Gossypium spp.

08.05.2025 | 08:57 (UTC -3)

O algodoeiro (Gossypium spp.) é uma das culturas mais relevantes no Brasil, desempenhando um papel central na economia agrícola e na indústria têxtil. Em 2024, o país cultivou aproximadamente 1,6 milhão de hectares, produzindo cerca de 2,88 milhões de toneladas de pluma, consolidando-se como um dos líderes mundiais na produção e exportação de algodão.

Concentrado na região do Cerrado, especialmente nos estados de Mato Grosso e Bahia, o cultivo do algodão gera empregos, renda e divisas, mas enfrenta desafios como pragas, doenças e estresses ambientais.

Classificação taxonômica

O algodoeiro pertence ao gênero Gossypium, inserido na família Malvaceae, subfamília Malvoideae. Sua classificação taxonômica completa é:

  • Reino: Plantae
  • Filo: Angiospermae
  • Classe: Eudicotiledôneas
  • Ordem: Malvales
  • Família: Malvaceae
  • Subfamília: Malvoideae
  • Gênero: Gossypium

Essa classificação posiciona o algodoeiro ao lado de culturas como quiabo e hibisco, destacando suas características botânicas compartilhadas, como folhas lobadas e flores vistosas.

A inclusão da subfamília Malvoideae é essencial para uma classificação precisa, refletindo a relação filogenética dentro da família Malvaceae.

Entre as espécies do gênero Gossypium, duas se destacam no Brasil pela relevância comercial.

A Gossypium hirsutum, conhecida como algodão herbáceo, é a mais cultivada, representando cerca de 90% da produção nacional devido à sua alta produtividade e adaptabilidade a diversos climas. Suas fibras, de comprimento médio, são amplamente utilizadas na indústria têxtil para a produção de roupas e outros produtos.

Já a Gossypium barbadense, ou algodão pima, é valorizada por suas fibras longas e finas, ideais para tecidos de alta qualidade, embora sua produtividade seja menor e o cultivo mais restrito.

Outras espécies, como Gossypium arboreum e Gossypium herbaceum, têm importância marginal no Brasil, sendo mais comuns em regiões como Ásia e África, onde são cultivadas em sistemas tradicionais.

Biologia do algodoeiro

O algodoeiro é um arbusto perene, mas cultivado como anual em sistemas agrícolas. Seu ciclo de desenvolvimento abrange cinco estágios principais: germinação e emergência, crescimento vegetativo, florescimento, desenvolvimento de capulhos e maturação.

Durante a germinação, as sementes requerem temperaturas entre 25 e 35°C para emergir, formando um sistema radicular pivotante com uma raiz principal profunda e ramificações laterais que facilitam a absorção de água e nutrientes em solos bem drenados.

A fase vegetativa é marcada pelo desenvolvimento de caules eretos, ramos e folhas lobadas, ricas em clorofila, que sustentam a fotossíntese. Essa etapa é crucial para acumular biomassa suficiente para suportar a reprodução.

O florescimento ocorre quando a planta acumula graus-dia suficientes, uma medida da soma de temperaturas diárias acima de um limiar (geralmente 15°C), que determina o progresso fenológico. As flores, hermafroditas e autopolinizadas, são sensíveis a temperaturas acima de 35°C, que podem reduzir a viabilidade do pólen.

Após a fertilização, o ovário se transforma em um capulho trilocular, onde as fibras unicelulares se desenvolvem em associação com as sementes. Esse processo demanda alta disponibilidade de água, nutrientes e luz. A abscisão de flores ou capulhos, um mecanismo adaptativo para ajustar a carga de frutos à capacidade da planta, pode ser intensificada por sombreamento, ataques de pragas como Helicoverpa armigera ou desequilíbrios nutricionais, como excesso de nitrogênio.

Interações ambientais

O desempenho do algodoeiro é profundamente influenciado por fatores bióticos e abióticos, que exigem manejo cuidadoso para garantir a produtividade.

Entre os fatores bióticos, as doenças fúngicas são uma das principais ameaças no Brasil. A ramulose, causada por Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides, provoca lesões acinzentadas em folhas e caules, morte de meristemas apicais e formação de vassouras-de-bruxa, podendo reduzir a produtividade em até 85% em casos graves. A ferrugem, causada por Puccinia schedonnardii, manifesta-se como manchas amareladas nas folhas, impactando a fotossíntese, especialmente em condições de alta umidade. A fusariose vascular, provocada por Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum, obstrui o sistema condutor, levando à murcha irreversível, particularmente em solos mal drenados.

