2009: Choveu mais durante este ano?

A distribuição das chuvas durante um ano sempre é única e isso faz com que exista sempre uma insegurança para setores que trabalham contando com uma distribuição próxima da normal ou da esperada.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A agricultura é um dessas atividades e, no caso de cultivos anuais, realiza o plantio em datas recomendadas para que os períodos mais sensíveis da cultura ocorram em momentos de menor deficiência hídrica nas culturas. Essa prática diminui o risco de insucesso, contudo não o elimina. Desta forma o agricultor planta e, após dois meses, estará torcendo para que as chuvas ocorram fora dos extremos. Assim, por consequência, não há prejuízos devidos a esse que é o fator meteorológico que mais causa perdas de produtividade. Nas plantas perenes, a distribuição das chuvas também provoca perdas, principalmente se ocorrerem restrições no período de florescimento. No caso de plantas frutíferas, o período mais crítico é o início de formação do fruto, e no caso das pastagens, no período de instalação e rebrota.

Este ano a maioria das pessoas está com a impressão de que está chovendo mais do que a média histórica. No entanto, isso não é verdadeiro, pelo menos se observamos os dados da estação agroclimática principal da Embrapa Cerrados, localizada em Planaltina (DF), na qual foi acumulado 1005 mm de precipitação nos 11 primeiros meses do ano. Na média histórica, que vem sendo acompanhada desde 1974, esse número foi de 1124 mm. Ou seja, neste ano a precipitação foi 119 mm menor do que na média histórica. A falsa impressão de maior precipitação em 2009 pode ser advinda de que a distribuição das precipitações foi menos concentrada no período das chuvas e o período de seca foi menor e menos intenso.

Todos os meses que normalmente apresentam alta precipitação (janeiro a março e novembro) tiveram redução em relação às médias históricas. Contudo durante esses meses as chuvas foram bem distribuídas e não causaram grandes restrições no local em que a Embrapa Cerrados realiza as medições. Estes são meses de alta precipitação, e os cultivos que em janeiro e fevereiro estavam em florescimento e enchimento de grãos não tiveram restrições hídricas, apenas os cultivos mais atrasados é que sofreram com a redução mais intensa da precipitação em março. No caso de lavouras que foram plantadas em novembro, algumas vezes é preciso haver replantio devido à falta de chuvas. No entanto, isso não foi necessário na estação da Embrapa Cerrados. Pelo contrário, as pequenas restrições de água que aconteceram se tornaram inclusive benéficas posteriormente, pois ocorreu o estímulo ao aprofundamento do sistema radicular.

Contrastando com esta situação, os meses secos de inverno apresentaram maiores precipitações em relação à média histórica. Isso ocorreu tanto no início quanto no final do período, o que reduziu o impacto e a intensidade da falta de chuvas. Esta situação reduziu os custos de irrigação no período e fez com que as pastagens mantivessem uma oferta de alimento durante mais tempo e com melhor qualidade do que em outros anos, principalmente em relação aos dois anteriores, nos quais os invernos foram mais secos do que a média histórica.

Assim, no final de 2009, podemos olhar para trás e perceber que não tivemos um ano mais chuvosos, como muitos agricultores imaginavam. Contamos sim com uma distribuição a chuva benéfica para a agricultura na região. Não passsamos por tantos excessos no período das chuvas e nem deficiências no período da seca.

Artur Muller (

) é pesquisador da Embrapa Cerrados.

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