Manejo integrado de pragas em cana-de-açúcar

Na luta contra broca-da-cana, cigarrinhas da raiz e Sphenophorus levis, principais pragas em cana-de-açúcar, o melhor caminho reside na adoção do manejo integrado, com o uso de técnicas culturais, varietais, biológicas e químicas. Dentre as estratégias de controle biológico o emprego de fungos entomatogênicos tem papel relevante no combate a esses insetos

23.03.2022 | 14:57 (UTC -3)

Na luta contra broca-da-cana, cigarrinhas da raiz e Sphenophorus levis, principais pragas em cana-de-açúcar, o melhor caminho reside na adoção do manejo integrado, com o uso de técnicas culturais, varietais, biológicas e químicas. Dentre as estratégias de controle biológico o emprego de fungos entomatogênicos tem papel relevante no combate a esses insetos.

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) tem como principal objetivo o uso de várias técnicas culturais, varietais, biológicas e químicas para o controle de pragas nas culturas de interesse econômico, tendo como princípio a utilização daquelas mais sustentáveis, como variedades resistentes, técnicas culturais, monitoramento das pragas, agentes de controle biológico e por fim os inseticidas químicos (de preferências os menos tóxicos), que devem ser aplicados quando o nível de controle da praga atinge um patamar perigoso para a cultura. Porém, essa metodologia de manejo nem sempre é levada em consideração por desconhecimento dos níveis de controle e de danos econômicos da maioria das culturas. Quando isso ocorre a tendência é de que se aplique inseticidas químicos de maneira indiscriminada.

Os fungos entomopatogênicos são importantes agentes de controle biológico para o manejo integrado de pragas na cana-de-açúcar, pois essa cultura é conhecida como a que mais tem suportado o uso de controle biológico de pragas com sucesso, principalmente no Brasil.

O estado de São Paulo produz metade da cana do Brasil (o restante se situa em torno de 30% no Nordeste, e 20% no Centro Oeste e Paraná). Pelo menos 5% do custo de produção de açúcar e álcool é afetado por pragas, entre as quais se destacam a broca-da-cana, cigarrinhas da raiz e Sphenophorus levis.

A broca-da-cana Diatraea saccharalis é considerada a principal praga desta cultura, ocorrendo em todas as áreas onde se planta cana-de-açúcar no mundo. As lagartas causam prejuízos diretos ao colmo, abrindo galerias que provocam perda de peso da cana e também morte das gemas, que levam a falhas de germinação. Os prejuízos indiretos são ocasionados pela infecção de fungos que penetram na galeria e causam a podridão vermelha, como Colletotrichum falcatum e Fusarium moniliforme, que invertem a sacarose, diminuindo a pureza do caldo e dando menor rendimento em açúcar e álcool. De acordo com resultados de pesquisas sobre o prejuízo causado pela broca, apenas 1 % de infestação da praga é capaz de gerar prejuízos de 0,25% de açúcar, 0,20% de álcool e 0,77% de peso.

O principal método de controle é o biológico, através da vespinha Cotesia flavipes, introduzida no Brasil desde 1974. Nos últimos anos, esse parasitoide reduziu perdas de até 100 milhões de dólares por ano, sendo 20 milhões em São Paulo, reduzindo a infestação da praga de 10% para 2%. O parasitoide de ovos Trichogramma galloi também tem sido usado no controle da broca, podendo chegar a 60% de controle quando associado à C. flavipes.

Nas áreas de expansão da lavoura de cana, o fungo Beauveria bassiana pode ser utilizado para o controle de lagartas da broca-da-cana no primeiro instar, devendo ser pulverizado na dosagem de 6x1012 conídios//hectare pelo menos.

Cigarrinhas-da-raiz

As cigarrinhas-da-raíz, Mahanarva fimbriolata, M. spectabilis, Mahanarva sp. são consideradas pragas mais importantes da cana-de-açúcar. As ninfas, ao se alimentarem, ocasionam a "desordem fisiológica" em decorrência de suas picadas que, ao atingirem os vasos lenhosos da raiz, o deterioram, impedindo ou dificultando o fluxo de água e de nutrientes. A morte de raízes ocasiona desequilíbrios na fisiologia da planta, caracterizado pela desidratação do floema e do xilema que darão ao colmo características ocas, afinamento e posterior aparecimento de rugas na superfície externa. Os adultos ao injetarem toxinas produzem pequenas manchas amarelas nas folhas que com o passar do tempo tornam-se avermelhadas e, finalmente, opacas, reduzindo sensivelmente a capacidade de fotossíntese das folhas e o conteúdo de sacarose do colmo. As perfurações dos tecidos pelos estiletes infectados provocam contaminações por micro-organismos no líquido nutritivo, causando deterioração de tecidos nos pontos de crescimento do colmo e, gradualmente, dos entrenós inferiores até as raízes subterrâneas. As deteriorações aquosas apresentam cores escuras começando pela ponta da cana e podem causar a morte do colmo.

