Manejo integrado de míldio em meloeiro

Para controlar o problema é preciso atenção ao diagnóstico e adoção de medidas integradas, que garantam sucesso no manejo e previnam prejuízos

21.05.2020 | 20:59 (UTC -3)

Sob condições severas, ambiente favorável e ausência de controle o míldio do meloeiro pode levar a perdas de até 100%. Facilmente confundido com outras doenças, como o oídio, o patógeno exige atenção ao diagnóstico e a adoção de medidas integradas, que garantam sucesso no manejo e previnam prejuízos.

O melão (Cucumis melo L.) é uma das oleráceas mais consumidas e também cultivadas no país, pois além das suas propriedades nutricionais o seu cultivo tem sido muito rentável. Entre os problemas enfrentados pelos produtores as doenças têm sido motivo de preocupação devido afetar diretamente a produtividade e a qualidade dos frutos. A doença conhecida como “míldio" é muito comum e pode se tornar importante, principalmente nas regiões onde predominam temperaturas amenas na faixa de 15ºC a 27oC e umidade relativa alta, acima de 90%. Quando não controlada e em condições favoráveis causa o desfolhamento precoce e prejudica a produtividade do meloeiro, podendo provocar 100% de perdas quando o ataque é severo.

Inicialmente, aparecem manchas pequenas irregulares a arredondadas de cor amarelada na superfície superior das folhas. Na face inferior observa-se a presença de tecido encharcado onde posteriormente formam-se as frutificações do fungo (esporângios e esporangióforos) de cor clara, podendo ser confundida com outra doença chamada Oídio. Com o desenvolvimento dos sintomas, as manchas amareladas tornam-se necróticas de cor marrom formando ângulos com as nervuras. 

Etiologia e epidemiologia

O míldio é causado pelo fungo Pseudoperonospora cubensis (Berk. et Curtis) Rostowzew. O fungo pertencente à classe Oomicetes, família Peronosporaceae e é considerado um parasita obrigatório. Sob observações ao microscópio o patógeno apresenta micélio sem septo (cenocítico) que se forma principalmente na superfície inferior das folhas. O esporangióforo apresenta ramificação dicotômica no terço superior e em suas extremidades são formados esporângios ovóides a elipsoides (Figura 1). 

Figura 1-Ciclo de vida de Pseudoperonospora cubensis, agente causal do míldio do meloeiro.
Figura 1-Ciclo de vida de Pseudoperonospora cubensis, agente causal do míldio do meloeiro.

É improvável que P. cubensis sobreviva de um ano para outro nos restos culturais, no campo. O fungo pode produzir oósporos (esporo sexuado) sobre tecidos velhos, mas raramente são encontrados. Estes oósporos podem manter-se sobre os restos culturais infectados. Plantios fora de época e outras plantas cultivadas da família das cucurbitáceas tais como a melancia, o pepino, a abóbora e também as plantas selvagens/nativas como, por exemplo, o melão de São Caetano, podem garantir a sobrevivência do fungo de um ano para o outro, no campo.

A disseminação do fungo, sob condições favoráveis, ocorre por meio do vento, respingos de chuva ou da irrigação por aspersão. Os esporângios formados em esporangióforos são facilmente levados à grandes distâncias por meio do vento.

Alta umidade relativa, próxima a 100% e temperatura na faixa de 15 oC a 27oC favorecem a formação de água livre e ocorre o processo infeccioso a partir dos estômatos das folhas e consequentemente o desenvolvimento da doença. No Projeto Formoso, localizado no estado do Tocantins o plantio do melão é feito na entressafra, que varia de maio a agosto e apesar do sistema de irrigação adotado não molhar a folha (subirrigação) e da umidade relativa nesta época durante o dia ser próximo a 40% a doença aparece no mês de julho devido a temperatura à noite baixar de 35 oC para 25 oC, havendo assim, um gradiente térmico. Desta forma, ocorre o molhamento foliar que se inicia-se por volta de 21h indo até 8h da manhã do dia seguinte (tempo suficiente para que,nestas condições, o patógeno desenvolva-se nos tecidos das plantas).

Manejo Integrado

Trata-se da utilização de um conjunto de medidas de controle que devem ser adotadas durante todo o processo de produção. Para o cultivo do melão as seguintes medidas são indicadas:

1-Não fazer irrigação por aspersão, porém caso seja necessário, evitar irrigar durante à noite e no início da manhã, para diminuir o período de molhamento foliar;

2-Não cultivar o melão em épocas sujeitas à chuvas;

3-Fazer a incorporação de restos culturais após a colheita dos frutos, pois o patógeno causador do míldio não tem habilidade de sobreviver no solo por muito tempo;

4-Evitar plantar em áreas mal drenadas e úmidas que favoreçam o molhamento foliar;

5-Fazer o cultivo de modo que as áreas de plantios novos não fiquem a jusante de lavouras mais velhas de outras plantas da família Cucurbitaceae;

6-Quando possível, efetuar o plantio de variedades e/ou híbridos resistentes ou tolerantes;

7-Caso seja necessário, fazer calagem com 30 a 40 dias de antecedência do plantio e adubação mineral de acordo com o resultado e interpretação da análise do solo;

8-Evitar excesso de adubação nitrogenada;

 9-Evitar plantar a mesma variedade ou híbrido em grandes áreas e por muito tempo;

10- Utilizar sementes sadias e evitar o cultivo muito adensado, pois nesta situação ocorre sombreamento e não há ventilação entre as folhas favorecendo o molhamento foliar e o desenvolvimento da doença;

11-Fazer rotação de culturas com plantas de outras famílias, como por exemplo, gramíneas ou leguminosas, por 3 a 4 anos;

12-Realizar o “roguing”no plantio, periodicamente, buscando-se eliminar as plantas severamente atacadas;

13- O controle químico deve ser feito preferencialmente de forma preventiva com fungicidas de contato em rotação com sistêmicos, respeitando-se a dose do fabricante, intervalo de segurança e utilizando-se produtos devidamente registrados para a cultura, aplicados alternadamentee também em misturas quando recomendado, para evitar o aparecimento de resistência;

14-Utilizar fungicidas registrados para o melão, à base de Metalaxyl, Clorotalonilou produtos Cúpricos, podendo-se também aplicar outras moléculas pertencentes a vários grupos químicos, como Estrobilurinas, Triazóis, Dicarboxamidas, Benzimidazóis,etc; seguindo-se sempre os devidos cuidados e as recomendações de um engenheiro agrônomo, ou outro profissional qualificado.


Gil Rodrigues dos Santos, Aloisio Freitas C. Júnior, Luiz Gustavo de L. Guimarães, Dalmarcia de Souza e Ildon R. do Nascimento, Universidade Federal do Tocantins


Artigo publicado na edição 79 da Cultivar Hortaliças e Frutas

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