A temporada do fogo já chegou. Você está pronto?

Por Caroline Nóbrega, bióloga, mestre e doutora em Ecologia e Evolução, coordenadora das ações da Aliança da Terra

02.06.2022 | 15:27 (UTC -3)
Caroline Nóbrega, bióloga, mestre e doutora em Ecologia e Evolução, coordenadora das ações da Aliança da Terra
Caroline Nóbrega, bióloga, mestre e doutora em Ecologia e Evolução, coordenadora das ações da Aliança da Terra

A primeira anotação do calendário para o mês de junho indica: Semana do Meio Ambiente. O 5 de junho é consagrado mundialmente como a data da celebração, mas muitos usam a semana inteira para tratar do tema. Este ano, convém adicionar aos debates uma preocupação adicional e urgente: o risco cada vez maior dos incêndios florestais.

Trata-se de um problema sazonal, mas este ano, especificamente, merece um alerta excepcional. A temporada de fogo começou bem mais cedo do que o previsto e as perspectivas são de um ano com riscos ainda maiores em diversas regiões do Brasil. Com o período chuvoso terminando com índices pluviométricos abaixo da média histórica, viveremos um momento crítico, o terceiro ano consecutivo de secas prolongadas.

A situação exige atenção redobrada e a adoção urgente de medidas de prevenção e preparação para o enfrentamento do fogo. Na Brigada Aliança, uma das mais qualificadas equipes de prevenção e combate a incêndios florestais do Brasil, por exemplo, até poucos anos, os combates aos incêndios só tinham início no mês de agosto. Entretanto, nos últimos anos, esses incêndios estão começando cada vez mais cedo. No último ano, dos 152 incêndios eliminados pela Brigada Aliança, 20 foram combatidos no mês de julho. Em 2022 esses incêndios começaram ainda mais cedo, no mês de maio foram oito combates, alguns já de médias proporções – cinco no estado de Goiás e três na zona de transição entre Cerrado e Pantanal na região de Pedra Preta (MT).

Esse é só um prenúncio do que nos espera numa temporada que deve ser longa e pode se arrastar até novembro, quando as chuvas devem voltar a ter volume. E não podemos dizer que será uma surpresa. No estado do Mato Grosso do Sul, por exemplo, 33 municípios decretaram estado de emergência em virtude das secas ainda em fevereiro, quando deveriam estar em plena estação chuvosa. Ações como essa normalmente são tomadas apenas no início do período seco, já no segundo semestre, mas a constatação de que os índices pluviométricos eram e continuariam sendo insuficientes levou-os a antecipar a medida. Mais recentemente, novo alerta veio do monitor de secas da Agência Nacional de Águas (ANA), que detectou aumento de secas graves e extremas nas regiões Centro Oeste e Sudeste. Por mais que algumas áreas tenham tido volume grande de chuvas, elas foram mal distribuídas e concentradas em alguns pontos.

Com isso, não foram suficientes para impactar positivamente nos estoques hídricos. Ao contrário, fizeram com que os nutrientes fossem lavados do solo e ajudaram o capim a crescer, aumentando a biomassa que costuma servir de combustível para o fogo. Com três anos seguidos de seca, a paisagem se torna mais inflamável com o acúmulo de árvores mortas e capim seco.

Se quisermos trabalhar menos no combate aos incêndios, precisamos atuar mais na prevenção. Produtores rurais precisam conhecer os fatores de risco nas propriedades rurais e atuar antes que os focos de incêndio efetivamente comecem a ameaçar reservas, produção e infraestrutura das fazendas.

É necessário estar alerta também para os períodos proibitivos do uso do fogo nas propriedades, que se aproxima. Decretos de suspensão da permissão do emprego do fogo variam entre estados, mas alguns deles, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, já se anteciparam. No Mato Grosso, o uso do fogo para limpeza e manejo de áreas ficou estabelecido entre 1º de julho e 30 de outubro. No vizinho do Sul, foi declarado “Estado de Emergência Ambiental” entre os meses de maio e dezembro.

Deve-se dar preferência ao uso de maquinários para ações como a abertura de aceiros e de limpeza de áreas. Mas se for usar o fogo para a realização de aceiros negros e queimas prescritas, agora é o momento. Pode-se fazer, desde que com autorização do órgão público responsável e apoio técnico especializado, para não correr risco de que o uso do fogo não se transforme em um incêndio, sobretudo considerando o cenário já favorável ao alastramento.

Vivemos a iminência de uma nova safra de tristes imagens de grandes áreas queimadas. A Brigada Aliança reforçou suas equipes nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com mais Guerreiros do Fogo e equipamentos, investiu no engajamento da população local, em ações de prevenção e está treinando voluntários e outros parceiros nas regiões onde atua. Infelizmente, grande parte das áreas críticas do país permanece com pouco ou nenhum pessoal qualificado e equipado para enfrentar os incêndios florestais. É preciso ir além, investindo em mais estrutura, pública e privadas, de combate. A Semana do Meio Ambiente deve ser o marco para conscientização de que a situação é crítica, mas que podemos agir. E tem de ser agora.

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