As hortaliças apresentam crescente importância no cenário nacional, quer por suas características de alta produtividade, alta rentabilidade e capital investido, bem como sua importância social para o emprego de elevado número de mão-de-obra. A grande exigência do mercado por produtos saudáveis e de melhor qualidade nutricional aumentou a oferta de produtos minimamente processados e a expansão de empresas para produção de fast foods (alimentos rápidos).
O Brasil produz anualmente cerca de 14 milhões de toneladas de hortaliças, no valor de aproximadamente 5 bilhões de reais. Para produzir parte da produção (excluindo-se as hortaliças de propagação vegetativa como batata, batata-doce, alho, mandioquinha-salsa e outras), o país necessita de volume considerável de sementes. Nos últimos três anos, calcula-se o valor médio do mercado de sementes de hortaliças no Brasil na ordem de 40 a 45 milhões de dólares (Tabela 1 -
). Parte das sementes de hortaliças é importada de diferentes países (Figura 1). Os Estados Unidos, Chile, Israel, Holanda e Japão foram os principais países exportadores. No ano de 2000, foram gastos em torno de 35 milhões de dólares com a importação de sementes de várias hortaliças (Tabela 2). As principais espécies importadas, em termos de valor comercial, foram tomate, cebola e melão, considerando os altos preços das sementes híbridas destas espécies. A importação de sementes de hortaliças no Brasil deve-se a diferentes fatores: falta de tradição na produção de sementes e/ou ineficiência de tecnologia de produção de sementes para determinadas espécies; condições climáticas inadequadas para o florescimento e produção de sementes de algumas hortaliças; baixo custo na aquisição de sementes em algumas hortaliças; e, a facilidade de importação, devido à rapidez de informação e aquisição de sementes, em conseqüência da globalização de mercado.
A crescente demanda por produtos de alta qualidade exigiu a utilização de novos cultivares e híbridos de várias hortaliças. As cultivares de polinização aberta de tomate para indústria de processamento, por exemplo, vêm sendo substituídas, nos últimos anos, pelas sementes híbridas. (Figura 2). As sementes híbridas apresentam vantagens aos produtores pela maior produtividade e uniformidade; e aos consumidores por ser produto de melhor qualidade. Com isto, as companhias de sementes têm maior retorno econômico dos investimentos de pesquisa e desenvolvimento, em virtude da comercialização de sementes de alto preço de algumas hortaliças. O desenvolvimento e o emprego de cultivares melhoradas e/ou sementes híbridas de alto custo tem contribuído também para mudanças na produção de hortaliças, considerando que o método de estabelecimento de plantas no campo foi modificado. Existe a tendência no uso de mudas para posterior transplantio de diversas hortaliças, sendo a qualidade fisiológica das sementes extremamente importante, requerendo do produtor de mudas máxima germinação e maior uniformidade e vigor das plântulas produzidas em bandejas. Visando o melhor estabelecimento da cultura, na estufa ou no campo, diferentes tipos de tratamentos de sementes foram desenvolvidos por algumas empresas. Os tratamentos de sementes permitem maior segurança no manuseio, melhor controle de microrganismos, maior e mais rápida germinação, emergência mais uniforme, e melhor distribuição das sementes. O uso de um ou mais tratamentos ao lote de sementes permite à empresa produtora de sementes a obtenção de produtos diferenciados, além de fornecer ao produtor sementes de melhor qualidade. A semente tratada, muitas vezes, tem maior custo de aquisição, porém, os custos são considerados baixos em relação ao custo total da produção, considerando que a utilização de sementes tratadas por produtores pode trazer benefícios no estabelecimento da lavoura com vantagens em maior produtividade e qualidade dos produtos comercializados.
A preocupação com o meio ambiente e com questões ligadas a saúde, aumentou em todo o mundo, inclusive no Brasil, a busca por produtos hortícolas mais saudáveis, produzidos sem a utilização de defensivos agrícolas, os chamados produtos orgânicos. A procura por sementes orgânicas é uma evidência atual, e que poucas empresas de sementes de hortaliças têm oferecido, mas certamente deverá ser uma nova linha das empresas.
O mercado brasileiro de sementes de hortaliças é dividido entre empresas nacionais ou grandes grupos multinacionais (Tabela 3). Nos últimos anos, foram observadas fusões e aquisições de empresas de sementes. Na última década, foram vendidas duas das maiores empresas nacionais de sementes de hortaliças, Agroflora e Agroceres para os grupos Sakata (Japão) e Seminis (EUA), respectivamente. A comercialização das sementes de hortaliças no Brasil é feita por distribuidores ou revendas para atendimento em todo o território nacional. O mercado de sementes de hortaliças no Brasil apresenta as seguintes características peculiares. É um mercado altamente segmentado, com diferentes espécies, encontrando-se cultivares híbridas e cultivares de polinização aberta; cultivares para verão e cultivares para inverno, cultivares adaptadas ao cultivo protegido e cultivares para campo aberto; cultivares destinadas à mesa (como por exemplo, tomate salada, cereja, italiano, “cluster”, e outros) e cultivares destinados à indústria, etc. Considerando o tamanho das áreas de produção, que varia de hortas caseiras a áreas de pivô central, as vendas unitárias são pequenas e as embalagens são adequadas às diferentes hortaliças e às quantidades. Outra característica do mercado, é a alta taxa de utilização de sementes, que diferentemente das grandes culturas, o produtor de hortaliças tem de recorrer às empresas produtoras para aquisição das sementes. O uso de inúmeras cultivares híbridas de hortaliças por produtores, inviabiliza a multiplicação das sementes para o plantio posterior. Além disto, as empresas produtoras de sementes de hortaliças devem estar atentas não só ao vasto programa de melhoramento genético existente, mas também no controle de qualidade nos inúmeros lotes de sementes produzidos anualmente, para atender aos diferentes nichos de mercado.
No passado, a abordagem de “marketing” das empresas para a introdução dos novos produtos foram feitas através de revendedores ou por contatos diretos com os produtores, através de catálogos, folhetos, unidades de demonstração, dias de campo, etc. Nos últimos anos, novas técnicas de promoção têm sido implementadas, não só em nível de produtor, incluindo a assistência técnica, mas também diretamente com o consumidor. O auxílio na comercialização, incluindo a demonstração de novos produtos em supermercados, e outros meios de difusão têm sido intensificados.
Finalmente, mesmo com a utilização de alta tecnologia na produção de algumas espécies de hortaliças, com a obtenção de altas produtividades durante o ano todo, nas mais diversas regiões do país, a tecnologia de produção de sementes de hortaliças ainda necessita de investimentos de pesquisa, seja na tecnologia de produção de sementes ou em estudos relacionados à obtenção de sementes de alta qualidade fisiológica.
Warley Marcos Nascimento,
Embrapa Hortaliças
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