AGCO comemora 30 anos de evolução com o agronegócio brasileiro
Por Alfredo Jobke, diretor de Marketing da AGCO América do Sul
O abastecimento e a lubrificação móveis nas propriedades rurais e florestais facilitam a vida dos operadores, além de garantir menor tempo perdido com paradas e deslocamentos.
As áreas cultivadas no Brasil são distintas em relação ao tamanho, à topografia e às características de solo, sendo corriqueiro haver grandes distâncias entre as frentes de trabalho e os postos de serviços das propriedades. Estes últimos, geralmente situados nas sedes, evidenciam que o deslocamento de determinadas máquinas para o abastecimento e a lubrificação resulta em maiores custos ou é inviável tecnicamente.
Geralmente as máquinas que apresentam dificuldade de deslocamento e elevado custo operacional necessitam de atendimento na própria frente de trabalho, minimizando o tempo de máquina parada para maior eficiência operacional.
Com o objetivo de atender estas necessidades no campo existem os veículos comboio, popularmente conhecidos por “melosa”. São unidades montadas sobre chassis ou carrocerias, dotadas de recursos necessários tanto para o abastecimento quanto para a lubrificação.
As atividades de abastecimento e lubrificação podem ser organizadas e ou executadas pelo operador da máquina ou pela equipe do veículo comboio. Estas atividades dependem de fatores como número de máquinas a serem lubrificadas e abastecidas, distância entre as frentes de trabalho e a sede das propriedades, capacidade técnica do operador para as atividades de lubrificação e abastecimento, disponibilidade dos equipamentos para realizar as atividades e riscos de contaminação.
Embora os custos de abastecimento e lubrificação sejam menores quando realizados pelo operador da máquina, esta opção apresenta desvantagens, como maior probabilidade de desperdício, contaminação ambiental, erros de registros de dados e na quantidade abastecida.
No entanto, a utilização de comboios possibilita a execução das operações de abastecimento e lubrificação simultaneamente (aumentando a produtividade), e a diminuição dos riscos de contaminação e desperdícios. Sabe-se, também, que a viabilidade de proporcionar treinamento específico à equipe dos comboios (motorista e lubrificador) é maior do que capacitar todos os operadores.
A evolução dos veículos comboio ocorreu simultaneamente com o aumento da mecanização agrícola no País. A inserção de máquinas com alta tecnologia embarcada evidenciou a necessidade de se reestruturar os processos de manutenção, lubrificação e abastecimento, provando ao empresário rural que processos improvisados não mais atingem os resultados necessários.
O comboio pode ser específico para abastecimento ou apenas para lubrificação, podendo também ter as duas funções combinadas em um mesmo veículo. Este comboio misto pode dispor de reservatórios para combustível (usualmente diesel, mas também de gasolina, álcool, querosene e gasolina de aviação), graxas, lubrificantes, elementos filtrantes, ar comprimido (para a calibragem de pneus, limpeza de peças, radiadores e filtros de ar), água e aditivos para arrefecimento. Normalmente são dimensionados conforme a necessidade de cada caso.
A introdução de motores eletrônicos, que atendem a resolução Proconve P7 e MAR-I, expôs a necessidade de reservatórios também para diesel S-10 (teor de enxofre de 10mg/kg) e Arla-32. Esta substância conjuga água tratada e ureia, sendo um reagente utilizado com a tecnologia SCR – Selective Catalytic Reduction ou Redução Catalítica Seletiva, que reduz quimicamente o volume de NOx emitido pelos motores a diesel. Portanto, se a propriedade possuir veículos que necessitem destes insumos, e são abastecidos pelo comboio, deverão ser previstos estes reservatórios.
A capacidade volumétrica e a quantidade de reservatórios de lubrificantes são dimensionadas em relação ao número de máquinas atendidas (para reposição ou trocas de óleo no período), tendo relação direta com as horas trabalhadas. Já a escolha do tamanho dos tanques de combustíveis deve considerar o volume demandado pelas máquinas no período. Entende-se que o comboio pode ser reabastecido diversas vezes no dia (abastecimento mais prático e rápido do que o de lubrificantes), e posteriormente seguir para outras frentes de serviço. Não se faz necessário um tanque com a capacidade total de abastecimentos diários.
