Como evitar perdas com colhedoras
Regular inadequadamente a colheitadeira, colher em condições erradas de velocidade, rotação e umidade da cultura são fatores que influenciam nas perdas da colheita
Surtos populacionais de percevejos castanhos (Scaptocoris castânea) tem se tornado frequentes em cultivos de soja, milho e algodão no Cerrado. De hábito subterrâneo, este inseto suga as raízes das plantas, provoca acentuado atraso no desenvolvimento e, consequentemente, prejudica a produção. Medidas preventivas como utilizar fungos e nematoides entomopatogênicos, sulfato de amônia e de cálcio, aplicar inseticidas no sulco de plantio, melhorar as condições nutricionais da área cultivada e incluir plantas de cobertura com efeito supressivo durante a rotação de culturas estão entre as alternativas recomendadas para manejar a praga e minimizar prejuízos.
Em esquemas de rotação ou sucessão, a seleção de culturas que não sejam hospedeiras comuns às pragas e doenças é uma das estratégias fundamentais para o manejo integrado de pragas (FERREIRA et al., 2012). Nas áreas do Cerrado em que o algodoeiro tem sido cultivado, um grande complexo de pragas incide e causa injúrias às plantas, exigindo atenção constante e eventuais intervenções para se evitar danos econômicos.
Ocorrências de surtos populacionais de percevejos castanhos (Scaptocoris castânea) têm se tornado frequentes em plantações no Cerrado, especialmente no cultivo de soja, milho e algodão. De hábito subterrâneo, o inseto suga as raízes das plantas, causando acentuado atraso no desenvolvimento e, consequentemente, prejudicando a produção. Os estudos efetuados por pesquisadores de diversas instituições brasileiras de pesquisa mostram que o controle químico adotado de modo isolado é insuficiente, uma vez que não trata a causa do problema. O controle químico não apresenta eficiência acima de 50% e a presença do milho no esquema de rotação é fator que favorece a proliferação de percevejos castanhos. Quando o dano é constatado na lavoura, já não há muito o que fazer, pois a planta atacada dificilmente se recupera e a produção fica comprometida.
Em estudos recentes, Nascimento et al. (2014) verificaram a influência do uso de compostos sulfurados sobre a população do percevejo castanho na cultura do algodoeiro. Os autores não encontraram evidências da influência de gesso agrícola ou adubos sulfurados aplicados no solo induzindo a redução populacional de Scaptocoris sp. No entanto, o estudo concluiu que o uso de tais fontes de enxofre (sulfato de cálcio e sulfato de amônio) promove a tolerância das plantas de algodoeiro ao ataque do inseto.
O percevejo castanho vem sendo associado também a plantas invasoras, relacionadas em ordem decrescente de preferência: caruru, apaga-fogo, trapoeraba, picão-preto, dentre outras (SILOTO & RAGA, 1998). Da mesma forma, algumas plantas cultivadas como milheto e milho parecem ser preferenciais aos indivíduos destas espécies de pragas de solo. Por outro lado, observações empíricas de produtores apontam para a crotalária como uma possível espécie supressiva (José Roberto Padezi, comunicação pessoal).
Estratégias como melhorar as condições nutricionais da área cultivada e incluir plantas de cobertura no esquema de rotação que tenham efeito supressivo sobre a população da praga são apontadas como saídas para diminuir a população do inseto e assegurar a rentabilidade do cultivo. Outras medidas que têm mostrado bons resultados para a convivência com a praga incluem o uso de compostos sulfurados e opções de plantas de cobertura.
Ensaio realizado pela Embrapa Algodão em parceria com a Fundação Goiás teve como objetivo avaliar o efeito de plantas de cobertura sobre a incidência de percevejo castanho em algodoeiro cultivado em sistema de plantio direto (SPD). Os tratamentos consistiram na inclusão de 14 diferentes espécies de cobertura em esquema de rotação após o cultivo das culturas de soja, milho e algodão. Por ocasião do cultivo do algodoeiro, ao final da estação chuvosa, quando as plantas estavam com 60 dias após a emergência, os seguintes parâmetros foram mensurados: aspecto visual (por escala de nota), número de plantas atacadas, altura de plantas e área aproveitada pelas plantas. No final do ciclo, a produtividade de algodão em caroço foi quantificada.
