Prevenção e manejo de nematoide em soja
Medidas integradas, como o manejo adequado do solo e ações preventivas para evitar o problema são formas de controle essenciais
Principal praga em algodoeiro, o bicudo assusta técnicos e produtores pelos enormes prejuízos e ônus causados aos custos de produção. O manejo regional, de modo integrado, com racionalidade e gestão na aplicação de inseticidas é essencial para que seja possível conviver com o inseto sem inviabilizar a cultura.
Desde sua primeira identificação no Brasil, o bicudo é considerado a principal praga do algodoeiro. No início, o inseto rapidamente infestava as lavouras que, na sua grande maioria eram caracterizadas por serem relativamente pequenas e de nível tecnológico extremamente baixo quando comparadas com as lavouras atuais, devido à ausência de monitores de pragas, equipamentos de pulverização modernos etc.
Com a migração da cotonicultura para as regiões de Cerrado, provavelmente pelas grandes áreas cultivadas e aliado à rotação de culturas, acreditava-se que a praga não dominaria lavouras, limitando-se a bordaduras ou pequenos percentuais das áreas plantadas.
Nas últimas safras, a capacidade demostrada pela praga em dominar lavouras, gerar enormes prejuízos e elevar de maneira assustadora os custos de produção tem preocupado muitos produtores e técnicos envolvidos na cadeia produtiva.
As novas tecnologias introduzidas na cotonicultura correm sério risco de se tornarem inviáveis sob o ponto de vista econômico, já que o benefício da segurança no controle de lepidópteros poderá dar lugar a enormes prejuízos provocados pelo bicudo.
Embora as aplicações para o controle do bicudo sejam consideradas mais baratas que as para combate de lagartas, por exemplo, a frequência eleva significativamente o número de aplicações.
Na região oeste da Bahia, o número médio de aplicações específicas – ou combinadas para um complexo de pragas, também com objetivo de controle do bicudo – soma aproximadamente 26 nas lavouras de sequeiro e 40 nas lavouras irrigadas. Neste modelo de manejo e controle, as lavouras irrigadas e em áreas de risco já se tornam inviáveis.
Outros fatores também influenciarão na decisão do produtor em plantar ou não o algodão e isso também é regional, dependendo do sistema produtivo adotado.
Em Mato Grosso, devido ao clima, a maior área plantada é safrinha, enquanto na Bahia é safra, ou seja, na Bahia as áreas de algodão disputam espaço com as culturas de soja e milho, enquanto em Mato Grosso as lavouras de algodão são plantadas após a soja, disputando espaço apenas com o milho como opção de safrinha. Mas a substituição dos custos para o controle de lagartas pelos royalties pagos e que se somam aos custos crescentes para o controle do bicudo poderá inviabilizar economicamente o algodão.
Os ovos de bicudo são lisos e brancos, com 0,08mm de comprimento. As larvas apresentam coloração branca, cabeça cor parda-clara, sem patas e encurvadas (Figura 1).
As pupas são brancas, com comprimento de 10mm. Nelas, se podem observar os vestígios dos diferentes membros do corpo dos futuros adultos (Figura 2).
Adulto
Os adultos apresentam cor geral cinzenta ou castanha, com 7mm de comprimento (incluindo o bico), e cerca de 2,3mm de largura. O corpo é coberto com pequenos e finos pelos dourados, conferindo ao inseto uma aparência penugenta (Figura 3). Os adultos recém-emergidos possuem cor marrom-avermelhada. O fêmur das patas dianteiras apresenta duas aristas (espinhos), uma maior que a outra (Figura 4). Os fêmures das patas medianas e posteriores só apresentam uma arista. Os olhos e o bico são escuros e as antenas apresentam 12 segmentos.
O adulto é um inseto de reprodução sexuada. As fêmeas colocam em média 150 ovos. Os ovos são depositados no interior dos botões florais com aproximadamente 7mm de diâmetro. As brácteas dos botões florais atacados tornam-se amareladas e se abrem em três a quatro dias após o ataque (Figura 5). Os botões caem ao solo, contendo larvas em desenvolvimento que empupam e se transformam em novos adultos.
