas daninhas (Alam, 1974), aos 7 DAA os tratamentos apresentaram boa eficácia de controle, exceto na aplicação convencional com 150L/ha, que foi considerada como muito boa. A avaliação realizada aos 14 DAA resultou em uma eficácia de controle considerada muito boa, demonstrando a viabilidade de todos os tratamentos.
É possível concluir que a deposição de calda herbicida nas plantas daninhas não diferiu em função da presença ou ausência da barra auxiliar de pulverização e do volume de calda aplicado, demonstrando a viabilidade do uso de volumes de aplicação entre 30 e 50L/ha com a barra auxiliar. As perdas de calda para o solo foram maiores quando foi utilizada a barra convencional do pulverizador, nos maiores volumes de aplicação. A eficácia de controle das plantas daninhas com o herbicida glifosato foi muito boa, independentemente do uso ou não da barra auxiliar e do volume de calda.
Rafael Marcão Tavares, Miller Galli Naves, Mariana Rodrigues Bueno, João Paulo Arantes Rodrigues da Cunha, UFU
Artigo publicado na edição 147 da Cultivar Máquinas.
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