O comboio deve possuir proteção contra as intempéries, podendo ser aberto, semiaberto ou fechado. Muitos fabricantes, por questões de segurança e meio ambiente, já não oferecem em seu portfólio os comboios abertos e semiabertos devido ao maior risco de contaminação e à menor durabilidade. Por isso, os comboios mais requisitados são os blindados e modulares. Este segundo é um facilitador de configurações na hora da compra, podendo acrescentar a quantidade de módulos conforme a necessidade específica.
Essa configuração privilegia a ergonomia, permitindo que os operadores acessem o módulo com os carretéis de mangueiras e medidores ao nível do solo. Os demais módulos contêm os reservatórios de combustíveis, óleos lubrificantes, graxas, óleo usado, ar comprimido e outros (com o intuito de alojar ferramentas, acessórios e filtros usados). O sistema modular também é mais seguro, pois o tanque de combustível tende a ser localizado no centro, protegido de colisões pelos demais módulos.
A retração dos carretéis de mangueiras pode ser manual ou por mola. Como as mangueiras são extensas, para aperfeiçoar o trabalho no campo, o indicado é sempre utilizar carretéis retráteis com mola, para evitar o contato da mangueira com o solo, reduzindo a possibilidade de contaminação.
A disposição dos carretéis no comboio pode ser lateral - comumente utilizados nas áreas de mineração e/ou agroflorestal. Também pode ser traseira - aplicados nos serviços com máquinas em rodovias, permitindo que o posicionamento do comboio diminua a largura do conjunto, facilitando o fluxo dos demais veículos.
Para o abastecimento dos tanques de óleos lubrificantes do comboio são empregadas três formas de propulsão: pneumática, pressurizada e hidráulica.
A propulsão pneumática atua através de uma bomba instalada nos tambores ou reservatórios de lubrificantes, sendo movida por ar comprimido e apresentando vazão de lubrificantes de até 15L/minuto. Este valor é insuficiente para a utilização em propriedades com grande número de máquinas e equipamentos ou para muitos atendimentos diários. É o sistema mais utilizado para a propulsão de graxa, pois a baixa vazão é desejável para facilitar a dosagem nos pinos graxeiros, com o objetivo de evitar desperdícios e contaminações.
A propulsão pressurizada efetua o abastecimento por pressão, como é apresentado, esquematicamente, na Figura 1. Quando o abastecimento é por pressão positiva utiliza-se para o abastecimento das máquinas. Quando o sistema é por pressão negativa (efeito Venturi) é utilizado para a retirada dos óleos usados da máquina ou para o reabastecimento dos reservatórios do comboio. É importante que o ar comprimido injetado nos reservatórios seja filtrado e sem umidade.
Este sistema dispensa bombas e outros componentes, resultando num menor custo de aquisição, sendo de simples manutenção. É o modelo mais requerido pelas indústrias sucroalcooleiras, agroflorestais e nos canteiros de obras, pois atua com uma vazão de até 25L/minuto.
O sistema hidráulico atua com bombas de engrenagens, sendo acionado por motores hidráulicos, proporcionando vazões de 40L/minuto a 90L/minuto. No entanto, é o de maior valor dos três modelos, geralmente utilizado em obras de mineração e grandes obras de infraestrutura.
A seleção do veículo que irá transportar o comboio deve ser realizada após o dimensionamento dos reservatórios. Deve ser estimado para as condições mais adversas encontradas, assegurando operação ininterrupta, levando em consideração dimensões das estradas, tipos de solo, topografia (planas a acidentadas) e períodos de chuvas (demandando tração em todos os eixos), temperatura (se muito baixa ou elevada) e condições das frentes de serviço.
Com estes dados, é possível escolher o tipo de chassi (conforme carga e regime de utilização), potência, quantidade de eixos (conforme Lei 9.503), facilidade de manobra e tipos de pneus.
De acordo com o dimensionamento, o veículo pode ser um caminhão, uma carreta tracionada por trator ou até mesmo uma caminhonete, sendo que esta última também pode transportar em sua carroceria um pequeno comboio. As carretas podem ter seus equipamentos acionados pela tomada de potência de um trator (TDP) ou por motor estacionário. Já as caminhonetes, além da possibilidade de motor estacionário, podem ter seus organismos movidos pela bateria do veículo.