O ciclo de vida de ovo a adulto se completa em aproximadamente 19 dias. Podem ocorrer de seis a oito gerações durante a safra.
No início da década de 1830, no México, o bicudo do algodoeiro foi coletado pela primeira vez. Em 1855, também no México, ocorreu o primeiro registro de A. grandis como praga do algodão cultivado (Gossypium hirsutum). Em 1892 já era encontrada como praga em lavouras nos Estados Unidos (Manessi, 1997).
No Brasil, em 1983 ocorreu o primeiro registro do inseto, no município de Jaguariúna, São Paulo, região de Campinas. A partir daí, o inseto se disseminou para praticamente todas as lavouras da região e de maneira muito rápida para as outras áreas produtoras do Brasil, principalmente do Sudeste e do Nordeste.
Em 1985 o bicudo já infestava lavouras de algodão dos estados de São Paulo, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte (Barbosa et al, 1986). No mapa, as cores associam os anos do primeiro registro da ocorrência do bicudo nas regiões produtoras.
O problema vivido atualmente é resultado de anos acumulados, de situações mal resolvidas, medidas ineficientes ou parciais de supressão ou de controle. Dentre os mais variados problemas, alguns são particularidades de algumas regiões, como condições climáticas e tamanho das propriedades ou lavouras e outros são generalizados.
Durante muitas safras, todas as técnicas de manejo sugeridas para o controle ou convivência com a praga consideraram um comportamento padrão, onde o bicudo do algodoeiro, em condições normais de ambiente, ocorre de maneira padronizada, procurando abrigo no final da safra anterior com a queda da temperatura e “encurtamento” dos dias. Neste comportamento, seus locais preferidos para se abrigar são alagados, matas nativas que margeiam ou são próximas às lavouras atacadas e culturas refúgio (eucaliptos, cafezais etc), também marginais ou próximas às lavouras atacadas, onde entra em estado hibernante e desperta no início da safra seguinte, retornando para o algodão pelas bordaduras, se alimentando nos pecíolos cotiledonares e, após nutrir-se, migra para o interior das lavouras que, com o início da fase reprodutiva do algodoeiro, começa a “colonização”. Atualmente, parte do comportamento citado como padrão ainda é verdadeiro, como a procura de abrigo no final da safra, com a queda da temperatura e o “encurtamento” dos dias, e seus locais preferidos continuam sendo alagados, matas nativas e culturas refúgio, onde entram em estado hibernante, despertando na safra seguinte. Mas, sob condições de ambiente alterado, o bicudo do algodoeiro tem como opção as soqueiras e tigueras de algodão das rodovias, estradas e restos culturais de lavouras (Figuras 6 e 7), onde permanece ativo durante um período em que deveria estar hibernante. Nessa atividade, observa-se a manutenção dos adultos, que se alimentam de folhas e pecíolos, e até a multiplicação da praga, quando as plantas de soqueiras e tigueras apresentam estruturas produtivas (botões florais, flores e maçãs).
O agravante ocorre nas lavouras de soja e milho, plantadas em sucessão às lavouras de algodão da safra anterior, com a presença de plantas rebrotadas e tigueras. Quando isso ocorre, as infestações nas lavouras de algodão vizinhas não se dão apenas pelas bordaduras e no período inicial, como no comportamento padrão, mas também nas áreas centrais, devido à presença de adultos nutridos e aptos a voar, e de forma continuada, por conta da presença de estruturas produtivas atacadas que geram novos adultos constantemente.
As atividades de combate ao bicudo exigem pessoas empenhadas e disciplinadas, assim como as definições de método, gestão e atitude. O inseto deve ser respeitado e reconhecido como uma praga altamente prolífera, silenciosa e extremamente habilidosa. Quando existe um controle comunitário ou regional, isso facilita o controle individual de cada produtor.
