O papel do operador mantenedor na manutenção avançada de máquinas

Por Gessieli Possebom, Catize Brandelero e Valmir Werner, do Núcleo de Ensaio de Máquinas Agrícolas (Nema) – CCR da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

08.10.2024 | 16:45 (UTC -3)
Foto: divulgação
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A intensificação da mecanização faz surgir a necessidade de manter as máquinas com disponibilidade operacional e maximizar sua vida útil. Este objetivo somente pode ser atingido através de eficiente estratégia de manutenção. Essa é necessária, pois envolve ações para que uma determinada máquina, equipamento ou implemento, aqui tratados como ativo, seja conservado ou restaurado, de forma que possa permanecer em condições específicas e com a possibilidade de otimizar o processo.

Para as propriedades rurais administradas como empresas, atualmente, a manutenção dos ativos passou a ser um dos alicerces para ampliação dos lucros e ganhos; e exerce grande impacto no planejamento.

As empresas, de maneira geral, requerem um processo eficiente de manutenção. Esta operação deve ser exercida com competência, criatividade, flexibilidade, rapidez, cultura de mudança e, com certeza, com trabalho em equipe, pois não existe espaço para a manutenção sem compromisso e de improviso.

Para isso, é primordial que o processo de gestão da manutenção seja eficaz e apresente diretrizes organizadas, de maneira que os ativos atendam o planejamento, obtendo, assim, o retorno do investimento. As diretrizes devem ser elaboradas de forma prática e objetiva, atendendo as necessidades, assim como fazer o uso dos diferentes tipos de manutenção.

Tipos de manutenção

As operações de manutenção, atualmente, possuem diversos modos de implementação e atuação. Estas estão sendo empregadas junto a indústrias, setores de prestação de serviços e em máquinas e implementos utilizados no setor primário.

No setor primário, nem todas as operações previstas em um plano de manutenção industrial são possíveis de implementação. Porém, muitas técnicas são utilizadas e possibilitam ganhos. O setor de manutenção, com frequência, é questionado quanto à retirada dos ativos de suas operações, pois, para muitos, o período investido na manutenção é perda de tempo. No entanto, deve-se analisar que a manutenção, sendo planejada sob seus vários segmentos, não irá gerar perda de tempo produtivo, e sim investimento para melhoria do processo. Nesse contexto, alguns tipos de manutenção, com possibilidade de emprego no meio rural, serão descritos a seguir.

Manutenção preventiva ou periódica

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A manutenção preventiva ou periódica pode ser definida como ações comprometidas em prever ou eliminar a quebra ou queda no rendimento desejado de um ativo. Diversas ferramentas e técnicas são empregadas para identificar possíveis problemas, citando-se, como exemplo, a inspeção periódica. Esta demanda do gestor de manutenção conhecer o equipamento, seu histórico e suas falhas precoces, a fim de que compreenda as técnicas por meio das quais seja possível prever a correção sem prejudicar o andamento do processo.

No planejamento da manutenção preventiva devem ser previstas, no mínimo, ações de lubrificação para que os ativos possam desempenhar suas funções conforme o esperado e projetado. Associado a este, a execução da manutenção deve adotar critérios de qualidade, citando-se como exemplos a eliminação de sujeira e a não contaminação dos lubrificantes. Nesta manutenção devem-se seguir as recomendações de manutenções previstas no manual do ativo, fornecido pelo fabricante.

Manutenção preditiva

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Este tipo de manutenção consiste no monitoramento das condições de operação dos ativos para detectar sinais de desgaste que possam preceder às falhas. Seu caráter vai além de uma ferramenta da manutenção planejada. Isto porque oferece os melhores resultados no acompanhamento do desempenho dos ativos. Possibilita reduzir o número de paradas na produção para a manutenção, resultando em maior tempo operacional efetivo das máquinas e, consequentemente, na potencialização da produção.

A manutenção preditiva pode ser usada para diversas áreas, pois além de mensurar as condições de operação dos equipamentos e máquinas, permite uma avaliação eficaz de todo o grupo funcional. Caso usada adequadamente, pode identificar boa parte dos fatores que limitam a eficiência operacional.

Entretanto, mesmo com todos os dados oriundos das inspeções preventivas e preditivas, no decorrer da vida útil do ativo aumenta a probabilidade de ocorrer uma falha entre duas manutenções, o que implica, então, ação corretiva.

Manutenção corretiva

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As manutenções corretivas são ações para corrigir falhas decorrentes do desgaste ou da deterioração. Prevê o conserto das partes que sofreram falha, quebra ou apresentam desempenho menor que o esperado. Engloba atividades como: reparos, alinhamentos, balanceamentos, substituição de peças, ajustes das folgas em componentes, entre outras. Esse tipo de intervenção implica elevados custos e perda de tempo. Isso pode demandar períodos maiores para a reposição de peças, tornando a máquina inativa, além de diminuir a produtividade e a qualidade do processo e do produto.

Não há como eliminar totalmente a manutenção corretiva. Contudo, cada propriedade rural deve realizar uma análise histórica em seu banco de dados e definir o índice de manutenções corretivas aceitáveis. Assim, quanto menos ações de manutenções corretivas emergenciais houver, menor será o custo envolvido com as paradas.

