Como a união do agtech com a indústria de alimentos irá fortalecer os pequenos e médios agroempreendedores brasileiros?
Por Rafael Coelho, CEO da Agronow, empresa de tecnologia de satélites para monitoramento de safras e áreas agrícolas
O feijão comum (Phaseolus vulgaris), com seus diferentes tipos de grãos, no Brasil é cultivado em três épocas distintas de semeadura: feijão de 1ª época ou “feijão das águas” ou cultivo de primavera-verão; feijão de 2ª época ou “feijão da seca” ou cultivo de verão-outono; e o feijão de 3ª época ou “feijão de inverno” ou cultivo de outono-inverno. Os cultivos do feijão de 1ª e 2ª épocas correspondem a mais de 80% da produção nacional. As principais regiões produtoras são a sudeste e centro-oeste, com destaques para os estados do Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Goiás (Figura 1).
A evolução das práticas culturais, aliada ao desenvolvimento de cultivares modernas e de tecnologias desenvolvida pelas instituições de pesquisa e que são adotadas pelos produtores de feijão, permitiu expressivo ganho em produtividade, nas últimas décadas. Por outro lado, um dos fatores que tem afetado a produtividade do feijoeiro e a lucratividade do produtor é o ataque de pragas, cujos gastos com inseticidas em média pode chegar a 5% do custo de produção.
A ocorrência de lagartas do complexo Spodoptera na cultura do feijão tem aumentado e em algumas é preciso estar alerta para que as injúrias causadas não resultem em perdas importantes na produtividade. Nesse gênero, as espécies Spodoptera cosmioides, Spodoptera eridania, Spodoptera latisfacia e Spodotera frugiperda podem atacar as plantas do feijoeiro em diferentes estágios de desenvolvimento vegetativo (Figura 2).
Lagarta-cortadeira do feijoeiro – Spodoptera frugiperda
Embora as plantas de feijão recém-emergidas possam ser atacadas por outras lagartas do gênero Spodoptera, que perfuram ou destroem os cotilédones e ataque às folhas, a espécie mais comumente observada nessa fase de desenvolvimento da cultura tem sido Spodoptera frugiperda, a lagarta do cartucho do milho ou lagarta militar, referida pelos produtores de feijão como lagarta-cortadeira do feijoeiro. Essa espécie constitui-se em uma das espécies mais nocivas para as culturas anuais nas regiões tropicais.
Danos da lagarta-cortadeira do feijoeiro
Na cultura do feijão é conhecida como lagarta-cortadeira, pois as lagartas atacam no estágio inicial de plântula, cortando as plantas novas rentes ao solo (Figuras 3 e 4). As injúrias são parecidas com as causadas pela lagarta-rosca (Agrotis ipsilon). Surtos de Spodoptera frugiperda na cultura do feijão costumam estar associados a períodos mais secos e danos econômicos podem ocorrer, quando os ataques coincidem com a ocorrência de lagartas grandes (últimos instares) e as plantas recém emergidas ou em estágios iniciais de crescimento. O ataque da praga nessa fase de desenvolvimento da cultura reduz o número de plantas por área e pode comprometer a produção e o lucro dos produtores de feijão. Em plantas mais desenvolvidas, as lagartas raspam o caule na altura do solo, elas podem tolerar o dano por mais tempo, porém murcham e podem sofrer tombamento pelo vento.
Descrição da praga
As mariposas de Spodoptera frugiperda medem 35 mm a 38 mm de envergadura, com dimorfismo sexual (asas anteriores marrom-acinzentadas na fêmea e mais escuras no macho). Os ovos beges são colocados em massa. Devido a comportamento de canibalismo, as lagartas de primeiro instar têm comportamento dispersivo. As lagartas têm coloração variada (verde-claras, marrom-escuras ou quase pretas) e medem cerca de 40 mm ao completarem o desenvolvimento. As que atacam plântulas de feijão normalmente são oriundas de outras plantas hospedeiras, milho e sorgo e gramíneas diversas, inclusive pastagens. A lagarta empupa no solo, na profundidade de 2 a 8 cm e se transforma em mariposa em torno de oito a dez dias (Figura 5).
Condições favoráveis à ocorrência da praga
No Brasil, está presente em todos os estados e por ser uma praga polífaga é responsável por prejuízos em várias culturas, entre elas a do feijoeiro. A intensificação dos sistemas de cultivo nas regiões produtoras brasileiras, que permitem a colheita de duas e até mesmo três safras/ano, formando a chamada “ponte verde”, associado ao grande número de plantas hospedeiras são os principais fatores da permanência desse inseto no campo durante todo o ano. A ocorrência de lagartas de Spodoptera frugiperda que atacam as plantas de feijão no estágio de plântula está relacionada à presença delas em plantas hospedeiras, geralmente daninhas ou pastagens, pouco antes da semeadura.