Numa sequência de ações para o manejo do bicudo nas áreas, propriedades ou regiões atacadas, são sugeridos o armadilhamento para criar histórico de capturas ao longo dos anos, para a determinação dos níveis de risco à próxima safra e para a identificação das rotas dos adultos hibernantes; o plantio isca (Figura 8) (*) nas rotas dos adultos hibernantes (previamente identificadas pelo armadilhamento) para a atratividade e morte dos adultos dispersantes; a época de semeadura, considerando as características das variedades (ciclos vegetativos), mantendo os adultos nas rotas de hibernação já conhecidas; as aplicações em B1 (Figura 9) (**) para promover a “supressão” dos adultos que apresentam o comportamento padrão na fase de colonização; as aplicações intermitentes em bordaduras para manter o “controle” dos adultos dispersantes nas áreas de maior risco da lavoura; a catação de botões florais atacados e caídos ao solo (Figura 10), quando concentrados nas bordaduras ou em reboleiras devidamente identificadas; as baterias em parte da lavoura ou em área total a partir da identificação do primeiro foco (***), desfolhar com inseticidas (****) para a redução de bicudos adultos hibernantes, reduzindo os riscos de altas infestações para a safra seguinte; a colheita associada à época de semeadura, mantendo as rotas já conhecidas; a destruição de restos culturais de maneira adequada e eficiente (Planta morta); a instalação de tubos mata bicudos ou de soqueiras iscas também para a redução de bicudos adultos hibernantes, reduzindo os riscos de altas infestações para a safra seguinte, e a rotação de culturas com controle eficiente de rebrotes e tigueras, também contribuindo com as demais culturas (soja e milho) e garantindo a sustentabilidade da cotonicultura no sistema produtivo.
O plantio isca consiste em antecipar o cultivo de faixas em 15 dias ao plantio da lavoura, instalando essas faixas nas rotas de entrada e saída de adultos, e devem respeitar o período de vazio sanitário. A fase B1 (Figura 9) é altamente atrativa aos adultos hibernantes e que apresentam comportamento padrão. O número de aplicações de inseticidas a partir do B1 será determinado pelo índice de captura das armadilhas. Caso o cotonicultor não tenha armadilhado as áreas destinadas ao plantio, o número de aplicações deverá ser fixado em três aplicações sequenciais com intervalos de três dias.
Os adultos hibernantes com comportamento padrão são mais sensíveis aos inseticidas, portanto, a disciplina na execução desta atividade é extremamente importante e refletirá no manejo das lavouras durante o período de florescimento.
O período de duração e os intervalos das aplicações em caráter de bateria serão determinados pela intensidade e época de dispersão de adultos na lavoura. É extremamente importante desfolhar com inseticidas. Também é fundamental o controle de quais produtos foram utilizados na desfolha para que nas primeiras aplicações da safra seguinte sejam utilizados produtos diferentes.
Produtos fosforados e com forte cheiro, mesmo que pouco tóxicos para mamíferos, deverão ser evitados na desfolha, pois, além de incomodar as pessoas envolvidas no processo de colheita, o odor destes produtos poderá contaminar o leite de animais tratados com o caroço do algodão.
É recomendável que as propriedades criem o Dia do Bicudo, dedicado a uma operação de caça ao inseto ou de danos em plantas de algodão (lavouras ou plantas voluntárias), mobilizando toda a equipe técnica da propriedade.
Vistoriar o botão preferido (Figura 11) (estrutura mais visível na planta, localizada na transição do terço médio para o terço superior).
O nível de ação recomendado para as lavouras atacadas durante o período anterior ao Cut-out é iniciado com aplicações em bateria com intervalo de cinco dias, com a presença de um adulto ou 3% de botões preferidos atacados (OA ou OP).
O nível de ação recomendado para as lavouras atacadas durante o período posterior ao Cut-out é a aplicação em bateria, com intervalo de cinco dias até a desfolha.
- Aplicação esporádica de inseticidas para o controle de percevejos com controle simultâneo ao bicudo em plantas voluntárias na soja.
- Aplicação “obrigatória” de bateria com intervalos de cinco dias durante a senescência da soja.
- Aplicação “obrigatória” de bateria com intervalos de três dias nas bordaduras do algodão durante o período de senescência da soja.
