Spermacoce spp.

21.06.2025 | 16:57 (UTC -3)
<i>Spermacoce </i>spp. - Foto Isabela Ulsenheimer
Spermacoce spp. - Foto Isabela Ulsenheimer

O gênero Spermacoce representa um dos grupos de plantas daninhas mais desafiadores para a agricultura brasileira contemporânea. Pertencente à família Rubiaceae, este gênero engloba espécies que se adaptaram eficientemente aos agroecossistemas tropicais e subtropicais, causando prejuízos significativos à produtividade de cultivos como soja, milho e algodão.

Aspectos taxonômicos e morfológicos

O gênero Spermacoce L. está classificado taxonomicamente no reino Plantae, filo Magnoliophyta, classe Magnoliopsida, ordem Gentianales, família Rubiaceae, subfamília Rubioideae, tribo Spermacoceae.

Este gênero apresenta complexidade taxonômica, com aproximadamente 275 espécies descritas mundialmente, das quais cerca de 60 ocorrem no Brasil, sendo muitas endêmicas do território nacional.

As espécies de maior relevância agrícola incluem Spermacoce latifolia (erva-quente ou vassourinha-de-botão), Spermacoce verticillata e Spermacoce remota. A delimitação específica frequentemente apresenta dificuldades devido à variabilidade morfológica e à existência de complexos de espécies crípticas revelados por estudos moleculares recentes.

Morfologicamente, as plantas do gênero caracterizam-se pelo porte herbáceo, raramente subarbustivo, com caules tetrágonos distintivos da família Rubiaceae. As folhas são opostas, simples, apresentando nervação pinada e estípulas interpeciolares bem desenvolvidas, frequentemente divididas em segmentos filiformes. O sistema radicular é pivotante e bem ramificado, permitindo exploração eficiente do perfil do solo.

As inflorescências do tipo glomérulo ou capítulo, terminais ou axilares, abrigam flores pequenas, hermafroditas, tetrâmeras ou pentâmeras. O cálice persistente, a corola tubulosa com lobos reflexos e o androceu com estames inseridos no tubo da corola completam a caracterização floral.

Os frutos são cápsulas esquizocárpicas que se separam em dois mericarpos monospérmicos na maturação, contendo sementes pequenas com endosperma abundante e embrião reduzido.

Biologia e estratégias reprodutivas

A biologia reprodutiva de Spermacoce spp. revela adaptações sofisticadas que explicam seu sucesso como plantas daninhas.

A reprodução é predominantemente sexuada, com polinização entomófila realizada principalmente por pequenos dípteros e himenópteros. As flores protândricas favorecem a polinização cruzada, embora a autopolinização também seja possível, conferindo flexibilidade reprodutiva.

O ciclo de vida é predominantemente anual, com germinação sincronizada ao início das chuvas e conclusão do ciclo reprodutivo antes do período seco.

Algumas espécies perenes apresentam dormência durante a estação seca, estratégia que amplia sua distribuição geográfica. A germinação epígea e fotoblástica positiva é estimulada pela luz, explicando o estabelecimento preferencial em ambientes perturbados típicos dos sistemas agrícolas.

As estratégias de sobrevivência incluem produção abundante de sementes pequenas, germinação escalonada que distribui o risco temporal, crescimento rápido em condições favoráveis e capacidade de completar o ciclo reprodutivo mesmo sob estresse ambiental. A dispersão barocórica, complementada ocasionalmente por zoocoria e hidrocoria, assegura a colonização de novos habitats.

Condições de desenvolvimento e adaptações ecofisiológicas

As espécies de Spermacoce demonstram plasticidade ecológica, desenvolvendo-se otimamente em temperaturas entre 20°C e 35°C, características de regiões tropicais e subtropicais. A tolerância a déficit hídrico moderado, combinada com desenvolvimento ótimo sob precipitações entre 800mm e 2000mm anuais, permite colonização de ambientes agrícolas diversos.

A plasticidade edáfica é igualmente impressionante, com desenvolvimento desde solos arenosos até argilosos pesados, em pH variando de 5,0 a 7,5. Embora tolerem solos pobres, respondem positivamente à disponibilidade de nitrogênio e fósforo, aproveitando eficientemente a fertilização aplicada às culturas comerciais.

Como plantas heliófilas obrigatórias, exigem alta intensidade luminosa para desenvolvimento pleno, explicando sua predominância em cultivos com espaçamento amplo.

A resposta fotoperiódica varia entre espécies, com muitas sendo plantas de dias curtos para indução floral. O sistema radicular desenvolve-se rapidamente na camada superficial (0-15 cm), otimizando a captura de recursos.

Sob estresse ambiental, essas plantas ativam mecanismos adaptativos incluindo redução da área foliar, aceleração do ciclo reprodutivo, ajuste osmótico para manutenção da turgescência e alterações na orientação foliar para redução do estresse térmico.

Impactos na agricultura e desafios do manejo

O impacto de Spermacoce spp. na agricultura brasileira manifesta-se principalmente através da competição por água, luz e nutrientes com as culturas comerciais. Esta competição é particularmente severa quando o estabelecimento ocorre nos estádios iniciais do ciclo vegetativo das culturas, podendo resultar em reduções significativas de produtividade.

Além da competição direta, algumas espécies funcionam como hospedeiras alternativas de pragas e doenças que afetam cultivos comerciais, criando reservatórios que dificultam o controle fitossanitário. A capacidade de ramificação intensa e formação de touceiras densas intensifica esses problemas.

O manejo integrado representa a abordagem mais eficaz, combinando métodos preventivos, culturais, mecânicos e químicos.

O controle químico com herbicidas pós-emergentes é amplamente utilizado, empregando-se principalmente produtos à base de 2,4-D, dicamba e glifosato em culturas resistentes. Contudo, a eficácia depende da aplicação nos estádios iniciais de desenvolvimento.

Um desafio crescente é o desenvolvimento de populações resistentes a herbicidas, particularmente ao glifosato, relatado em diversas regiões produtoras. Esta resistência torna essencial a rotação de mecanismos de ação e a implementação de práticas específicas de manejo da resistência, incluindo diversificação de cultivos e integração de métodos de controle.

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