Por Efraim Cekinski, Professor do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT)
29.03.2022 | 14:19 (UTC -3)
O atual consumo brasileiro de fertilizantes é próximo a 45 milhões de toneladas por ano, o que nos torna o quarto maior consumidor, tendo à nossa frente apenas os Estados Unidos, a Índia e a China. A grande diferença entre o Brasil e os demais grandes consumidores é que, aqui, 85% do consumo são importados, e esses outros países produzem a maior parte do que consomem.
Os principais nutrientes necessários para a agricultura são nitrogênio, fósforo e potássio, cujos teores são expressos em N, P2O5 e K2O. A taxa de importação para esses três nutrientes é diferente. O Brasil importa cerca de 75% de nitrogênio, 55% de fósforo e surpreendentes 95% de potássio. Metade do potássio importado vem da Rússia e da Bielarus. Além disso, importamos também da Rússia 15% dos fertilizantes fosfatados e 20% dos fertilizantes nitrogenados.
Na década de 1980, o Brasil era quase autossuficiente em fertilizantes. Desde então, não houve mais estímulos de recursos abundantes e baratos por parte do governo e, em consequência, os investimentos em descobertas de novas jazidas de fosfato e potássio, bem como de construção de novas indústrias de fertilizantes foram diminuindo. Enquanto isso, a produção agrícola aumentava, e essa diferença entre o consumo e a produção fez com que a importação aumentasse cada vez mais, até chegar aos dias de hoje com as taxas acima descritas.
Reservas brasileiras de fósforo e potássio
Atualmente, as reservas oficiais brasileiras de fosfato são da ordem de 5,2 bilhões de toneladas, correspondentes a 460 milhões de toneladas de P2O5 contido, porém a reserva lavrável é de 2,9 bilhões de toneladas, o que compreende 317 milhões de toneladas de P2O5 contido. Isso significa que, com investimentos em indústria, o País pode ser autossuficiente nesse nutriente, pois o consumo anual é de cerca de 10 milhões de toneladas, e já são fabricados cerca de 5 milhões de toneladas por ano.
O Brasil explora potássio atualmente em Sergipe, em uma mina relativamente pequena; possui 2,3 milhões de toneladas de K2O, se comparada com as grandes reservas do Canadá e da Rússia, por exemplo. Existe uma jazida conhecida no Estado do Amazonas, a uns 100 km de Manaus (Reserva de Autazes) que contém 800 milhões de toneladas de potássio. O problema é que a exploração dessa reserva traz muitos problemas ambientais. Desde a década de 1980, a Petrobras tenta explorar essa reserva, mas sempre esbarrou nesses problemas.
Outra reserva importante de potássio slocaliza-se em Minas Gerais, porém, diferentemente do potássio de Sergipe e do Amazonas, que é solúvel e apresenta cerca de 60% de K2O (essa é a forma de mostrar o teor de potássio), as reservas minerais são de potássio insolúvel proveniente de rochas silicáticas, com um teor de cerca de 10% de K2O. Portanto, além desse menor teor inicial, ainda é necessária uma etapa industrial, para transformar esse potássio insolúvel em solúvel.
Nitrogênio
No Brasil, o setor de fertilizantes nitrogenados utiliza o gás natural como matéria-prima. Com o gás natural, produz-se amônia e/ou ureia. Existem atualmente quatro fábricas no País. O preço desse fertilizante está fortemente associado ao preço do gás natural, portanto a evolução da indústria do gás natural ao longo do tempo influenciará a produção de fertilizantes nitrogenados no Brasil.
Outra fonte de nitrogênio, utilizada principalmente na soja, é o nitrogênio do ar, por meio da sua fixação biológica. Isso é feito com a inoculação de micro-organismos na planta. Infelizmente, no estágio atual de desenvolvimento, essa técnica não pode ser utilizada em todas as culturas.
Perspectivas para o futuro
Pode-se dividir essas perspectivas em etapas clássicas e de inovação tecnológica. As etapas clássicas para diminuir a dependência dos fertilizantes referem-se à prospecção de novas reservas de fósforo e potássio e à exploração das reservas conhecidas e ainda não exploradas.
A inovação nesse setor passa por utilizar a biotecnologia e a nanotecnologia, para desenvolver novos produtos, e por processos que podem melhorar a absorção dos nutrientes pelas plantas ou fixar o nitrogênio do ar, pela utilização de fertilizantes orgânicos e organominerais, reciclagem de resíduos das indústrias produtoras de fosfato e pelo desenvolvimento de processos para melhor aproveitamento dos fertilizantes potássicos com origem em rochas silicáticas, entre outros.
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