As pragas também representam desafios significativos. O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) perfura botões florais e capulhos, causando perdas de até 50% na formação de frutos. Lagartas, como Helicoverpa armigera, Spodoptera frugiperda e Alabama argillacea, danificam folhas, flores e capulhos, exigindo monitoramento constante.

O manejo integrado de pragas (MIP), que combina controles biológico, cultural e químico, é amplamente adotado no Brasil, com o uso de armadilhas de feromônios para o bicudo e cultivares transgênicos resistentes a lagartas (Bt).

Relações simbióticas também influenciam o algodoeiro. Associações com fungos micorrízicos arbusculares melhoram a absorção de fósforo, enquanto bactérias fixadoras de nitrogênio, como Rhizobium spp., são benéficas em sistemas orgânicos, reduzindo a dependência de fertilizantes químicos.

Os estresses abióticos, por sua vez, podem limitar severamente a produtividade. Temperaturas abaixo de 10°C causam clorose, necrose e interrupção do crescimento, enquanto temperaturas acima de 40°C afetam a síntese de celulose nas fibras.

O déficit hídrico durante a floração e o desenvolvimento dos capulhos reduz a fertilização e o tamanho dos frutos, enquanto o excesso hídrico em solos argilosos provoca anoxia radicular.

A salinidade do solo, com condutividade elétrica superior a 4 dS/m, inibe o crescimento, e a acidez (pH < 5,0) pode levar à toxicidade por alumínio e manganês, exigindo correção com calcário.

Práticas agronômicas

O cultivo bem-sucedido do algodão no Brasil depende de práticas agronômicas adaptadas às condições locais, com foco na produtividade e na sustentabilidade. A preparação do solo frequentemente utiliza sistemas de plantio direto ou mínima lavra, que preservam a estrutura do solo e aumentam a matéria orgânica. A rotação de culturas com soja ou milho é comum, pois reduz a pressão de pragas e doenças, como a fusariose, e melhora a fertilidade do solo.

A época de plantio varia conforme região, com densidades de 8 a 10 plantas por metro linear. A adubação é um componente crítico, com o nitrogênio sendo aplicado em doses de 100 a 150 kg/ha, fracionadas em três aplicações para evitar crescimento vegetativo excessivo. O potássio, essencial para a qualidade da fibra, é aplicado em doses de 100 a 150 kg/ha de K2O, enquanto o fósforo é ajustado com base em análises de solo.

A irrigação suplementar, embora usada em apenas 8% da área cultivada, é crucial em regiões com déficits hídricos, utilizando sistemas como pivô central ou gotejamento para otimizar o uso da água.

O controle de plantas daninhas é realizado com herbicidas de pré-emergência, que combatem gramíneas e folhas largas, seguidos de aplicações pós-emergência quando necessário. Reguladores de crescimento, como cloreto de mepiquat, são usados para controlar a altura da planta, aumentar a retenção de capulhos e facilitar a colheita mecanizada, predominante em grandes propriedades.

Manejo de doenças e pragas

O manejo de doenças e pragas é uma prioridade no cultivo do algodão, dado o impacto econômico dessas ameaças.

A ramulose, causada por Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides, é controlada com fungicidas como azoxistrobina, piraclostrobina ou trifloxistrobina, aplicados preventivamente em períodos de alta umidade (20-30°C). Práticas culturais, como o uso de sementes sadias e a rotação de culturas, complementam o controle químico, enquanto pesquisas recentes apontam para o uso de biofungicidas à base de Trichoderma spp. como alternativa sustentável.

A fusariose vascular, provocada por Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum, é melhor gerenciada com cultivares resistentes e rotação com culturas não hospedeiras por pelo menos dois anos. Melhorias na drenagem do solo também reduzem a incidência da doença.

Entre as pragas, o bicudo-do-algodoeiro é controlado com armadilhas de feromônios e inseticidas seletivos, enquanto lagartas como Helicoverpa armigera são manejadas com cultivares Bt e inseticidas. O MIP é amplamente adotado, integrando monitoramento, controles biológicos (ex.: liberação de predadores naturais) e práticas culturais, como a destruição de restos culturais para reduzir a população de pragas.

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