Lagarta elasmo na cultura da soja: ataque letal

Capaz de levar plantas à morte a lagarta elasmo gera enormes prejuízos na soja como a necessidade de replantio, redução da densidade populacional e danos à produção. O tratamento de sementes é uma d

07.06.2018 | 20:59 (UTC -3)

Diversos insetos ocorrem durante todo o ciclo da soja, causando danos. Entre os que atacam na fase inicial, se destaca a lagarta elasmo (Elasmo palpus lignosellus), (Zeller, 1848), que pode provocar  a morte das plantas,  com poder de fogo para reduzir a densidade populacional (estande) e prejudicar a produção.

A incidência da broca-do-colo ou lagarta elasmo geralmente é cíclica, mas os surtos em soja têm sido frequentes, principalmente em solos arenosos e em anos com estiagem prolongada, na fase inicial das lavouras. Entretanto, dependendo da severidade da estiagem, atacam generalizadamente todas as variações de textura. Essa praga ocorre também em outras culturas, como milho, feijão e algodão se no momento do plantio houver um período de veranico. Costuma ser frequente em áreas novas de cultivo que estavam sob condições de pastagens degradadas ou nativas.

Na safra 2014/15 ocorreram ataques desse inseto em todas as regiões de Mato Grosso, nas primeiras áreas semeadas, devido à falta de umidade no momento da emergência das plantas, mesmo em regiões como o norte do estado, onde não é comum a incidência de lagarta elasmo por se tratar de área onde as chuvas se iniciam com regularidade. Nessa safra observou-se danos de elasmo e algumas áreas apresentaram necessidade de replantios, em razão da grande extensão atacada, ocasionando morte das plantas.

Geralmente o ataque se dá no inicio da germinação, no entanto quando ocorrem períodos de veranicos prolongados o dano de lagarta elasmo pode ser observado em plantas com estágios mais avançados e, nessa safra, também foi possível verificar o dano no período de janeiro, quando a planta se encontrava em estágio de desenvolvimento V7, com 25 a 30 dias após a emergência devido a estiagem nesse período do ano.

Descrição e Biologia

Possui hábito polífago, alimentando-se de diversas espécies de plantas, como gramíneas e leguminosas, por exemplo.

A lagarta apresenta coloração variando do verde-azulado ao róseo, com listras transversais marrons e cabeça pequena, também marrom. Pode atingir 16mm no máximo. Assim que ataca a planta, a lagarta constrói um abrigo de teia e grãos de areia próximo ao orifício de entrada da planta, nele permanecendo quando não está dentro da galeria. São muito ágeis, quando tocadas pulam incessantemente por alguns segundos, sendo este comportamento uma forma de livrar-se dos inimigos naturais. A pupa se forma no solo, próxima à base da planta e apresenta coloração inicial amarelada ou verde, passando a marrom e, logo antes da emergência do adulto, assume a coloração preta.

O adulto é uma micro-mariposa cinza que mede de 15mm a 23mm de envergadura, as asas são dispostas paralelas à linha do corpo e é muito atraída por focos luminosos. Os ovos são depositados sobre a planta, no solo ou nos restos vegetais da área, como a palhada. A umidade do solo afeta diretamente o comportamento dos adultos na seleção do local para oviposição, a eclosão de lagartas e a mortalidade de lagartas recém-eclodidas.

Diferentes sistemas de cultivos são fatores que também afetam a dinâmica populacional desse inseto. A infestação é grandemente reduzida em plantio direto, quando comparada a que ocorre no sistema de plantio convencional. As áreas queimadas antes do plantio, também, mantêm as infestações maiores, onde além da atratividade sobre os adultos do inseto, a fumaça estimula a oviposição, proporcionando o dobro do número de ovos quando confrontada com a ausência da fumaça (MAGRI, 1998).

Ciclo de vida

A duração média é de 42 dias (ovo = 3 dias; lagarta = 20 dias; crisálida = 7 dias; adulto = 12 dias).

Período de ataque

Começa logo após a germinação da soja, podendo estender-se por 30 a 40 dias. Muitas vezes o inseto já está presente na área antes da instalação da cultura, sendo necessário ter conhecimento de possíveis infestações em lavouras vizinhas e levar em conta a ocorrência de período de estiagem prolongada. Daí a importância de vistoriar a área ou a palhada antes da semeadura.

Danos

Quando pequenas, as lagartas alimentam-se raspando o parênquima foliar. À medida que crescem, perfuram um orifício na planta ao nível do solo construindo aí uma galeria ascendente que vai aumentando de comprimento e largura com o crescimento da lagarta e o consumo de alimento. Na entrada dessa galeria pode ser observado o abrigo formado por detritos ligados entre si por fios de seda secretados pela lagarta, utilizado na movimentação entre as plantas atacadas e também como abrigo na fase de pupa.

As plantas atacadas inicialmente murcham, podendo morrer imediatamente levando a falhas de estande ou sofrer agravamento de danos posteriormente, sob a ação de chuvas, vento ou implementos agrícolas, que tombam as plantas. Frequentemente é uma praga que leva a falhas de estande e, ocasionalmente, obriga a uma nova semeadura nas falhas da lavoura ou na área total.

Na cultura do milho em alguns anos ocorre o dano da lagarta elasmo, causado na região do colo, penetrando em seguida no colmo e fazendo galerias no seu interior, o que provoca o perfilhamento e/ou a morte da planta. 

Controle

Os solos sob sistema de semeadura direta, por geralmente reter mais umidade, têm menores problemas com a praga. Áreas sem coberturas e que sofreram com fogo na entressafra tendem a apresentar maiores danos por favorecer o desenvolvimento das lagartas.

