O ponto de colheita ideal vai além da cor
O uso do grau brix na produção de cafés especiais. Por Enrique Alves, Pesquisador da Embrapa Rondônia
Fatores apontam para um nível de risco alto na incidência da ferrugem asiática nas lavouras brasileiras. Entre as muitas medidas que precisam ser adotadas a escolha correta do equipamento para a aplicação dos produtos fitossanitários é fundamental para o seu controle e depende de vários aspectos.
O controle químico da ferrugem asiática da soja é uma prática cultural bastante frequente nas lavoras brasileiras. Na ausência deste controle, a ferrugem pode causar grandes prejuízos na produtividade. Neste processo, frequentemente é dada maior importância ao produto a ser utilizado no controle, e menor à forma de utilização. As perdas acumuladas no Brasil atingem US$21 bilhões considerando o uso de fungicidas e as perdas diretas pela frustração e safra.
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No Brasil, a doença foi inicialmente descrita em Lavras, Minas Gerais, em 1979 por Deslandes. Posteriormente, ocorreu em São Gotardo, Minas Gerais, em 1986. As epidemias em grande escala começaram na safra 2000/01, onde foi constatada a doença no Estado do Paraná, simultaneamente por Dr. Davi Jaccoud Sousa Filho da UEPG (Campos Gerais – Ponta Grossa) e Dr. José Tadashi Yorinori – EMBRAPA-Soja e então disseminou-se rapidamente para outros Estados do Brasil. Na safra 2002, a doença foi relatada nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, e na safra 2003/04 ocorreu de forma generalizada, em quase todo o País, causando grandes prejuízos. A partir daí iniciou-se uma intensa busca por ingredientes ativos eficazes, chegando-se a vários produtos com bom controle do fungo, principalmente em estudos em condições controladas. Porém, a campo, a dificuldade de controle permaneceu, muito em função da forma como eram aplicados os produtos.
A figura 1 apresenta a queda gradual, ano a ano, na eficácia de fungicidas, seja pelo manejo inadequado ou pela tecnologia de aplicação com falhas na deposição no alvo.
A cobertura proporcionada pela aplicação de fungicida sobre o dossel da soja em geral é pouco uniforme, principalmente na parte inferior, resultando em controle ineficiente, mesmo com produtos sistêmicos. Estes produtos, em geral apresentam translocação limitada em plantas de soja e exigem, igualmente, boa distribuição ao longo do dossel. Assim, para o sucesso da aplicação, é necessário dominar a forma adequada de aplicação, de modo a garantir que o produto alcance o alvo de forma eficiente, minimizando as perdas e reduzindo a contaminação do ambiente. Muitas vezes, parte do produto aplicado se perde, principalmente pela má qualidade da aplicação, seja ela terrestre ou aérea, sendo este um dos maiores problemas da agricultura moderna a ser superado. O tamanho de gotas e a uniformidade da aplicação são dois parâmetros muito importantes para o controle eficaz de pragas e doenças. Desse modo, a tecnologia de aplicação é uma ferramenta muito importante. A indústria química e de máquinas agrícolas e componentes tem lançado no mercado novos produtos com o intuito de melhorar a aplicação, dentre eles novos desenhos de pontas de pulverização, barras auxiliares e adjuvantes.
Problemática semelhante também ocorre com a aplicação aérea, que é uma realidade em boa parte das regiões produtoras de grãos no Brasil. Seu uso tem crescido muito, contudo pouca informação científica existe a respeito de sua eficácia, principalmente em comparação à aplicação terrestre por pulverizadores de barra, o que causa desconfiança por parte de agricultores quanto à sua viabilidade técnica, sobretudo quanto à capacidade de penetração da calda pulverizada no dossel das culturas.
Desta forma, diante da importância do controle eficiente e seguro da ferrugem asiática da soja, este artigo resume resultados encontrados em estudos realizados em Goiás e Minas Gerais objetivando avaliar e relacionar os diversos fatores envolvidos na tecnologia de aplicação de fungicidas na cultura da soja.
Ao se realizar uma análise conjugada dos ensaios, nota-se que em geral as pontas de pulverização tiveram efeito mais pronunciado na deposição de calda no alvo e menor na produtividade. Alguns ensaios não apresentaram diferenciação de produtividade em relação ao uso das diferentes pontas, pois esta está atrelada à ocorrência e agressividade do fungo na área ou ainda é dependente da tolerância ou resistência parcial da cultivar ou ainda da interação da cultivar com o manejo empregado. Deste modo, o manejo e o controle são dependentes da cultivar e do momento ou época de aparecimento da doença. A própria variabilidade experimental também pode dificultar que diferenças de depósitos sejam significativamente sentidas na análise da produtividade. Além disso, na parte inferior do dossel, local crítico para o controle da ferrugem, as diferenças de deposição entre pontas costumam ser menores, com densidade de gotas inferior a 60 gotas/cm.
Atualmente existem no mercado muitos modelos de pontas. Embora se deva analisar a generalização com critério, notou-se que as pontas que apresentam gotas médias parecem ser mais indicadas ao controle da ferrugem asiática da soja, dado aos melhores resultados encontrados de deposição e controle da ferrugem. As gotas médias sofrem menos intensamente o fenômeno da deriva e evaporação, tendo um tempo de vida superior às gotas finas. Por outro, apresentam uma capacidade de cobertura do alvo superior às gotas grossas.
