A Sigatoka-amarela, conhecida também como mal-de-Sigatoka, ou cercosporiose, é uma doença que ocorre nas folhas da bananeira. Apesar das preocupações despertadas pela Sigatoka-negra, que foi constatada em 1998, a Sigatoka-amarela continua sendo a mais grave doença da bananeira no país, até porque a Sigatoka-negra ainda está restrita a alguns Estados. A história da Sigatoka-amarela teve início em Java, em 1902, onde as manchas foram descritas. Todavia, os primeiros prejuízos de importância ocorreram em 1911, nas Ilhas Fiji (Vale de Sigatoka), de onde lhe veio o nome. Hoje está distribuída por todas as partes do mundo, exceto Egito, Israel e Ilhas Canárias.
No Brasil, foi constatada inicialmente na Amazônia, em 1944, estando presente em todo o país, embora com maior relevância econômica nas regiões ou microrregiões produtoras onde as chuvas são mais freqüentes e a temperatura se mantém em torno do nível tido como ótimo, de 25°C. A Região Sudeste é a que melhor se enquadra nessas condições e onde se encontra a maior concentração de cultivos de bananeira.
O Norte de Minas Gerais, hoje uma das mais importantes regiões produtoras de banana do país, apesar de não se encaixar bem nessa característica climática, tem registrado alta severidade da doença, provavelmente fruto da alta concentração de cultivos irrigados, que terminaram por influenciar o próprio clima da região.
Os prejuízos causados pela Sigatoka-amarela são resultantes da morte precoce das folhas e do conseqüente enfraquecimento da planta, com reflexos imediatos na produção, ocorrendo diminuição do número de pencas e do tamanho dos frutos, maturação precoce dos frutos no campo, podendo atrasar e/ou reduzir o perfilhamento.
Agente causal
A Sigatoka-amarela é causada por
, Leach, a forma perfeita ou sexuada de
(Zimm) Deighton. São, portanto, dois tipos de esporos produzidos pelo patógeno e responsáveis pelo aparecimento da doença: o esporo sexuado que é o ascósporo, e o assexuado, que é o conídio. Entre eles há diferenças de comportamento que se refletem na epidemiologia da doença.
O sintoma inicial da infecção é observado como uma leve descoloração em forma de ponto entre as nervuras secundárias da segunda à quarta folha. A contagem das folhas na bananeira é feita de cima para baixo, a folha vela (aquela que ainda não abriu) é a zero e as subseqüentes recebem os números 1, 2, 3, 4, etc. A descoloração aumenta, formando uma estria de tonalidade amarela. Com o tempo as pequenas estrias crescem e formam manchas necróticas, elípticas e alongadas, com centro de coloração cinza, envolta por halo amarelo, dispostas paralelamente às nervuras secundárias da folha.
Aspectos epidemiológicos
A ocorrência da Sigatoka-amarela é fortemente influenciada pelas condições climáticas, onde três elementos associados ao clima: chuva, orvalho e temperatura, são fundamentais para que ocorram infecção, produção e disseminação do inóculo.
Para que a doença ocorra, o esporo deve ser depositado na face inferior de uma folha suscetível à infecção (folhas de 0 a 3) e, para que ele germine, é preciso que haja água livre na superfície foliar. Dependendo da temperatura, a germinação se processará num intervalo de 2 a 6 horas, ocorrendo posteriormente o crescimento da hifa sobre a folha até encontrar um estômato, onde será formada uma estrutura para penetração celular, o apressório. O processo de germinação e penetração pode estender-se por dois a seis dias. O aparecimento dos primeiros sintomas, decorrentes de uma nova infecção que estabeleça, irá ocorrer em cerca de 20 dias, mas pode demorar cerca de 70 dias. A maior rapidez dependerá, em primeiro lugar, da manutenção da temperatura próxima aos 30°C e alto nível de umidade ambiental. Nessas condições, também essa nova lesão estará produzindo novos esporos cerca de 35 dias após a infecção e a planta poderá estar perdendo a folha em razão da necrose total do tecido, ocasionada pela junção das lesões, com aproximadamente 50 dias de idade.
Controle da doença
A Sigatoka-amarela tem controle, apesar das dificuldades de procedê-lo, devido principalmente à altura das plantas. O uso do sistema integrado é a forma mais eficiente e ecologicamente correta para se fazer o controle dessa doença. Nesse sentido, existem várias práticas culturais que podem e devem ser aplicadas durante a instalação e condução do bananal, para maximização da eficiência do controle, seja ele apenas cultural ou integrado.
