Zoneamento agrícola e época de semeadura de trigo
Por Sérgio Ricardo Silva, pesquisador da Embrapa Trigo, e por Sérgio Luiz Gonçalves, pesquisador da Embrapa Soja
A indução de resistência se resume no aproveitamento de mecanismos de proteção inerentes da própria planta e que, uma vez ativados, conferem defesa contra uma ampla variedade de patógenos.
As plantas apresentam barreiras físicas como as tiloses, a cortiça, a pilosidade, entre outras, e também as barreiras bioquímicas representadas pelas proteínas relacionadas com a patogênese (PR-proteínas), espécies reativas de oxigênio, fenóis, alcaloides etc.
Para que o processo de indução de resistência seja ativado, a planta precisa ser previamente tratada com agentes indutores de resistência. Estes indutores simulam a presença do patógeno e disparam na planta a produção de substâncias protetoras que atuam no aumento das defesas físicas e/ou bioquímicas da planta. A ativação destes mecanismos impede ou atrasa o desenvolvimento do patógeno na planta.
Produtos indutores
Indutores de resistência envolvem desde produtos sintéticos e naturais, como extratos de plantas, e até mesmo a infestação da planta por microrganismos.
São considerados indutores de resistência o ácido salicílico (AS), ácido jasmônico (AJ), ácido β-aminibutírico (Baba) acibenzolar-S-metil (ASM).
Atualmente, outras substâncias como quitosana, fosfitos, silicatos e diferentes extratos vegetais têm sido testadas como indutores de resistência em plantas.
Os neonicotinoides são produtos sistêmicos e pertencem a uma classe de inseticidas que tiveram origem a partir da molécula da nicotina. Esta substância do grupo dos alcaloides é produzida naturalmente pela planta como defesa contra a herbivoria.
Aumento de produtividade, nos teores de Ca, N, P, K, Zn e na expressão de PR-proteínas, na tolerância ao estresse, além de incrementos no sistema radicular e na parte aérea das plantas, têm sido descritos em diferentes culturas tratadas com esse grupo de inseticidas.
O cancro cítrico
O cancro cítrico é uma doença causada pela bactéria Xanthomonas citri subsp. citri que afeta a maioria das cultivares comerciais de citros, manifestando-se em folhas, frutos e ramos através do desenvolvimento de lesões necróticas e podendo levar ao declínio geral da planta.
O controle do cancro cítrico nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e na Flórida, EUA, é realizado por meio de programas de manejo integrado para prevenção e controle da doença. Neste programa de manejo integrado estão incluídas a produção de mudas sadias, o plantio de cultivares menos suscetíveis, a instalação de quebra-ventos arbóreos, o controle da larva minadora dos citros (LMC) (Phyllocnistis citrella) e as aplicações regulares de bactericidas cúpricos, que constituem atualmente a base para o controle químico do cancro cítrico.
Contudo, produtos cúpricos apresentam eficiência parcial e desvantagens como a seleção de linhagens de Xcc resistentes ao cobre e a acumulação do metal pesado no solo. Assim, a busca por medidas alternativas ao controle da doença e que possam ser empregadas de forma integrada é muito importante.
Indução em citros
Estudos relacionados com a indução de resistência em citros têm sido desenvolvidos no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) – Londrina, PR, em parceria com a Universidade da Flórida e com o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).
Os primeiros estudos com indutores de resistência em citros conduzidos pelo grupo foram realizados com acibenzolar-S-metil (ASM) e ácido 2,6-dicloroisonicotínico (INA) em porta-enxertos. Estes produtos foram aplicados e, via de regra, apresentaram resultados positivos no controle de cancro cítrico e da mancha bacteriana dos citros sob condições controladas.
Posteriormente, além dos produtos comumente conhecidos como indutores de resistência, inseticidas neonicotinoides começaram também a ser testados como indutores de resistência em citros.
Inicialmente foi testado em casa de vegetação o neonicotinoide imidaclopride (IMI), em plantas de laranja Valência enxertadas sobre limão Cravo. As plantas foram tratadas por rega com diferentes doses de IMI e intervalos de tempo entre o tratamento da planta e a inoculação de folhas suscetíveis com Xcc. As plantas foram inoculadas com auxílio de seringa sem agulha. Além do desenvolvimento das lesões de cancro cítrico foi realizado o acompanhamento do desenvolvimento da bactéria causadora do cancro cítrico no interior da folha. O tratamento das plantas com IMI por rega, além de reduzir a população bacteriana na planta em cerca de 35% e o número de lesões de cancro cítrico em até 60%, ainda alterou as características destas lesões, independentemente da dose e do intervalo de tempo entre o tratamento da planta e a inoculação com a bactéria.
Com base nos resultados promissores apresentados nos estudos com IMI, foram realizados testes com outros neonicotinoides em casa de vegetação. As condições experimentais foram as mesmas do experimento anterior. As plantas foram tratadas com os neonicotinoides tiametoxam (TMX), clotianidina (CLO) e com o ativador ASM. Quando comparadas às plantas-controle, tratadas somente com água, foram observadas reduções no número de lesões de cancro cítrico em torno de 45% em folhas de plantas tratadas com IMI e cerca de 30% para plantas tratadas com TMX e CLO. O tratamento com ASM reduziu cerca de 80% a incidência de lesões de cancro cítrico.
Os resultados positivos obtidos sob condições controladas levaram à instalação de experimentos a campo em áreas de ocorrência endêmica do cancro cítrico, localizadas na região noroeste do estado do Paraná. Os produtos testados foram IMI em aplicação por rega e diretamente no tronco da planta e TMX e ASM aplicados somente por rega. As plantas-controle foram tratadas com água. A avaliação de incidência de cancro cítrico nas plantas foi realizada por meio da contagem de folhas com lesões em ramos suscetíveis. A avaliação foi realizada mensalmente durante um ano. (Figura 1).
A incidência de cancro cítrico foi menor, ao longo do tempo, em plantas tratadas com os neonicotinoides e com o ativador ASM. (Figura 2). O melhor resultado foi obtido com a aplicação de IMI independentemente de a aplicação ter sido realizada no solo ou no tronco da planta.
Os resultados obtidos a campo repetiram os observados sob condições controladas, ou seja, todos os neonicotinoides testados foram capazes de diminuir a incidência de cancro cítrico nas plantas tratadas a campo. Contudo, maior redução na doença foi verificada para plantas tratadas com IMI. (Figura 3).
Os dados obtidos neste estudo a campo confirmam as primeiras informações obtidas sob condições controladas, demonstrando que a resistência em citros pode ser induzida por inseticidas neonicotinoides e, uma vez que a resposta da planta é inespecífica, este tipo de controle pode ser utilizado em programas de manejo para diferentes doenças que afetam as plantas cítricas.
Clique aqui para ler o artigo completo na Cultivar Hortaliças e Frutas edição 77.
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