Sistema hidráulico de tratores

Dependendo da atividade que a máquina for desempenhar, o sistema hidráulico é tão importante quanto a potência de motor e o tipo de transmissão

07.04.2020 | 20:59 (UTC -3)

Uma das características que deve ser observada pelos produtores na hora de adquirir um trator é o sistema hidráulico, pois dependendo da atividade que a máquina for desempenhar, esta característica é tão importante quanto a potência de motor e o tipo de transmissão.

Os tratores agrícolas, desde a criação dos primeiros exemplares, são selecionados e/ou comparados no momento da aquisição principalmente ou, apenas, pela potência motora. Percebe-se que esta intenção, na hora de adquirir, não é totalmente acertada. Além disso, a potência deve vir sempre disponibilizada e acompanhada de diversas outras características técnicas que, associadas, propiciam um funcionamento mais adequado, para gerar um melhor custo-benefício ao agricultor.

Sendo assim, os fatores que contribuem para o sucesso da atividade com o trator são a seleção e a utilização correta, onde a escolha adequada é resultante do ajuste durante o planejamento da produção na propriedade, obtendo-se, assim, a máxima eficiência operacional e a capacidade efetiva de trabalho, reduzindo os custos.

Para a pesquisa e a escolha de um trator, a disponibilidade de informações é essencial, já que esta possibilita a comparação entre os modelos. Apesar disso, os dados técnicos disponibilizados referentes às máquinas agrícolas são insuficientes e heterogêneos entre os fabricantes e até mesmo entre modelos de uma mesma empresa, tanto na forma quantitativa quanto qualitativa, em virtude da não obrigatoriedade dos ensaios oficiais no Brasil. Nesse sentido, a apresentação dos dados fica a critério do fabricante, que em algumas vezes só demonstra em seus catálogos técnicos as características vantajosas do trator, ignorando outras que poderiam proporcionar desvantagens a alguns grupos de agricultores. Assim sendo, a escolha de quais características considerar deveria ser a cargo daquele que deseja adquirir a máquina e não de quem a vende.

Além disso, o agricultor já enfrenta dificuldade para escolher um modelo adequado, em função das suas próprias necessidades, das características específicas de sua propriedade e principalmente quando associados à heterogeneidade entre os catálogos e, em alguns casos, pela falta de informações claras e objetivas. Do mesmo modo, a diversidade de máquinas disponibilizadas no mercado nacional torna a seleção ainda mais complexa e de difícil solução.

Por todos os motivos citados acima, normalmente o produtor rural escolhe o trator baseado apenas em questões relacionadas à identificação com a marca e nas características do motor. Porém, outras características possuem igual ou superior importância, como as dimensões da máquina e regulagens destas (bitola por exemplo), tamanho de pneus, massa e lastragem possível, tipo de transmissão, tecnologia embarcada, raio de giro, presença ou não de tração dianteira auxiliar (TDA), capacidade do sistema hidráulico, entre outros. Esse último, apesar da crescente utilização de máquinas acopladas à barra de tração, que a partir deste ponto obtém a tração necessária, ainda apresenta uma relevante significância nas atividades agrícolas realizadas, independentemente do tamanho de propriedade. Nas médias e pequenas, tal característica torna-se indispensável, sendo constantemente utilizado em função das condições impostas pelas atividades diariamente realizadas e pela presença de implementos de pequeno porte, que geralmente são montados nos três pontos, como distribuidores centrífugos, pulverizadores montados, grades niveladoras, subsoladores, arados, entre outros.

O sistema hidráulico é responsável por controlar a posição relativa dos implementos montados em relação ao solo, onde tal ação é realizada por um sistema mecânico de ligação entre o implemento e o trator (dois braços inferiores e o terceiro ponto), e a força exigida, para abaixar ou levantar, é através da transmissão desta por meio do fluxo de óleo hidráulico sob pressão. Além disso, estabelece entre o trator e o equipamento um plano de acoplamento. Isso equivale dizer que entre ambas as partes não ocorrem movimentos relativos além daqueles controlados pelas articulações do sistema de acoplamento.