Além disso, é comum e freqüente a utilização de caminhonetes que transportam em suas carrocerias tambores de combustíveis, lubrificantes (em suas embalagens originais), bomba de graxa, vasilhames para água, dentre outros itens e ferramentas, desempenhando as atividades de um comboio.
Uma alternativa encontrada em vários comboios são os sistemas de engate rápido. Tais sistemas funcionam encaixando-se a mangueira diretamente no bocal de abastecimento de combustível ou drenagem de lubrificantes, proporcionando a redução de uso dos dispositivos auxiliares como funis, bandejas, estopas e panos. É importante que nestes equipamentos as conexões utilizadas evitem ao máximo qualquer tipo de vazamento.
Podem ser obtidos ganhos, como menor tempo de atendimento, eliminação de respingos dos lubrificantes, redução das chances de queimaduras dos operadores pelos óleos retirados, aspiração direta dos reservatórios e troca hermética de fluidos.
Na coleta do óleo usado, a mangueira é conectada diretamente no cárter ou nos recipientes de drenagem. É importante que não seja utilizada a mesma mangueira de abastecimento de óleo novo para a retirada de óleo usado, para evitar contaminações.
As bombas convencionais de abastecimento possuem faixa de vazão de 50L/minuto a 150L/minuto. Com o advento dos bocais de engate rápido, foi possível utilizar sistemas de alta vazão, que possuem capacidade de até 500L/minuto. Se considerada uma máquina com reservatório de combustível de 1.000L, a diferença no tempo de abastecimento pode chegar até 18 minutos. Esse ganho de tempo resulta em maior quantidade de abastecimentos que o comboio conseguirá realizar diariamente, menor tempo de máquina parada, contribuindo na eficiência operacional.
Os sistemas medidores podem ser analógicos ou digitais. Apresentam a vantagem de realizar o controle instantâneo do abastecimento, memorizar as quantidades movimentadas diariamente, além de possibilitar a integração com coletores de dados.
Escolher a melhor tecnologia de controle da transferência de fluidos repercute na maior precisão dos registros dos volumes de combustíveis, óleos lubrificantes e graxas abastecidas nas máquinas.
Com a evolução das tecnologias embarcadas nas máquinas, é comum encontrar sistemas cada vez mais sofisticados. Com isso, é possível a direta comunicação entre as máquinas agrícolas com as centrais de controle. Informam instantaneamente os tempos das operações, o ritmo operacional, o consumo de combustível, o período de manutenção, entre outras informações.
Os sistemas de registros automatizados são responsáveis não só por armazenar as informações, mas, também, por emitir relatórios dos abastecimentos. Tais sistemas possuem tecnologias que travam o mecanismo de abastecimento, impedindo que o operador abasteça ou lubrifique a máquina errada.
Todas as máquinas possuem seus dados técnicos (volume dos tanques, consumos, tipos de fluidos, dentre outros), histórico de abastecimento e lubrificação cadastrados no sistema. Isto permite que o comboio identifique as máquinas e o período que estas necessitam ser lubrificadas e abastecidas - limitando a quantidade abastecida -, precavendo assim, desperdícios e roubos, pois os combustíveis são produtos de fácil venda em mercados clandestinos.
Registrar os dados de lubrificação e abastecimento manualmente permite brechas na segurança do processo. Possibilita desvios ou desperdício de combustível, além de baixa confiabilidade, pois os apontamentos podem estar incorretos, ilegíveis ou serem extraviados.
Para a realização de atividades com o veículo comboio é necessário observar as normas que abrangem: o transporte de produtos perigosos, as relativas à não contaminação do meio ambiente, a operação e segurança do trabalho e o armazenamento de líquidos inflamáveis.
Rovian Bertinatto, William Vaz Belinazzo, Mario Fernando de Mello, Sabrina Dalla Corte Bellochio, Catize Brandelero, Valmir Werner, Nema/CCR - UFSM
Artigo publicado na edição 169 da Cultivar Máquinas
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