​Prejuízos causados pelo ácaro rajado no morango e manejo desta praga

Responsável por reduzir em até 80% a produção de frutos e até mesmo por abreviar o ciclo de cultivo do morangueiro, quando em altas densidades, o ácaro Tetranychus urticae é uma praga de difícil cont

20.06.2016 | 20:59 (UTC -3)

Para o sucesso do cultivo, o morangueiro exige conhecimento técnico especializado e muita dedicação. Por exemplo, a adubação química equilibrada é essencial para se alcançar altos índices de produtividade, ótima qualidade dos frutos e boa pós-colheita. Além disso, o manejo correto da adubação pode contribuir para a redução da suscetibilidade do morangueiro à sua principal praga, o ácaro-rajado Tetranychus urticae Koch (Acari: Tetranychidae), que tem causado sérios prejuízos em todas as regiões produtoras de morango no Brasil e não é facilmente controlado com a aplicação de acaricidas químicos tradicionais.

O ácaro-rajado, quando não controlado de forma correta, pode reduzir a produção de frutos em até 80%, e quando em altas densidades, tem poder, inclusive, para abreviar o ciclo de cultivo do morangueiro. As plantas atacadas por esta praga (Figura 1 A-C) apresentam folhas com teias e manchas branco-prateadas na sua face inferior e áreas cloróticas e difusas na face superior, que progridem para manchas de coloração avermelhada, bronzeamento, necrose e queda da folha. As injúrias ocasionadas ao morangueiro resultam da alimentação do ácaro, que danifica diretamente as células do mesófilo foliar, reduzindo a taxa fotossintética das plantas, o número, o peso e a qualidade dos frutos. As fêmeas adultas são maiores que os machos, medindo cerca de 0,50mm de comprimento e os machos aproximadamente 0,25mm, porém ambos apresentam quatro pares de pernas, coloração esverdeada, amarelada ou avermelhada e duas manchas dorsais escuras (Figura 1D).

O conhecimento das demandas por nutrientes pela cultura do morangueiro e a resposta às adubações representam o primeiro passo para o entendimento da relação entre a nutrição da planta e a dinâmica populacional do ácaro-rajado. Em geral, plantas com deficiência nutricional são mais suscetíveis e/ou toleram menos o ataque das pragas. Os resultados de extração de nutrientes pelo morangueiro variam, mas geneticamente a extração de macronutrientes dá-se na seguinte ordem: K, N, Ca, Mg, Se e P. Independentemente da cultivar, o nitrogênio e o potássio estão entre os macronutrientes mais exportados pelo morangueiro via frutos, enquanto ferro e zinco são os micronutrientes mais utilizados por esta planta.

A proporção entre nutrientes minerais na planta é outro importante aspecto que deve ser considerado para compreensão dos efeitos da nutrição vegetal na interação ácaro-planta. Enquanto a concentração de um nutriente pode ter impacto sobre a herbivoria, o efeito pode depender também da sua quantidade em relação aos outros minerais. Neste aspecto, as relações molares entre N e K são apontadas como determinantes da suscetibilidade de várias culturas ao ataque de ácaros fitófagos como T. urticae. A Embrapa Hortaliças (CNPH) conduziu um estudo com o objetivo de determinar a influência das relações molares de N e K sobre a população do T. urticae em morangueiro, assim como o efeito dessa interação sobre os componentes de produção, incluindo diversas características do fruto. O experimento foi realizado entre abril e dezembro de 2009, com fertirrigação de morangueiro cultivado em solo sob condições de casa de vegetação, em Brasília, Distrito Federal. Foram testadas três relações molares entre nitrogênio e potássio [3:0,5; 3:2 e 3:3, que corresponderam, respectivamente, a N3K0,5, N3K2 e N3K3] e uma testemunha (apenas água e micronutrientes), com as cultivares Oso Grande e Diamante. As relações molares foram testadas na adubação de cobertura, via gotejamento, considerando-se as doses (em kg/ha): N3K0,5 = 324,35 de N e 176,92 de K; N3K2 = 324,35 de N e 548,77 de K; e N3K3 = 324,35 de N e 807,13 de K. Estas doses, por sua vez, foram divididas em 28 aplicações semanais. Como fontes de nitrogênio foram utilizados o nitrato de cálcio Ca(NO3)2 e a ureia (CH4N2O), sendo as fontes de potássio o sulfato e o nitrato de potássio (K2SO4 e KNO3). A aplicação dos micronutrientes via fertirrigação foi idêntica em todas as parcelas. Nenhum inseticida e acaricida foi aplicado durante o experimento. Para avaliação da produção, 22 colheitas de frutos foram efetuadas e o monitoramento do ácaro-rajado iniciado quando se encontrou pelo menos um ácaro adulto por folíolo em 30% das plantas.