Detectada a presença de reboleiras ou adultos no interior das lavouras de algodão, realizar três aplicações em bateria com intervalo de cinco dias.
Poucas são as opções de produtos e todas consideradas antigas. Malahion e Parathion têm apresentado as melhores performances nos resultados de campo e em ensaios comparativos, todavia, algumas outras opções como metidationa e fipronil apresentam resultados interessantes. Considerando o complexo de pragas no início da lavoura, durante a fase B1, os produtos carbosulfan e acefato, quando intercalados com aplicações específicas, são uma opção interessante para o manejo do bicudo.
Produtos piretroides devem ser direcionados para o período de final de ciclo da lavoura e quando as populações estiverem controladas ou apresentarem baixo risco de danos ou para a pré-colheita, adicionado junto à desfolha.
Alguns produtos considerados anteriormente como eficientes no controle do bicudo, atualmente sofrem críticas e têm sua eficácia bastante questionada, dentre eles a provável perda de eficiência dos produtos piretroides. Provavelmente esses produtos, quando utilizados nas infestações antigas, muito inferiores às infestações atuais, eram rotacionados com produtos mais eficientes e suficientes para manter a praga em níveis aceitáveis de infestação para os padrões da época.
Atualmente, os altos índices populacionais das infestações iniciais, assim como a grande pressão populacional das dispersões continuadas, não são considerados seguros para a utilização destes produtos (de amplo espectro e de controle moderado do bicudo). Vários fatores dão razão para esses questionamentos, e o principal deles é o efeito visual após a aplicação ou os percentuais de infestação crescentes, mesmo após várias aplicações. A reação lógica do produto é o aumento considerável da dose e a redução dos intervalos de aplicação, o que certamente acelera o processo de seleção. Todavia, em aplicações combinadas, observa-se melhora significativa nos controles.
Como sugestão de aplicações para as lavouras infestadas, consideram-se os níveis de infestação, classificando-os como moderados a baixos, médios a altos e altos com dispersão frequente.
Quando os níveis de infestações são classificados de moderados a baixos, as aplicações terrestres convencionais com vazões de 50L/ha a 100L/ha são consideradas eficientes para o “controle” das populações, mas a disciplina no cumprimento das datas predeterminadas para as aplicações é o elemento fundamental para o sucesso da atividade. Quando, devido às condições climáticas de alguns períodos ou aos curtos intervalos, as aplicações terrestres não conseguem cumprir os prazos determinados para as baterias, mesmo em baixas infestações, as aplicações terrestres poderão não ser suficientes.
Quando considerados níveis de infestações de média a alta intensidade, a melhor metodologia para o “controle” do bicudo são as aplicações aéreas com água e baixas vazões de 3L/ha a 10L/ha (sua maior eficiência se deve ao baixo volume da água, que resulta em uma maior concentração do produto na calda, aliado à melhor penetração da calda nas brácteas e flores, que são os pontos-alvo de ataques dos adultos).
Quando se consideram altos níveis de infestações e dispersões frequentes, o método mais apropriado para “controle” e “supressão” das populações de bicudo são as aplicações aéreas com UBV (Ultra Baixo Volume) ou BVO (Baixo Volume Oleoso), com vazões de 2L/ha a 3L/ha, que conferem maior período residual da calda no controle de adultos (recém-eclodidos ou dispersantes). Todavia, as aplicações aéreas com água, se continuadas, são ótimas ferramentas para a “supressão” da praga.
Em resumo, as aplicações terrestres são recomendadas apenas para baixas intensidades de ataque e em qualquer condição de infestações e dispersões do bicudo, o método mais eficiente de controle e supressão são as aplicações aéreas (com água, UBV ou BVO), sendo as aplicações em UBV e BVO as mais indicadas para o controle do bicudo em altas infestações e dispersões constantes das fontes para a lavoura.
Paulo Edimar Saran, Consultor técnico, Solo e Planta Consultoria Técnica, Proprietário da Paulo Saran Treinamentos Técnicos
Artigo publicado na edição 194 da Cultivar Grandes Culturas.
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