Plantas de algodoeiro não atacadas tendem a tomar espaço da área não ocupada por plantas adjacentes cujo crescimento e desenvolvimento tenham sido comprometidos (CAWLEY et al., 1999). Este efeito de compensação espacial foi verificado no presente estudo, uma vez que nenhuma diferença foi observada quanto à área aproveitada entre os tratamentos (Tabela 1). Da mesma forma, nenhuma diferença entre os tratamentos foi verificada quanto ao número de capulhos por planta, altura de plantas, rendimento de fibras e estande.
A avaliação visual efetuada aos 60 DAE denotou pior aspecto nas parcelas do tratamento com algodoeiro cultivado após a cobertura com milheto, com nota significativamente inferior às registradas para todos os outros tratamentos, exceto P. maximum, B. brizantha, milheto + B. ruziziensis e guandu + B. ruziziensis. O milheto se destacou também por apresentar o maior número de plantas atacadas pelo percevejo castanho, com valor superior aos registrados nos tratamentos com algodoeiro após pousio, guandu e gergelim + B. ruziziensis (fileiras alternadas).
A produtividade de algodão em caroço no tratamento com algodoeiro após milheto foi a menor entre todos os tratamentos, com valor significativamente inferior àqueles observados com algodoeiro após guandu e girassol, ambas espécies consorciadas com B. ruziziensis.
Ao serem agrupadas as espécies por famílias, considerando-se as leguminosas, as gramíneas e suas associações, verifica-se que a média de produtividade de algodoeiro cultivado após leguminosas se situou acima do valor obtido para algodoeiro sucedendo as associações, que por sua vez foi mais elevado que a produtividade média de algodoeiro após gramíneas (Figura 1). Portanto, apesar de não haver diferenças estatísticas, notou-se tendência de maior produtividade em algodoeiro cultivado após espécies que suprimiram a população de percevejos castanhos.
Se o controle químico do percevejo castanho nem sempre tem se mostrado efetivo, o inseto se expõe muito pouco ao inseticida, seu hábito de polifagia e de migração a cada ano contribuem para dificultar o controle da população da praga, medidas preventivas devem ser adotadas.
A utilização de entomopatógenos como fungos e nematoides vem se mostrando uma opção para diminuir a população da praga em áreas problemáticas. Nematóides entomopatogênicos dos gêneros Steinernema e Heterorhabidits já são comercializados para o controle de pragas de solo. Outros organismos entomopatogênicos que vêm apresentando efeito letal sobre percevejos castanhos são os fungos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana. Em trabalho realizado por Ávila & Xavier (2007), esses fungos mostraram controle sobre ninfas e adultos, com mortalidade superior a 50%.
Melhorar as condições edafoclimáticas, proporcionando melhores condições nutricionais às plantas cultivadas pode ser outra opção. Trabalho realizado por Nascimento et al. (2014) verificou que a aplicação de sulfato de amônia nas concentrações entre 150 kg/ha e 300 kg/ha, combinada a 1.500 kg/ha de sulfato de cálcio, promoveu diminuição significativa da infestação de percevejo castanho e, consequentemente, aumento de produtividade da cultura.
O controle químico com aplicação de inseticidas no sulco de plantio pode ser uma medida curativa a ser considerada. Inseticidas como clorpirifós, imidacropid, fipronil e tiametoxam proporcionam redução do número de percevejo castanho maior que quando são aplicados na forma convencional.
De maneira geral, outras medidas que podem ser propostas para o sucesso no manejo de percevejo castanho da raiz.
José Ednilson Miranda, Embrapa Algodão; José Bruno Malaquias, ESALQ/USP; Oscar Gonçalves Nascimento Neto, IF Goiano; Lúcia Vivan, Fundação MT
Artigo publicado na edição 204 da Cultivar Grandes Culturas.
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