MCC e MPT

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Os elevados custos envolvidos na manutenção corretiva e a necessidade de um método de manutenção planejada fizeram surgir a manutenção centrada na confiabilidade (MCC). Esta visa e trabalha em conjunto com a disponibilidade e a segurança do equipamento, sem aumento dos custos previstos. É compreendida como uma técnica usada para determinar o que deve ser feito para garantir que os equipamentos operem corretamente. Busca a interação e a otimização entre as manutenções preditiva e preventiva. Tem por função, ainda, avaliar a mantenabilidade dos equipamentos e identificar os pontos críticos para, quem sabe, posteriormente, melhorar o projeto da máquina.

Associada a esse conceito de manutenção, centrado na confiabilidade, foi desenvolvida a manutenção produtiva total (MPT), que também visa a diminuição dos custos de produção. Objetiva responsabilizar e unir supervisores, operadores e técnicos da manutenção, de modo a ampliar e facilitar o fluxo de informações sobre o funcionamento e a manutenção do ativo.

Na Manutenção Produtiva Total os operadores desenvolvem rotinas de inspeção, lubrificação e limpeza, com a meta de aumentar a eficiência do equipamento. Nesse contexto, surge o operador mantenedor, definição atribuída ao operador que é capaz de operar a máquina e mantê-la em operação, executando pequenos serviços de manutenção.

Operador mantenedor

Foto: divulgação
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Para implementar a estratégia de operador mantenedor pela busca incessante por redução de perdas, é primordial a execução de três princípios básicos apresentados por Paccola (2011), como podemos ver a seguir.

Manter o equipamento limpo: inicialmente, deve-se considerar uma limpeza externa, para observar vazamentos, folgas, trincas, fumaça, peças ou componentes amassados. Também é importante investigar as fontes de sujeira para evitar vazamentos de possíveis contaminantes. Manter o posto de operação limpo, pois um ambiente laboral confortável estimula o trabalho e impulsiona a produção.

Conhecer o equipamento: a relação do operador mantenedor com a máquina é importante, visto que ele precisa conhecer profundamente o ativo para que possa extrair os melhores resultados nas operações realizadas. Com o conhecimento de cada uma das características do equipamento, ao ser cuidadosamente inspecionado, é possível distinguir o normal do anormal. Em casos de anormalidade, realiza a manutenção de imediato, otimizando a produção, sem comprometer a vida útil da máquina.

Os planos de inspeção são importantes durante a realização da manutenção, pois garantem que determinados procedimentos sejam executados, conforme a recomendação do fabricante.

A interação do operador com o ativo, em um ciclo constante de identificação de anormalidades e rápida solução, caracteriza uma melhoria gradativa nos ativos. Ainda, o operador é motivado a buscar constantemente por capacitação para que possa realizar a manutenção com qualidade.

Cabe ressaltar que nesse processo de inspeção, a comunicação entre o operador e o setor de manutenção/gestão deve ocorrer de forma eficiente, evitando que as informações sejam perdidas. O controle e o registro são fatores importantes para o sucesso do operador mantenedor, pois permite manter o banco de dados atualizado para a gestão das informações.

Se o sistema para registro das anormalidades ou serviços não for totalmente digital, é importante o uso de etiquetas, fichas ou mesmo um caderno, que devem ser preenchidos pelos operadores, contendo: identificação do operador e do ativo, data, horímetro (quando presente), relatar as anormalidades e o tempo investido na solução.

Executar pequenos reparos: por conhecer a máquina, o operador mantenedor executa pequenos reparos. Muitas vezes, as anormalidades são simples e necessitam de rápida correção. Se realizado pelo operador, agiliza a operação e otimiza a produção. Para que isso seja possível, o operador deve ser treinado e capacitado, dispor de ferramentas adequadas e realizar apenas os reparos e serviços que foram definidos, antecipadamente, em reunião com o responsável. Para a efetivação do operador mantenedor, o processo deve ser estruturado, respeitando o tempo necessário para evolução de cada etapa, sendo elas citadas na Figura 1.

Figura 1 - fonte: Paccola, (2011)
Figura 1 - fonte: Paccola, (2011)

Como implementar um sistema com operador mantenedor

Existem fatores que podem facilitar a implementação da estratégia do operador mantenedor:

  • Implantar sistemas de incentivos aos trabalhadores (normalmente financeiros).
  • Capacitar os operadores de forma adequada até atingir o grau de conhecimento necessário para realizar a manutenção.
  • Monitorar a operação durante a fase inicial do processo, porque compreende uma mudança no comportamento dos operadores e dos gestores.

Superadas as etapas de implementação, o conceito de operador mantenedor registra resultados positivos, pela interação entre a manutenção e a operação do ativo, assim como o fortalecimento da equipe.

Um programa de manutenção com este enfoque só terá sucesso se deixar de ter uma rotina de administração da falha, para ter uma rotina de administração do ciclo de uso das máquinas. Normalmente, o caminho parte da manutenção de quebra em direção à manutenção planejada e passa para a manutenção de melhoria, alcançando o mais amplo conceito de gestão de ativos (Vieira, 2011).

*Por Gessieli Possebom, Catize Brandelero e Valmir Werner, do Núcleo de Ensaio de Máquinas Agrícolas (Nema) – CCR da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

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