A prática dos monocultivos extensivos tem demonstrado ser inadequada para pequenos agricultores familiares. A desvalorização da produção de subsistência (alimentos, fibras, madeiras, etc.), a dependência de energia e insumos externos, os riscos ambientais (pragas, doenças e intempéries climáticas) e de mercado (oscilação de preços), têm sido apontados como as principais consequências negativas da falta de diversificação nas pequenas propriedades.
Com a erva-mate, os monocultivos tiveram início já nos anos 60, devido ao esgotamento de grande parte dos ervais nativos, que eram explorados apenas em forma extrativista, com posterior erradicação das florestas para usos agropecuários.
A domesticação da erva-mate para plantios puros obteve relativo sucesso, principalmente devido à resistência das plantas adultas ao excesso de insolação e geadas. Embora se trate de uma espécie florestal nativa de ambientes sombreados, forma em que sempre foi explorada e cultivada, até hoje são desconhecidas as reais necessidades de radiação para o máximo desempenho produtivo da espécie.
Como o desmatamento generalizado limita atualmente o manejo de ervais em ambientes naturais, a arborização surge como alternativa para minimizar os problemas ambientais, sociais e econômicos, decorrentes das áreas de monocultivos. Esta prática pode imitar com vantagens o ambiente natural pois a competição por água luz e nutrientes pode ser controlada, com espaçamentos adequados e manejo, assim como as espécies arbóreas podem ser selecionadas para usos específicos.
Com relação à rentabilidade do sistema arborizado, há pelo menos dois importantes aspectos a serem considerados. A população arbórea protetora implica também na ocupação produtiva do espaço vertical, que terá em seu momento o devido retorno econômico, proporcional à qualidade das espécies escolhidas para a arborização. Por outro lado, os serviços ambientais resultantes, principalmente sequestro de carbono, amenização do clima e conservação da água, atendem ao apelo da sociedade, que valoriza em forma crescente produtos oriundos deste tipo de sistema.
A Embrapa Florestas, em parceria com a Associação dos Produtores de Erva-mate de Machadinho/RS (Apromate), vêm desenvolvendo pesquisas de monitoramento em ervais com arborização planejada, com objetivo de correlacionar a produção da cultura sob a influência de diferentes espécies arbóreas nativas, submetidas a diferentes regimes de manejo.
Esta experiência foi gerada através de um convênio firmado entre a empresa Machadinho Energética S/A (MAESA), uma construtora da Usina Hidroelétrica de Machadinho, e a Associação dos Produtores de Erva-mate de Machadinho (APROMATE), como uma das maneiras encontradas para compensar o passivo ambiental decorrente da formação do lago, confrontante com aquele município (Rio Pelotas, divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul). O contrato estabeleceu que os agricultores familiares interessados realizariam o plantio e a arborização dos ervais, com mudas de espécies nativas, financiadas pela MAESA.
Neste projeto foram implantados 148 hectares deste sistema agroflorestal, em 85 pequenas propriedades familiares, no período de 2000 a 2007. Este trabalho propiciou também o estabelecimento de uma nova progênie de erva-mate, desenvolvida no âmbito da Apromate, que recebeu o nome de CAMBONA-4, que apresenta produtividade superior à erva comum, além de sabor mais suave.As vinte e uma espécies utilizadas nas arborizações foram adquiridas junto a viveiros regionais, sendo selecionadas pelos próprios agricultores, havendo portanto grande variação na biodiversidade de cada sistema agroflorestal.
Os estudos sobre o comportamento das espécies arbóreas e da erva-mate concentram-se em duas propriedades, onde os sistemas de consórcio apresentam diferentes composições. Estão sendo realizadas medições anuais para acompanhar o desenvolvimento de cada espécie (produção de madeira). Por ocasião das colheitas, são pesadas individualmente as produções de todas as erveiras sob influência das copadas das árvores, anotando-se suas posições relativas aos troncos das árvores, como distâncias e sentido geográfico. Por outro lado, acompanha-se a exportação de nutrientes do sistema, devido à retirada de biomassa verde, e variações sofridas pelo solo, através do tempo.
Através de um novo projeto, também financiado pelo consórcio Machadinho, foram adquiridas duas estações meteorológicas, para avaliar a influência das arborizações sobre o microclima local, comparando com ervais monocultivados., a partir deste verão. Ademais, serão iniciados estudos sobre a ciclagem de nutrientes, propiciada por cada espécie utilizada na arborização, através da coleta contínua do material decíduo.
Embora os resultados experimentais sejam ainda preliminares, somente nove anos de monitoramento, levando-se em conta a longevidade do sistema de produção que é de 30 – 40 anos, até a reforma do erval, estes apontam para uma perspectiva de sucesso, com relação à rentabilidade do sistema, ganhos ambientais e sociais.
Amilton Baggio
Engenheiro Florestal, Mestre e Doutor em Agroflorestas e Pesquisador da Embrapa Florestas
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