Práticas culturais
Drenagem do solo - Além de melhorar o crescimento geral das plantas, a drenagem rápida de qualquer excesso de água no solo reduz as possibilidades de formação de microclimas úmidos, que são adequados ao desenvolvimento do doença. É, portanto, um cuidado que deve ser tomado durante a instalação do bananal.
Combate às plantas daninhas - No bananal, a presença de altas populações de plantas daninhas não só incrementa a ação competitiva que estas exercem, como também favorece a formação de microclima adequado aos patógenos, devido ao aumento do nível de umidade no interior do bananal. Recomenda-se, portanto, a manutenção do bananal devidamente capinado ou roçado.
Nutrição do bananal - Não se pretende falar de nutrientes específicos que possam reduzir a severidade da Sigatoka, mas da condição na qual plantas, adequadamente nutridas, propiciam um ritmo de emissão mais acelerado, ocorrendo assim o aparecimento de folhas em intervalos menores. A conseqüência imediata é o aparecimento das lesões de primeiro estádio e/ou manchas em folhas mais velhas na planta. Ocorre nessa situação o que se pode chamar de compensação das perdas provocadas pela doença, com a manutenção de uma área foliar fotossintetizante adequada às necessidades da planta. Em plantas mal nutridas, o lançamento de folhas é lento e, conseqüentemente, as lesões serão visualizadas em folhas cada vez mais novas e, quanto mais nova é a folha com os primeiros sintomas, mais grave é a situação.
Desfolha sanitária - A eliminação racional das folhas atacadas ou de parte dessas folhas é de suma importância, uma vez que com isso se reduz a fonte interna de inóculo no bananal. É preciso, entretanto, que tal eliminação seja feita com bastante critério, para não provocar danos maiores que os causados pela própria doença. No caso de infecções concentradas, recomenda-se a eliminação apenas da parte afetada. Quando, porém, o grau de incidência for alto e a infecção tiver avançado extensamente sobre a folha, recomenda-se que esta seja totalmente eliminada. Embora essas folhas infectadas continuem produzindo esporos por algum tempo após o corte, a concentração de inóculo dentro do bananal é consideravelmente reduzida. Além disso, elas servirão como cobertura morta, retornando após a decomposição, na forma de nutrientes para as plantas. Essa prática é seguida à risca por grandes empresas produtoras de banana na Costa Rica, sendo realizada semanalmente ou quinzenalmente, dependendo da severidade do ataque e da cultivar.
Sombreamento - Plantas mantidas sob condições sombreadas apresentam pouca ou nenhuma doença. As razões podem ser duas: redução ou não formação de orvalho nas folhas, importante fator no processo de infecção e ainda, redução na incidência de luz, que também é importante no desenvolvimento dos sintomas da doença. Na prática poder-se-á conseguir os efeitos do sombreamento fazendo-se o plantio em sistema agro-florestal, que seria apropriado para a região amazônica e outras microrregiões brasileiras, mas teria efeitos bastante pronunciados sobre o ciclo da cultura, altura das plantas e a própria produção. Há, porém, a alternativa do adensamento do plantio como forma de reduzir a penetração de luz, aumentar o auto-sombreamento das folhas, produzindo os efeitos citados acima. No caso de bananas tipo Plátanos (bananas para cozinhar ou fritar), essa prática funcionou bem na Colômbia e está funcionando muito bem na Costa Rica, reduzindo a severidade da Sigatoka-negra e possibilitando a redução do número de aplicações de defensivos. Todavia, para as condições brasileiras, da população de plantas que maximize os efeitos de redução da severidade da doença, sem perda da qualidade e produtividade.
Uso de variedades resistentes
O uso de variedades resistentes é uma alternativa viável e de alto impacto sobre a atividade bananeira. Passa, todavia, pela aceitação comercial da nova cultivar. A busca por alimentos mais saudáveis, traz um forte apelo ao natural, podendo também facilitar a aceitação de novas variedades resistentes à doença e, conseqüentemente, ao crescimento de cultivos com as novas variedades sem a necessidade de uso dos defensivos. Veja as opções varietais existentes no mercado e o seu comportamento em relação à Sigatoka-amarela e negra.