Dessa forma, objetivou-se verificar a capacidade de levante, a potência motora, a vazão e pressão máxima da bomba para destacar as diferenças técnicas entre marcas e modelos de tratores disponibilizados no mercado nacional a fim de instigar o agricultor a realizar uma verificação mais critoriosa no momento da escolha de um modelo.

Nos figuras a seguir estão ilustradas as diferenças nas relações das diferentes características para distintas marcas.

Diferanças nas relações das características para distintas marcas.
Diferanças nas relações das características para distintas marcas.

Para não mencionar as marcas, visto que nosso intuito não é indicar a melhor ou a pior, estas foram indicadas como A, B, C, D, E, F, G e H. No caso de falta das informações disponíveis nos catálogos, ocorre uma descontinuidade da linha referente ao dado faltante, visto que cada ponto na linha representa um modelo da marca. Além disso, estes estão dispostos em ordem crescente de potência, da direita para a esquerda.

Foi verificado que as marcas A e C obtiveram as relações mais equilibradas entre as características abordadas, ou seja, na medida em que elevou a potência motora, também elevou as outras características.

Nas marcas B e E foi observada uma ampla diferença entre a capacidade de levante em relação às outras características, notando que as fabricantes optaram por uma elevada capacidade de levante de seus tratores como característica vantajosa. Nesse caso, são máquinas preferíveis para o agricultor que necessita, principalmente, acoplar implementos montados mais pesados e que não necessitam de elevada potência motora, tais como guinchos, por exemplo.

Observando as marcas F, G e H que, apesar de terem uma relação entre as características mais equilibrada, são tratores com baixa potência e reduzida capacidade de levante. No entanto, são máquinas destinadas principalmente a pequenas propriedades e operações especiais, tais como na fruticultura e horticultura, onde o requerimento é mais leve.

Também foi verificado que as características de vazão máxima da bomba e de capacidade de levante são semelhantes entre modelos de uma mesma faixa de potência motora. Isso pode ser visualizado melhor nos tratores de elevada potência, onde esta apresenta uma variação maior que 100kW (135,96cv), mas as características de vazão máxima da bomba e capacidade de levante são iguais.

A grande heterogeneidade de tratores agrícolas comercializados no Brasil é benéfica para os agricultores, visto as grandes demandas e necessidades existentes que ele visa atender. Porém, se faz necessária uma avaliação mais criteriosa por parte dos agricultores no momento da aquisição, pois a máquina deverá suprir as necessidades nas mais distintas atividades que ele irá desempenhar sem que isso acarrete em uma desnecessária imobilização de recurso.

É importante ressaltar que neste trabalho foram avaliadas somente as características do sistema hidráulico dos modelos, componente que, portanto, não deverá ser o único critério avaliado pelo produtor na hora da compra e, em casos onde se faz dispensável, descartado.

Algumas atividades exigem mais do sistema hidráulico do que outras.
Algumas atividades exigem mais do sistema hidráulico do que outras.

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Para a realização desse trabalho foram analisados catálogos de oito marcas, totalizando 132 tratores. Foram adquiridos dados de potência motora, capacidade de levante, vazão e potência máxima da bomba hidráulica. A potência motora variou de 10,8kW (14,70cv) a 492kW (670cv), a capacidade de levante teve amplitudes de 440kgf a 12.000kgf, a vazão máxima da bomba foi de 17L/m até 148L/m e a pressão máxima da bomba também obteve variação de 120kgf/cm3 a 220kgf/cm3. É importante salientar que os dados são referentes às características padrões (standard) dos tratores.


André Augusto Veit, Tiago Rodrigo Francetto, Airton dos Santos Alonço, Rafael Sobroza Becker, Mateus Potrich Bellé, Laserg/UFSM


Artigo publicado na edição 150 da Cultivar Máquinas. 

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