Manejo do mofo branco em feijão
Diversas estratégias de controle devem ser adotadas, pois, uma vez instalada, a erradicação do patógeno é quase impossível
Um dos problemas que preocupam os produtores de soja é o avanço de doenças fúngicas, que até pouco tempo não eram problemas graves como, por exemplo, Sclerotinia sclerotiorum. Responsável por perdas consideráveis de produtividade, o mofo branco tem aumentado sua importância como patologia da soja em regiões de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. O ajuste do espaçamento entre linhas e a densidade de semeadura são práticas que podem auxiliar no manejo.
Em anos de ocorrência de períodos de chuvas acima da média, o mofo branco pode causar severas perdas em produtividade. Em média, as perdas de produtividade são de 10% a 20%. Porém, em condições favoráveis à ocorrência da doença, as perdas de produtividade podem ser maiores, atingindo, em alguns casos, até 70%. O controle químico desta doença é difícil e oneroso, necessitando-se a utilização de medidas de controle conjugadas, para se obter algum resultado prático. Algumas práticas de manejo podem favorecer o controle de mofo branco. Entre elas estão o uso de sementes certificadas, a rotação de culturas, a sucessão de soja com espécies não hospedeiras como milho, o aumento do espaçamento entre linhas e a redução da população de plantas ao mínimo recomendado. O espaçamento entre linhas e a população de plantas, associados a um dossel vegetativo que permita um arranjo de plantas capaz de explorar ao máximo o potencial de cada cultivar e suas particularidades, se constituem em fator primordial para o aumento de produtividade.
Os primeiros sintomas de mofo branco, nas plantas, são manchas de coloração verde-claro e aspecto “encharcado” ou “amanteigado”, que evoluem para coloração castanho-claro, e logo desenvolvem abundante formação de micélio branco e denso. Em poucos dias, o micélio transforma-se em massa negra e rígida. Este é o escleródio, que é a forma de resistência do fungo. Os escleródios variam em tamanho de poucos milímetros a alguns centímetros e são formados tanto na superfície como no interior da haste e dos legumes infectados. Escleródios caídos no solo, sob condições de alta umidade e temperaturas variando de 10ºC-21°C, germinam e desenvolvem, na superfície do solo, estruturas de reprodução sexuada, chamadas apotécios. Estes produzem ascósporos que são liberados ao ar e são responsáveis pela infecção das plantas.
O ajuste do espaçamento entre linhas e a densidade de semeadura são práticas que podem interferir na ocorrência da doença. Essa prática melhora a aeração e a infiltração de radiação solar no dossel da cultura, o que diminui o desenvolvimento e a proliferação do fungo. Tanto a aeração quanto a radiação solar reduzem a germinação dos escleródios e o desenvolvimento dos apotécios. Com base nesses conhecimentos, foi realizado um estudo em São Desidério, Bahia, com o objetivo de se avaliar o efeito do arranjo de plantas (espaçamento e população de plantas) na ocorrência de mofo branco (S. sclerotiorum) na cultura da soja.
O estudo foi realizado em área experimental da Sementes Eliane, em São Desidério, Bahia. A cultivar utilizada foi FTS 4188. Esta cultivar apresenta grupo de maturação 8.8, com ciclo que pode variar de 130 dias a 135 dias. A população de plantas recomendada oscila de 180 mil planta/ha a 200 mil plantas/ha. Cada tratamento constou de faixas de 7,6m de largura por 200m de comprimento. Os tratamentos testados foram combinações entre população de plantas por hectare e espaçamento entre linhas de semeadura, conforme ilustrado na Tabela 1.
O número de linhas de semeadura por parcela variou de acordo com o espaçamento utilizado em cada tratamento. A avaliação foi realizada quando a cultura encontrava-se no estádio fenológico R5.5. Para a avaliação da incidência de S. sclerotiorum, em cada parcela foram realizadas amostragens em quatro pontos. Cada ponto de avaliação consistiu em dois metros de linha do cultivo, em que cada planta foi avaliada individualmente para, dessa forma, obter a porcentagem de plantas infestadas por S. sclerotiorum.
Os resultados obtidos indicam que, para essa situação, a porcentagem de plantas infestadas apresentou relação inversa com o espaçamento entre linhas e direta com a população de plantas (Figura 2). Ou seja, quanto maior o espaçamento entre linhas, menor foi a incidência de S. sclerotiorum. De outra forma, quando se aumentou a população de plantas, a porcentagem de plantas atacadas por mofo branco também aumentou. Portanto, nos tratamentos em que se associou maior espaçamento entre linhas com menor população, a porcentagem de plantas atacadas foi menor. Esses dados concordam com as recomendações de pesquisadores e instituições, que afirmam que com o aumento do espaçamento entre linhas e a redução da população ao mínimo recomendado, promove-se maior ventilação e maior penetração dos raios solares no dossel da cultura, que diminuem a incidência de mofo branco. Com frequência, o produtor tem perdas de produtividade com a alteração desses parâmetros (aumento do espaçamento e redução da densidade). Entretanto, a soja é uma cultura plástica, com capacidade de manter a produtividade em maiores espaçamentos e com menor densidade populacional.
Os resultados obtidos demonstram a menor porcentagem de plantas atacadas por S. sclerotiorum nos tratamentos em que se utilizou o maior espaçamento, ou seja, 0,76m, para todas as populações testadas (Figura 2). Dessa forma, fica claro que o arranjo de plantas pode ser um recurso utilizado dentro do sistema de manejo de S. sclerotiorum na cultura da soja, principalmente em lavouras com alta incidência deste patógeno.
Além da soja, o fungo infecta uma vasta gama de plantas cultivadas e daninhas, com exceção das gramíneas. Portanto, S. sclerotiorum é um fungo polífago, sendo hospedeiras plantas de mais de 75 famílias, 278 gêneros e 408 espécies. Recomenda-se fazer rotação de culturas com espécies não hospedeiras como milho, aveia, Brachiaria e demais gramíneas para se diminuir a incidência de S. sclerotiorum nas lavouras.
A utilização de sementes de qualidade é uma forma de prevenir a entrada do patógeno nas lavouras. A transmissão por semente pode ocorrer tanto através de micélio dormente (interno) quanto por escleródios misturados às mesmas.
A pulverização de fungicidas à base de tiofanato metílico e carbendazim pode reduzir a incidência da doença. Aplicações preventivas, a partir do período de pré-florescimento da soja, previnem a colonização do fungo nos tecidos vegetais.
O arranjo de plantas adequado para cada cultivar também pode beneficiar a cultura em função da melhor infiltração dos fungicidas no dossel.
O controle biológico de S. sclerotiorum a partir de pulverização de suspensão de esporos do fungoTrichoderma spp. proporciona a redução da germinação de escleródios.
Da mesma forma, o plantio de culturas que mantenham a superfície do solo coberta, como Brachiaria spp., impõe uma barreira física à germinação dos escleródios, diminuindo a incidência da doença.
Outras medidas preventivas, como evitar o tráfego de máquinas entre áreas infestadas e não infestadas pelo fungo, realizar a limpeza de máquinas e equipamentos, evitar o revolvimento do solo para que escleródios que estavam enterrados sejam expostos e germinem, entre outras, previnem e diminuem a infestação das lavouras.
Jerson V. C. Guedes (UFSM); GiliardiDalazen (UFRGS); Rodrigo B. Rodrigues (DuPont); Jonas A. Arnemann (UFSM); Ivair Valmorbida (UFSM)
Artigo publicado na edição 190 da Cultivar Grandes Culturas.
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