Uso correto do adjuvante contra ferrugem asiática
Uso correto recomendado pelo fabricante de fungicidas é importante para que o produto seja devidamente absorvido pela folha
A dramática redução da sensibilidade de fungos à aplicação de fungicidas em soja tem preocupado cada vez mais produtores, pesquisadores e a indústria de defensivos, por ameaçar tecnologias importantes e diminuir as ferramentas disponíveis para manejar doenças como a ferrugem asiática. Neste cenário, a associação de fungicidas protetores às pulverizações pode auxiliar na preservação destas moléculas até que novos ativos surjam.
Fungicidas são agentes de origem sintética ou natural que protegem as plantas contra a invasão de patógenos e/ou são utilizados para erradicar infecções já estabelecidas. Substâncias com propriedades fungicidas já eram utilizadas pelas antigas civilizações, embora de forma bastante empírica. Os povos daquela época, através de suas experiências, descobriram a efetividade de certos produtos contra o que denominavam de pestes. Entretanto, o progresso no conhecimento dos fungicidas ocorreu após o século 18, graças aos avanços da química, durante os dois últimos séculos.
Após a evolução da química e com o avanço das tecnologias disponíveis, o quadro de sensibilidade nos fungos fitopatogênicos nos grandes cultivos de soja, milho, trigo, algodão e feijão tem mudado, dificultando a racionalidade e a sustentabilidade do controle de doenças em cultivos para redução do progresso de doença e para que perdas na produtividade não ocorram. Na cultura da soja esta perda da sensibilidade ocorreu após o uso de moléculas em grande escala desde 2002. Primeiramente os triazóis como o flutriafol e o tebuconazol, que perderam ou não foram eficientes em campo desde 2004 para o primeiro e 2005, para o segundo. Ou seja, apresentavam nível de controle menor que 40%. Atualmente, as estrobilurinas (azoxistrobina, piraclostrobina e picoxistrobina), bem como a sua associação com os triazóis, não atingem sequer 40% de controle da ferrugem da soja, em algumas situações, conforme dados ou análise sumarizada do Consórcio antiferrugem na safra 2013-2014). (Figura 1).
Com este quadro preocupante, uma pergunta surge em primeira grandeza: o que está acontecendo no campo? Trabalhos com o monitoramento de isolados de Phakopsora pachyrhizi têm apresentado certa estabilidade da estrobilurinas até 2013 com a concentração efetiva para matar 50% da população de patógeno por volta de 0,05ppm-0,5ppm. Mas, nesta safra esta sensibilidade foi reduzida para 50ppm-500ppm. Principalmente para azoxistrobina (50ppm-250ppm) e piraclostrobina (250ppm). Enquanto picoxistrobina (4,5ppm-45ppm). E para trifloxistrobina (5ppm-25ppm). Para uma carboxamida como benzovindiflupir esta concentração efetiva ficou entre 0,5ppm-1ppm. Embora não se tenha usado amostras de benzovindiflupir isoladas e sim de benzovindiflupir + azoxistrobina (Elatus). De forma geral, o CI50 (concentração inibitória para inibir 50% da germinação), para os fungicidas protetores como o oxicloreto de cobre e o mancozeb, ficou entre 50ppm-100ppm. Uma pergunta deve ser reiterada? O que está acontecendo no campo? Desta indagação se devem retirar alguns aprendizados para o manejo correto de patossistemas, como os que ocorrem em soja, para o manejo das doenças como ferrugem (Phakopsora pachyrhizi), mancha alvo (Corynespora cassiicola), oídio (Erysiphe diffusa), antracnose (Colletotrichum dematium var. truncata) e DFCs (doenças de final de ciclo – Septoria glycines e Cercospora kikuchii). Analisando ou fazendo um retrospecto é possível perceber redução no residual de fungicidas no campo e perda da sua eficácia, principalmente triazóis e estrobilurinas. Postura americana conservadora e do ponto de vista dos autores correta reside na aprovação pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), desde 2004, do uso de estrobilurinas e triazóis associados a protetores como o clorotalonil. Dificultando o aparecimento de mutações ou perda da sensibilidade dos fungicidas triazóis ou estrobilurinas. Mesmo em um país, com inverno rigoroso e baixa sobrevivência do patógeno na entressafra, uma vez que existe apenas um cultivo de soja, diferente do Brasil (uso de uma segunda safra ou safrinha). Também é preciso estar atento para o crescimento da agressividade do oídio no cerrado brasileiro devido ao uso de germoplasma argentino com menor resistência horizontal (RH) e do agente da mancha alvo, que apresenta nenhuma ou reduzida