As ninfas são especificamente radicícolas e se desenvolvem sobre as raízes superficiais ou raízes adventícias inferiores das gramíneas hospedeiras. Sugam a seiva segundo a sua idade, envolvendo-se em uma espuma branca, espessa e que serve como proteção a inimigos naturais. Os adultos são de hábitos crepusculares-noturnos, ficando escondidos dentro das olhaduras ou no enviés das folhas durante o dia. O dano mais importante que as cigarrinhas causam é a “queima da cana”, sendo consequência direta ao ataque das folhas, devido à injeção de substâncias tóxicas da saliva da cigarrinha, além de diminuir o teor de sacarose. Causam também a redução no tamanho e grossura dos entrenós da cana grande e a morte de rebentos jovens.

O controle biológico com o fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae é um dos principais componentes do manejo integrado de cigarrinhas. Não é poluente, não provoca desequilíbrios biológicos, é duradouro e aproveita o potencial biótico do agroecossistema. Não é tóxico para o homem e animais e pode ser aplicado com as máquinas convencionais, com pequenas adaptações.

No período de 2015/2016 a área aplicada com o fungo foi de aproximadamente 350 mil hectares, sendo que mais uma biofábrica começou a produção. O custo da aplicação e o valor do bioinseticida comercializado não variaram em relação ao período anterior.

Sphenophorus levis

O besouro da família Curculionidae é outra praga que tem causado grandes prejuízos para a cultura canavieira, principalmente na região de Piracicaba e Jaú, São Paulo, destruindo as soqueiras e levando-as a morte. As larvas perfuram o rizoma da cana ao longo de seu ciclo biológico, causando diminuição na produção da cana.

A aplicação do inseticida fipronil em área total, com disco de corte na soqueira, é uma estratégia que tem proporcionado algum controle, formando uma barreira química. Porém, ainda é uma técnica que tem sido usada de maneira única, o que pode levar a populações da praga resistente e contaminações ambientais.

O controle químico é o mais utilizado, sendo aplicado em iscas de toletes de cana cortados previamente tratados com inseticidas como carbaril 850 PM, sendo aplicadas 200 iscas/hectare. Atualmente tem se pesquisado o uso de fungo entomopatogênico, Beauveria bassiana selecionado para essa praga em iscas e nematoides entomopatogênicos tais como Steinernema spp.

A falta de conhecimento para uso de fungos entomopatogênicos para o controle biológico de pragas da cana ainda é um fator importante para explicar a baixa aplicação desses agentes de controle biológico, sendo importante a divulgação de técnicas de aplicação desses fungos em área total ou através de iscas ou sistemas avançados, de modo a atingir as pragas da cana, já que os fungos atuam por contato no corpo do inseto.

O uso de agentes de controle biológico depende de produtos disponíveis no mercado em condições de atender a essa demanda. Atualmente são 55 empresas que produzem fungos entomopatogênicos e aproximadamente 20 empresas que produzem parasitoides para a cana.

O estado São Paulo tem dado suporte nessa área de conhecimento, apoiando o desenvolvimento de novas produções ou aumento de quantidade de fungos entomopatogênicos. O Instituto Biológico (SAA-SP/APTA), possui um programa de assessoria técnica para produção de bioinseticidas a base de fungos entomopatogênicos, com fornecimento de cepas selecionadas para essas principais pragas da cana. O Instituto já assessorou 54 dessas empresas. Além disso, desenvolve pesquisas para métodos de produção por fermentação líquida e formulações, imprescindíveis para o desenvolvimento do controle biológico. Porém, é necessário que as empresas e o governo estimulem inovações nessa área, tanto para pesquisa como comercialização e aplicação.

São necessárias pesquisas para o desenvolvimento de novos isolados, formulações, armadilhas, iscas ou outras estratégias adequadas para o controle das principais pragas da cana, mas sem dúvida, os fungos entomopatogênicos já são uma importante ferramenta para o Manejo Integrado de Pragas da cana-de-açúcar.

Artigo publicado na edição 217 da Cultivar Grandes Culturas, mês junho, ano 2017. 

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