O número de Engenheiros Agrônomos que concluem cursos de mestrado e doutorado, no país e exterior, tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Há algum tempo, a grande maioria desses novos cientistas eram absorvidos imediatamente pelo mercado de trabalho, geralmente assumindo cadeiras em universidades públicas ou centros de pesquisas. Atualmente, as vagas disponíveis nestas instituições têm diminuído e as chances de contratação de profissionais recém diplomados em cursos de pós-graduação acompanham essa tendência.
O empreendedorismo de base tecnológica surge como alternativa para que novos talentos transformem os resultados de seus projetos acadêmicos em novas tecnologias voltadas para o agronegócio, um dos setores que mais cresce em nossa economia. Este cenário tem atraído a atenção de muitas agtechs, empresas de tecnologia nascentes no âmbito do agronegócio, as quais geralmente são fundadas por profissionais com perfil qualificado nas áreas de biotecnologia, química, tecnologia da informação, dentre outras.
Porém, apesar da agricultura apresentar terreno fértil para a implantação de inovações, trata-se de um ambiente onde o tempo necessário para a validação de novidades tecnológicas pode desestimular recém mestres e doutores a investir suas carreiras em negócios próprios. Além disso, profissionais egressos dos cursos de pós-graduação geralmente apresentam perfil acadêmico e poucos são aqueles que se pré-dispõem enfrentar os desafios necessários para o gerenciamento de novos negócios.
Transformar o conhecimento científico em oportunidades e negócios inovadores não é apenas uma arte e não acontece por acaso. Para trilhar esse caminho, é preciso colocar em prática uma série de comportamentos específicos tais como a persistência e resiliência, exigência de qualidade e eficiência, comprometimento, busca constante por informações, planejamento e monitoramento sistemáticos, rede de contato e persuasão, independência, autoconfiança, dentre outros. Além disso, estar atento à movimentação da economia e seus possíveis reflexos em cada setor pode ajudar desde a elaboração à execução do planejamento para um novo negócio. Espelhar-se em cases de empreendedores que têm superado diariamente as barreiras impostas pelo meio também ajuda como inspiração e motivação.
Para continuar dando bons frutos, o agronegócio necessita de profissionais com perfil técnico e com capacidade de transformar todo o conhecimento em inovação tangível para o agricultor. Com intuito de estimular o empreendedorismo, novos ecossistemas compostos por diferentes instituições têm motivado o surgimento de startups voltadas ao agronegócio.
Recentemente foi lançado o Vale do Piracicaba/“AgtechValley”, que tem como principal objetivo impulsionar o avanço de novas tecnologias desenvolvidas por empresas inovadoras instaladas na região. Este movimento está sendo apoiado pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP) e Prefeitura Municipal de Piracicaba dentre outras instituições públicas e privadas. Incubadoras, como a ESALQTec, e o Parque Tecnológico de Piracicaba também compõem este cenário, como habitats para inovação, concedendo espaço e auxiliando na capacitação dos futuros empresários para a gestão de negócios e networking, geralmente favorecendo o contato com possíveis investidores e parceiros estratégicos.
Portanto, todos os componentes estão em jogo, basta saber utilizá-los de maneira correta. Com uma ampla visão da realidade é possível colocar em prática boas ideias que atreladas a pesquisas consistentes, possam gerar inovações que facilitem a vida do agricultor e aumentem sua rentabilidade. A integração do conhecimento científico e a capacidade de gestão é fundamental para empreender com sucesso no agronegócio.