Medidas recomendadas para o manejo de lagarta-cortadeira na cultura do feijoeiro
Para o controle da lagarta cortadeira recomenda-se o Manejo Integrado de Pragas (MIP), cujos princípios básicos que o norteiam devem ser empregados dentro do enfoque de sistema de produção integrados. A variação populacional de Spodoptera frugiperda é determinada por um conjunto complexo de fatores, os quais, na medida do possível, devem ser manipulados para evitar que o seu crescimento populacional atinja níveis que causem danos econômicos. Não se deve, entretanto, empregar métodos de controle isolados, como por exemplo, apenas o uso do controle químico, e sim buscar a integração das práticas disponíveis para a manutenção da sustentabilidade do manejo da praga.
Cultivos de lavouras de feijão conduzidas em condições favoráveis podem tolerar melhor o ataque de Spodoptera frugiperda, e as recomendações disponíveis em relação a espaçamento, cultivares, épocas de plantio, adubação, condições de umidade e preparo do solo, rotação de culturas e associação de cultivos devem ser cuidadosamente observadas na instalação da cultura.
Nesse contexto, pode-se diminuir a infestação de Spodoptera frugiperda pela eliminação das plantas hospedeiras (daninhas, soja, milho entre outras) no mínimo 3 semanas antes da semeadura (Figura 6). Isto diminuirá a oviposição das mariposas nessas áreas, evitando, assim, a presença de lagartas grandes (3º instar) que causam maiores danos na fase inicial de desenvolvimento do feijoeiro.
O controle biológico natural deve sempre ser favorecido por meio de boas práticas agrícolas, a citar o uso de produtos seletivos aos inimigos naturais. A liberação de parasitoides como Trichogramma na cultura é também uma prática a ser priorizada. Recomendam a liberação de cerca de 100 000 indivíduos por hectare quando aparecerem as primeiras posturas ou adultos da praga.
Assim, pode-se incrementar os lucros obtidos com a cultura do feijão não apenas através de aumentos de produtividade, mas também pelas reduções nos custos de produção, na medida em que se pode aumentar a estabilidade ambiental e evitar os problemas de pragas decorrentes da condução inadequada da lavoura.
Como e quando controlar a praga
O nível de controle para pragas de solo que reduzem o estande de plantas do feijoeiro é de 10% de plantas atacadas ou duas plantas cortadas ou com sintomas de murcha em 2 metros de linha. Se o nível de controle for atingido, deve-se fazer pulverizações com inseticidas dirigidas para a base da planta.
Quadro 1. Período de maior probabilidade de ocorrência da lagarta-cortadeira Spodoptera frugiperda e nível de ação para cultivos do feijoeiro.
Período de maior probabilidade de ocorrência | Nível de ação |
Germinação até estágio de 3 a 4 folhas trifolioladas | 2 plantas cortadas ou com sintomas de murcha, em 2 m de linha |
Período de maior probabilidade de ocorrência
Nível de ação
Germinação até estágio de 3 a 4 folhas trifolioladas
2 plantas cortadas ou com sintomas de murcha, em 2 m de linha
Não existem produtos registrados no ministério da agricultura (MAPA) para o controle de Spodoptera frugiperda na cultura do feijoeiro. Quando há surtos são usados os lagarticidas acefato e carbaril registrados para o controle das outas lagartas cortadeiras do feijoeiro: lagarta-rosca (Agrotis ípsilon) e lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis).
O controle químico deve ser visto como uma alternativa ou ferramenta a ser utilizada quando as outras medidas de controle não forem suficientes para um controle efetivo, sendo portanto complementar, e levando-se em consideração as relações entre os benefícios, riscos e custos. A escolha do produto, dose e número de aplicações deve se basear na gravidade e nível populacional da praga, no estádio de desenvolvimento e na economicidade do mesmo. Aplicações corretas significam reduções na quantidade de produto aplicado, nos custos de produção, na poluição ambiental e nos resíduos nos alimentos.
Outro aspecto importante, diz respeito a tecnologia de aplicação dos inseticidas também deve ser considerada no momento da aplicação do controle químico, com atenção para a manutenção e regulagem dos equipamentos, volume de calda, horário de aplicação e velocidade de vento. Assim, recomendam-se o uso de bicos apropriados, volume de calda suficiente para uma boa cobertura da área, realizar as aplicações nos horários mais frescos do dia, e velocidade de vento não superior a 10 km/hora.
O artigo completa está na edição 198 da Cultivar Grandes Culturas.
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