Os principais resultados da pesquisa foram os seguintes: 1) as duas cultivares de morangueiro quando adubadas com a menor relação molar entre nitrogênio e potássio (N3K3; equivalendo a 324,3kg de N/ha e 807kg de K/ha) apresentaram nas suas folhas níveis superiores de K em relação ao N; 2) a infestação do ácaro-rajado foi estatisticamente menor nas plantas fertirrigadas com N3K3 (Figura 2), e nesta mesma relação molar N:K, a cultivar Diamante foi menos atacada que a Oso Grande. Isto indica que o aumento na concentração de K em relação ao N na planta pode afetar negativamente a população da praga e a magnitude de tal efeito depende da cultivar; 3) as plantas adubadas com N3K3 apresentaram produção de melhor qualidade, tendo frutos com o maior teor de sólidos solúveis (6,6º Brix a 6,8 °Brix) e 4) apesar disso, a produção do morangueiro não diferiu entre os tratamentos, provavelmente em razão da alta infestação do ácaro-rajado (superior a 40 formas ativas/folíolo) em todas as parcelas ao longo do experimento.

Vale salientar que os resultados desse trabalho foram gerados em condições de produção comercial, envolvendo solo de boa fertilidade e plantas não deficientes em nutrientes. Assim concluiu-se que, mesmo com nutrição adequada, o morangueiro é suscetível ao ataque e a perdas ocasionadas pelo ácaro-rajado. Muito embora o aumento na proporção de K na adubação química do morangueiro possa afetar negativamente a dinâmica populacional de T. urticae, tal prática aplicada isoladamente não garante o controle desta praga e o alcance da produtividade esperada. Portanto, a adoção do manejo da adubação juntamente com outras táticas de controle (acaricidas seletivos e liberação de ácaros predadores) permanece como uma opção a ser explorada no manejo integrado do ácaro-rajado no morangueiro.

O morangueiro (Box)

O morangueiro pertence à família das Rosáceas e ao gênero Fragaria, é uma planta herbácea, rasteira e perene. No entanto, é tratado pelos técnicos e produtores como uma cultura anual. O fruto do morangueiro destaca-se por suas características de coloração, aroma, sabor, valores nutricionais, principalmente as vitaminas dos complexos B e C, bem como pelos altos teores de potássio, sódio, ferro e fósforo. No Brasil, o seu cultivo é comumente realizado em áreas de 0,5ha a 1ha, predominando o cultivo em propriedades familiares.

A produção brasileira é voltada para o mercado doméstico, predominando o consumo in natura e cerca de 30% destina-se ao processamento industrial. A produtividade média da cultura no Brasil é de 25t/ha. Na produção nacional de morango destacam-se os estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Santa Catarina, Distrito Federal, Goiás e Rio de Janeiro.


Legendas das figuras

Figura 1 - Folhas de morangueiro infestadas com o ácaro-rajado, Tetranychus urticae

A-B – sintomas típicos do ataque inicial da praga; C – planta coberta por teias do ácaro rajado e D – fêmea adulta do ácaro rajado

Figura 2 - Flutuação populacional de Tetranychus urticae nas cultivares de morangueiro Oso Grande e Diamante, submetidas à fertirrigação com diferentes relações de N e K. Transplantio em 28/4/2009. Início da fertirrigação na segunda semana após o transplantio. Brasília-DF, 2009. Avaliações realizadas entre agosto e dezembro de 2009; médias (± EP) seguidas por um asterisco são significativamente diferentes para aquela época de amostragem, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade

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