Controle químico
Os fungicidas continuam sendo a principal arma para o controle da Sigatoka-amarela, principalmente quando se cultiva as variedades do subgrupo Cavendish e subgrupo Prata, todas altamente suscetíveis. Para que essa prática seja executada com os cuidados que ela exige e, para que os resultados esperados sejam os melhores possíveis do ponto de vista da eficiência do controle e da segurança do aplicador e do ambiente, é importante observar os seguintes aspectos:
• Realizar as aplicações nas horas mais frescas do dia, que corresponde ao início da manhã e/ou ao final da tarde. Somente em dias frios ou nublados as aplicações podem ser feitas a qualquer hora do dia;
• Evitar os dias ou períodos de vento forte, a velocidade ideal está entre 1 e 2 m/s;
• Não fazer pulverizações durante a ocorrência de chuva, mesmo que seja em pequena intensidade;
• Durante as aplicações a temperatura ambiente deve ser menor que 28°C e a umidade relativa não deve ser menor que 70%;
• A ocorrência de chuvas fortes imediatamente após uma aplicação de fungicida praticamente invalida o seu efeito. A eficiência da operação estará assegurada quando, entre o momento da aplicação e o da ocorrência de chuva leve, transcorrer um intervalo de tempo superior a três horas;
• Ter em mente o alvo correto, que são as folhas mais novas da planta (folhas 0, 1, 2 e 3). Para atingi-lo o produto deve ser elevado acima do nível das folhas.
Épocas de controle
Conforme enfatizado, a severidade da Sigatoka-amarela é fortemente influenciada pelas condições climáticas, basicamente temperatura e umidade (chuva). Como em quase todo o país há uma separação clara entre período seco e período chuvoso, o controle da Sigatoka deve ser priorizado neste último, ocasião em que o ambiente é mais propício ao desenvolvimento da doença. De modo geral, pode-se dizer que o controle da Sigatoka deve começar tão logo se inicie o período das chuvas e prolongar-se até a sua interrupção. Microrregiões que não se encaixam nessas condições, devem ser tratadas com as exceções.
A indicação da necessidade e da época do controle poderá ser feita por sistemas de pré-aviso, que visam racionalizar o uso de defensivos. Em observações feitas no Recôncavo baiano, utilizando o sistema de pré-aviso biológico, foi possível reduzir em 40% o número de aplicações de fungicidas, utilizadas em intervalos pré estabelecidos de 21 dias. Para sua execução, entretanto, é indispensável a realização de estudos localizados, a fim de ajustar qualquer que seja o método, às condições da região.
Produtos, dosagens e intervalos de aplicação
Na Tabela 1 (
), estão relacionados os principais produtos em uso ou com potencial de utilização no controle da Sigatoka-amarela. A classe toxicológica dos produtos é uma característica interessante a ser observada, procurando dar preferência aos produtos menos tóxicos ao homem e aos animais. Um produto da classe toxicológica IV, significa que o mesmo é menos tóxico e, portanto, menos perigoso do que um produto da classe toxicológica I.
Alguns dos produtos citados na tabela já contam com novas formulações à disposição dos produtores como é o caso do mancozeb. O óleo mineral, embora não esteja relacionado entre os fungicidas, tem larga utilização no controle do mal-de-Sigatoka, tanto para uso puro como em mistura com os fungicidas, melhorando a eficiência do controle, quando utilizado como veículo de fungicidas sistêmicos. Veja algumas das principais combinações de fungicidas utilizadas no controle da Sigatoka-amarela no Brasil (Tabela 2 ).
Os intervalos de aplicação indicados na Tabela 2 são normalmente utilizados em sistemas de controle sistemático (sistema de intervalos de aplicação pré estabelecidos). Dependendo das condições climáticas, da concentração de inóculo no ambiente e, conseqüentemente, do parecer de um técnico especializado no assunto, os intervalos podem ser diminuídos ou ampliados.
Resistência do fungo aos fungicidas
O aparecimento de populações do patógeno resistentes aos fungicidas tem sido uma ocorrência comum no controle da Sigatoka-amarela, principalmente quando se utiliza de forma contínua os benzimidazóis e thiabendazóis, que atuam na divisão celular como inibidores da mitose. Para evitar tais problemas, é importante a alternância de produtos e o acompanhamento do controle com testes de laboratório, para monitorar a resistência ou suscetibilidade do fungo aos fungicidas. Em caso de se observar o crescimento da população de esporos resistentes ao fungicida em uso, deve-se providenciar imediatamente a substituição. Isso não significa que o produto, cuja resistência do fungo foi observada, não deva ser usado nunca mais, mas que o retorno ao seu uso deve ocorrer após a redução da população resistente.
Zilton José Maciel Cordeiro,
Embrapa Mandioca e Fruticultura
* Este artigo foi publicado na edição número 13 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas, de abril/maio de 2002.
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