Um item importante a ser considerado na recomendação de pontas mais adequadas é o porte e enfolhamento da cultura. Ao se analisar a deposição no dossel inferior em plantas muito enfolhadas, percebe-se que a pulverização hidráulica convencional, independente da ponta, não é capaz de promover uma elevada cobertura. Desta maneira, as aplicações precisam iniciar quando o índice de área foliar (IAF) ainda não é muito elevado.
Isto é ainda mais importante, se levarmos em conta que a maioria dos fungicidas sistêmicos utilizados em soja possui translocação limitada. O ingrediente ativo precisa ser colocado no alvo sob pena de não controlar a doença.
De forma geral, não se detectou melhoria no controle da ferrugem ou aumento de produtividade com a utilização de maiores volumes de aplicação. Por exemplo, em um estudo realizado mostrou-se que o volume de 160 L/ha permitiu maior uniformidade de deposição de calda ao longo do dossel do que 130 L/ha, porém isso não refletiu na produtividade.
Diante desses resultados e do sabido ganho em capacidade operacional do conjunto mecanizado, verifica-se que há viabilidade no uso de volumes de calda reduzidos, próximos a 130 L/ha. Contudo, essa redução requer incremento da tecnologia de aplicação e o constante acompanhamento das condições meteorológicas, que podem dificultar a cobertura do alvo.
A adição de adjuvantes às caldas de pulverização pode ser importante quando da aplicação de diversos produtos fitossanitários, porém não deve ser prática generalizada, tendo em vista seu comportamento distinto em cada tipo de aplicação. O estudo do efeito de adjuvantes na calda de pulverização é específico para cada produto e formulação empregada. Existe grande diferença entre os diversos adjuvantes comerciais. Mesmo produtos considerados semelhantes, como os óleos vegetais, podem variar bastante quanto à forma de ação. Portanto, a consulta a especialistas independentes é fundamental.
As propriedades físicas da calda podem interagir com o tipo de ponta utilizada, promovendo a formação do jato de maneira singular para cada situação. Isso pode explicar a existência de resultados diferentes entre as pontas, com relação ao uso do adjuvante.
Não há uma clara definição quanto à seleção da ponta de pulverização ideal. Em muitos casos, a variabilidade dos dados intrínseca a este tipo de ensaio comparativo entre diferentes técnicas de aplicação, dificulta a diferenciação dos tratamentos. De forma geral, pontas que produzem gotas médias parecem ser mais adequadas ao controle da ferrugem asiática da soja, evitando também elevados riscos de deriva. Há viabilidade técnica no uso de volumes de calda reduzidos, próximos a 130 L/ha.
A aplicação aérea mostrou-se viável, quanto à deposição de calda, em comparação aos tratamentos terrestres realizados.
A utilização de adjuvantes mostrou-se uma boa ferramenta para auxiliar no controle da ferrugem, contudo seu efeito está relacionado ao tipo de ponta utilizada e à calda, o que impede generalizações.
A uniformidade de distribuição da calda, proporcionada pelas aplicações terrestres e aéreas, avaliada ao longo do dossel da soja, em geral, é baixa. É preciso buscar estratégias que incrementem a deposição, principalmente na parte inferior da cultura.
No programa de avaliação e inspeção de pulverizadores (IPP) realizados nos últimos anos no Brasil, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MG) têm demonstrado uma menor deposição no alvo (40-60%) ou em alguns casos sobre dosagem (30%) em pulverizadores pneumáticos e hidráulicos. Apesar de outros problemas mecânicos que foram detectados como pontas com variação na deposição (3-10%), vazamentos e defeitos no circuito e manômetros (5-15%) a maior preocupação pode ser discutida para a menor deposição no alvo (subdosagem). Pois esta deficiência aumenta o risco de seleção em campo de biótipos ou patótipos na população do patógeno e reduzir a eficácia do fungicida em maior uso ou de maior adoção pelos agricultores. Daí a importância de se usar fungicidas protetores associados aos sistêmicos com uma tecnologia de aplicação também eficiente e de qualidade.
Em estudos comparativos entre aplicação aérea e terrestre, verificou-se que ambos os métodos apresentaram dificuldade de cobertura da parte inferior do dossel, o que sugere que, independente do método de aplicação, devem-se priorizar as aplicações preventivas em que ainda não há um total fechamento da cultura, permitindo melhor cobertura do alvo. Neste sentido, os dois métodos mostraram-se viáveis.
Neste tipo de estudo comparativo é comum o uso de papéis hidrossensíveis, contudo seu emprego deve ser feito com bastante critério quando do uso de volumes de calda diferentes. Como a marcação da gota no papel é causada pela água, altos volumes podem levar a uma falsa impressão de superioridade do tratamento em comparação a baixos volumes, se não for conjuntamente correlacionada com a concentração do ingrediente ativo na calda. A simples contagem do número de impactos por área, sem levar em consideração a área de cobertura, também pode levar a uma falsa ideia de superioridade com altos volumes. Nestes casos, a utilização de traçadores comparados ao uso desse papel, ou mesmo do ingrediente ativo, mostra-se mais confiável, visto que se trabalha com a mesma dose, embora com volumes de calda diferentes. Outro ponto a ser destacado é que o espalhamento das gotas no papel sensível é heterogêneo e dependente de vários fatores, dificultando a acurácia na mensuração do tamanho das gotas.
João Paulo Rodrigues da Cunha, Fernando Cezar Juliatti, Universidade Federal de Uberlândia
Artigo publicado na edição 157 da Cultivar Máquinas.
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