A alta umidade do solo é o principal fator abiótico que pode ser utilizado no manejo de elasmo. Age negativamente em qualquer estágio do ciclo biológico da praga. Porém, a sua importância é maior no início da fase larval, causando alta mortalidade. À medida que a lagarta desenvolve, a mortalidade decresce (VIANA& COSTA, 1992). A umidade elevada do solo também afeta negativamente o comportamento dos adultos na seleção do local para oviposição e na eclosão das lagartas. As mariposas preferem depositar os ovos em solos mais secos. A oviposição é maior em solos secos que em solos mais úmidos.

O tratamento de semente com carbamatos (thiodicarb e carbosulfan), fipronil ou clorantraniliprole em dosagens adequadas, pode ser uma medida que minimiza o problema. Entretanto, o risco de fitotoxicidade é alto, devendo o profissional que recomenda ficar atento quanto ao registro do inseticida para a cultura. Sementes de soja, especialmente as tratadas com carbamatos, devem ser imediatamente semeadas em solo úmido para evitar o agravamento da fitotoxicidade e permitir a adequada emergência de plantas logo após a semeadura. Pulverização de inseticida de boa ação de profundidade como clorpirifós, de preferência feita à noite, em alto volume de calda (400 L/ha a 600 L/ha) sobre as plantas, pode controlar a praga com até 60% de eficiência. Em situações de populações extremamente elevadas da praga, o uso de clorpirifós em pré-plantio incorporado, ou pulverizado no sulco de semeadura (faixa de 0,10 metros no sulco), aumenta a eficácia de controle da praga em relação às pulverizações de parte aérea. O ideal é semear a soja a partir do momento que ocorrer a regularização das chuvas na região, pois o mais efetivo controle da praga é feito pela boa umidade do solo.

Em estudos realizados na safra de soja, com tratamento de sementes, os danos foram mais intensos no início do desenvolvimento das plantas devido à alta pressão de lagartas nesse período e houve diferença entre os produtos utilizados e o número de plantas atacadas foi superior para a área sem tratamento de sementes (testemunha), como também entre os tratamentos realizados (Tabela 1). Para o número de lagartas presentes em cada tratamento não se observou diferença estatística nas avaliações realizadas. Isso se deve a dificuldade de encontrar a lagarta, que se desloca de uma planta para outra durante o ciclo, e nas plantas com sintomas de dano geralmente não se encontram lagartas, pois já migraram para outras plantas.

Tabela 1. Número médio de plantas atacadas por lagarta elasmo e número médio de lagarta elasmo de cada tratamento de semente em soja convencional. Itiquira/MT. Safra 2014/15.

 

7 Dias após a emergência

 

Plantas atacadas1

###p#2

Lagartas1

###p#2

Testemunha

71,75 a

-

3,25 a

-

Fipronil + Piraclostrobina+ Tiofanato metílico (100mL/há)

34,25 bc

52,3

1,75 a

46,2

Tiametoxan (250mL/100kg de sem)

61,00 ab

15,0

2,00 a

38,5

Clorantraniliprole (100mL/100kg de sem)

20,50 c

71,4

0,75 a

76,9

CV %

15,04

-

28,44

-

 

7 Dias após a emergência

 

Plantas atacadas1

###p#2

Lagartas1

###p#2

Testemunha

71,75 a

-

3,25 a

-

Fipronil + Piraclostrobina+ Tiofanato metílico (100mL/há)

34,25 bc

52,3

1,75 a

46,2

Tiametoxan (250mL/100kg de sem)

61,00 ab

15,0

2,00 a

38,5

Clorantraniliprole (100mL/100kg de sem)

20,50 c

71,4

0,75 a

76,9

CV %

15,04

-

28,44

-

1Plantas atacadas e lagartas presentes em 60m2

2 Eficiência de Controle (%)

Observou-se redução de estande nas áreas não tratadas em relação aos tratamentos de sementes realizados, onde os tratamentos com Fipronil e Clorantraniliprole oferecem menores percentuais de perda de estande final em relação ao estande observado aos 7 dias após a emergência, o que indica que o tratamento de sementes oferece proteção às plantas na fase inicial de desenvolvimento à lagarta elasmo e, dentre os tratamentos há diferença de controle. Nessa área, também se observou rendimento inferior para a área não tratada em relação às tratadas, e o tratamento com Clorantraniliprole ofereceu rendimento superior em relação aos demais tratamentos.

 

Tabela 2. Porcentagem de redução de estande final por tratamento de sementes em soja convencional e rendimento (kg/ha). Itiquira/MT. Safra 2014/15.

 

 

 

Rendimento

Kg/ha

Testemunha

62,5%

2294,0 a

Fipronil + Piraclostrobina+ Tiofanato metílico (100mL/há)

20,2%

3246,2 a

Tiametoxan (250mL/100kg de sem)

39,5%

3349,9 a

Clorantraniliprole (100mL/100kg de sem)

15,0%

3469,1 a

CV%

 

9,85

 

 

Rendimento

Kg/ha

Testemunha

62,5%

2294,0 a

Fipronil + Piraclostrobina+ Tiofanato metílico (100mL/há)

20,2%

3246,2 a

Tiametoxan (250mL/100kg de sem)

39,5%

3349,9 a

Clorantraniliprole (100mL/100kg de sem)

15,0%

3469,1 a

CV%

 

9,85

 O artigo foi publicado na edição 190 da Cultivar Grandes Culturas. 


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