sensibilidade aos benzimidazóis. Se houve erros no passado é preciso aprender com estes erros e projetar um novo futuro, com o uso de fungicidas como as estrobilurinas, os triazóis e as carboxamidas nas diversas associações e combiná-los em campo com fungicidas protetores, para reduzir a pressão direcional na população do patógeno, principalmente da ferrugem da soja. Tudo isso enquanto as medidas de manejo complementares, como o vazio sanitário, impedimento da safrinha de soja, não sejam totalmente implantadas e se tornem plenamente eficazes. Ou ainda surjam genótipos com resistência estável. Sem dúvida os fungicidas protetores vieram para ficar. Estudos realizados pela Bayer, na Alemanha, por meio da equipe do pesquisador Andreas Mehl, mostram que a mutação na posição 129 (Figura 2) no fungo Phakopsora pachyrhizi reduziu ou limitou o acoplamento da enzima mutante com o fungicida trifloxistrobina, mas, por outro lado, reduziu a sua inativação que levou a uma menor sensibilidade do mutante 129L, devido a uma associação mais apurada e forte na estrutura molecular tridimensional para azoxistrobina e piraclostrobina. A estrobilurina picoxistrobina ficou em uma posição intermediária, o que coincide com os estudos in vivo do “baseline” (folhas destacadas em caixa gerbox – Figura 3) realizados na UFU, na safra 2014-2015, para duas populações de Minas Gerais e Mato Grosso. A molécula picoxistrobina apresentou um CI50 entre (5ppm-50ppm), para duas populações de ferrugem avaliadas em câmara de crescimento a 22o Celsius (Mato Grosso – Rondonópolis – Grupo Girassol e Uberlândia – Minas Gerais). Sem dúvida, a realização do baseline (monitoramento de resistência), com folhas destacadas melhorou a confiabilidade dos resultados quando se analisa a germinação dos urediniosporos sobre folhas unifoliadas de soja e não em ágar-água (Figuras 3, 4, 5 e 6).
Outro fato que chama a atenção é que no controle do complexo de doenças, moléculas de grande importância no combate à ferrugem não apresentam controle ou proporcionam baixo desempenho em doenças como a mancha alvo (Corynespora cassiicola) e míldio pulverulento (oídio) (Erysiphe diffusa). As interações regionais ou locais de cultivares e fungicidas devem ser destacadas. Notadamente, o uso de cultivares de crescimento indeterminado, em genótipos de ciclo precoce, em função do seu lançamento no mercado brasileiro anualmente, apresentou uma meia-vida curta, em função da busca crescente de produtividade e do surgimento contínuo de novos genótipos, com baixa resistência horizontal, o que dificulta o manejo químico com fungicidas. A Tabela 1 apresenta uma relação entre espectro de controle e eficácia para o espectro do controle de doenças na cultura da soja.
A posição pessoal do autor é de que em todas as pulverizações com triazóis + estrobilurinas, ou carboxamidas + estrobilurinas e futuramente triazóis + carboxamidas + estrobilurinas devem-se associar um protetor ou fungicida de contato, em todas as pulverizações no dossel de soja. Independentemente do ciclo da cultivar e do hábito de crescimento (determinado ou indeterminado). Notadamente, devem ser utilizadas estratégias complementares de manejo da resistência, como o impedimento do cultivo de soja na safrinha para que o sucesso das medidas preconizadas e o manejo de fungicidas tenham sustentabilidade. Novas moléculas para os próximos dez anos no controle da ferrugem da soja não têm se revelado, o que preocupa muito os especialistas que trabalham com a cultura da soja. Avanços no controle químico das doenças da soja ocorreram como a combinação de um triazol + radical enxofre (triazolintiona), o que reduz as chances de mutação para um único ativo, bem como as carboxamidas (SDHIs – complexo II do citocromo b) - atuação na rota da succino – desidrogenase, diferente das estrobilurinas (quinona-oxidase – complexo III). Mas, a utilização de fungicidas protetores (cúpricos, ditiocarbamatos, nitrilas etc), associados em todas as pulverizações a estes grupos químicos como modo de ação específico, preservará estas moléculas até que novos ativos surjam, o que ajudará em muito no manejo dos patógenos nos grandes cultivos. Também deve-se ressaltar o risco da resistência múltipla entre os grupos das estrobilurinas e carboxamidas.
Fernando Cezar Juliatti, Daniel Inserra Bortolin e Nayara Bauti, Universidade Federal de Uberlândia
Artigo publicado na edição 192 da Cultivar Grandes Culturas.
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